Amorim. E se corre bem, mister?

Amorim. E se corre bem, mister?


Ruben Amorim chegou, distribuiu sorrisos e calorosos apertos de mão e tornou-se o treinador da moda em Inglaterra. Ainda não começou a treinar, mas o Manchester United já entrou numa dinâmica ganhadora. A Estreia oficial é dia 24, em casa do Ipswich Town.


Ao segundo dia em Manchester, os adeptos do United fizeram de Ruben Amorim um símbolo do clube, quase ao nível dos grandes jogadores red devils. Têm sido dias de euforia por toda a cidade e não só, já que o United é, de longe, o clube com mais adeptos em Inglaterra. A loucura começou com o voo de Beja para o aeroporto Ringway, em Manchester, que foi acompanhado online por mais de 4.000 pessoas! À volta do estádio só se vê a cara de Ruben Amorim em produtos de merchandising não oficial; os cachecóis estão à venda por 15 libras (18 euros) e as t-shirts custam 18 libras (22 euros). É curioso assistir a este fenómeno, quando há poucos meses quase ninguém sabia quem era Amorim. O jovem treinador ainda não falou aos adeptos, mas o seu impacto está a ser tremendo, é mais um exemplo de que o futebol é pura emoção.

Novo desafio
Em março de 2020, Ruben Amorim calou os críticos com uma pergunta simples: «E se corre bem?». Agora, perguntamos nós: e se corre bem mister? Será que o toque de Midas de Amorim chega a Inglaterra? Sabemos como esta história de afetos começou; «quero aquele contexto porque permite-me fazer as coisas à minha maneira. É igualzinho ao Sporting», disse, mas não sabemos quando e como acaba. Uma coisa é certa, os responsáveis do Manchester United acreditam que Ruben Amorim pode trazer de volta os tempos de glória de Sir Alex Ferguson com novas ideias, um discurso descomplexado e o hábito de vencer. «É um dos jovens treinadores mais entusiasmantes do futebol europeu» referiu o clube na mensagem de apresentação, que começou com um «Bem-vindo ao Manchester United» em português.
A referência não podia ser melhor. Cabe agora ao português fazer aquilo que não foi feito nos últimos três anos pelo leviano Erik tem Hag, cujo trabalho quase deitou por terra a história de um dos maiores clubes do mundo. A recente passagem dos neerlandeses pelo comando do Manchester United não deve ter deixado grandes recordações em Old Trafford, já que o interino Ruud van Nistelrooy foi por caminhos que não eram seus – são de Ruben Amorim – e saltou da estrutura técnica antes de uma eventual entrada. Talvez tenha sido a primeira grande decisão do treinador português no novo clube.
As voltas olímpicas ao relvado foram uma manobra de diversão para cair na graça dos adeptos, o seu ‘pecado’ foi afirmar que tinha a ambição de ser treinador principal dos red devils antes de Ruben chegar. O antigo avançado do clube tem todo o direito de querer deixar de ser adjunto, o timing é que foi mal escolhido e mostrou uma ambição demasiado grande para quem fez ainda tão pouco com a braçadeira de treinador. A imprensa inglesa avança que pode ser o próximo técnico do Burnley, que está na segunda divisão inglesa.
Treinar na Premier League, considerado o melhor e o mais mediático campeonato do mundo, é o sonho de qualquer treinador, muitos sonham, mas poucos concretizam. Ruben Amorim tem essa possibilidade aos 39 anos. Vai ser o sétimo português a trabalhar na Premier League – uma era que começou com a chegada de José Mourinho ao Chelsea, em 2004, e continuou com André Villas-Boas, Carlos Carvalhal e Bruno Lage. Esta época tem encontro marcado com outros treinadores da nova geração, caso de Marco Silva (Fulham) e Nuno Espírito Santo (Nottingham Forest).
O Manchester United é um dos grandes do futebol mundial. Conquistou 20 títulos na Premier League, 11 Taças da Inglaterra, foi três vezes campeão europeu, ganhou duas vezes o Mundial de clubes e venceu uma Liga Europa e uma Supertaça europeia. O último grande sucesso foi a conquista de Liga Europa em 2016/17, com José Mourinho. A partir daí, o teatro dos sonhos, como é conhecido Olf Trafford, tornou-se um pesadelo para treinadores e deixou os adeptos em desespero.
Amorim foi recebido no centro de estágio em Carrington pelo CEO Omar Berrada, pelo diretor desportivo Dan Ashworth e pelo diretor técnico Jason Wilcox. Já esta quarta-feira, o clube partilhou imagens do primeiro encontro de Ruben Amorim com os jogadores que não foram convocados para as seleções. Na próxima semana já vai contar com o capitão Bruno Fernandes, Diogo Dalot e restante plantel.
O treinador português vai encontrar um contexto difícil. O Manchester United ocupa neste momento o 13.º lugar com 15 pontos em 11 jogos. Em compensação, a distância para o terceiro lugar, onde está o Chelsea, é apenas de quatro pontos. Nesta aventura inglesa, Ruben conta com os seus habituais adjuntos Carlos Fernandes, Adélio Cândido, Emanuel Ferro e o treinador de guarda-redes Jorge Vital e o cientista do desporto Paulo Barreira. O treinador e os restantes elementos da equipa técnica estão instalados no The Lowry Hotel, local onde José Mourinho viveu quando era técnico do United.
A exigente imprensa inglesa entrou em modo ‘Ruben Amorim’ e aprovou a sua contratação. O sensacionalista Daily Mail chama-lhe ‘The Special One 2.0’, a SkySports escreveu que «há muito tempo se tornou inevitável que Rúben Amorim assumisse um dos maiores cargos na Europa».