Embora oficialmente ninguém queira confirmá-lo, os nomes dos dois principais contendores à sucessão de Rui Moreira à frente dos destinos da Câmara do Porto já são dados como certos nos bastidores de PS e PSD. Manuel Pizarro é cada vez mais certo como a escolha dos socialistas, embora nos estudos encomendados pelo partido para avaliar as probabilidades de sucesso das candidaturas autárquicas, o nome de Pizarro não esteja sozinho como opção para a autarquia da cidade invicta. A verdade é que o próprio nunca escondeu o desejo de suceder a Rui Moreira e o currículo autárquico no Porto, bem como a visibilidade que adquiriu enquanto ministro da Saúde, facilitam o reconhecimento entre os habitantes da capital nortenha.
A seu favor Pizarro tem o facto de ter sido vereador dos assuntos sociais e de se ter tornado na altura muito conhecido sobretudo nos bairros municipais, o que é uma vantagem para quem quer ir a votos. Mas apesar de ser a escolha praticamente certa, Manuel Pizarro não quer deixar os créditos por mãos alheias e tem reunido um coro de vozes partidárias a manifestarem publicamente a sua preferência pelo antigo ministro da Saúde, salientando que não há no partido ninguém com tão bons requisitos para concorrer ao lugar. Muitas destas vozes são militantes de peso que, com declarações várias à comunicação social, têm tentado tornar praticamente inviável qualquer outra escolha da direção do partido.
A importância do Porto para o PSD
Do lado do PSD é reconhecido que o desafio do Porto é talvez o mais importante das próximas autárquicas e, apesar de preferir outras escolhas, Montenegro sabe que não tem muitas escolhas para tentar conseguir uma vitória. Os dois nomes com reais possibilidades de enfrentar o desafio estão ambos comprometidos com o novo ciclo governativo, mas, por serem do Porto (condição essencial para uma candidatura) e por terem reconhecimento nacional, Pedro Duarte e José Pedro Aguiar Branco, parecem ser as duas possíveis opções de sucesso. A escolha do candidato ao Porto deverá portanto exigir mudanças a outros níveis, nomeadamente no Governo, para dar tempo a Pedro Duarte para preparar o terreno. O ministro dos Assuntos Parlamentares deverá assim abandonar o Executivo já no início de 2025, ou ainda antes, depois da aprovação do Orçamento, caso Montenegro escolha esse momento para fazer alguns ajustes, à boleia da substituição de Margarida Blasco.
A recandidatura de Carlos Moedas à Câmara de Lisboa é dada por adquirida quer por sociais-democratas, quer por centristas, mas o anúncio formal ficará para mais tarde.
Ao que o Nascer do SOL apurou, o timing escolhido por Moedas, vai depender da conclusão de algumas obras, que o autarca quer inaugurar antes de anunciar uma recandidatura. Como quase sempre acontece, essas obras estarão atrasadas, pelo que não se prevê um anúncio antes do final da primavera de 2025. Até lá, o atual presidente da câmara da capital tem dois problemas por resolver que dizem respeito à composição das listas. Moedas quer voltar a falar com os liberais para se juntarem à coligação Novos Tempos e, do lado dos centristas, há um problema que não tem solução fácil. Filipe Anacoreta Correia, atual vice-presidente, é o nome do CDS que Moedas quer manter na sua equipa, mas a direção de Nuno Melo não vê com bons olhos a manutenção na câmara de um nome que está afastado da liderança centrista e que vem da direção de Francisco Rodrigues dos Santos.
Disputas internas em Lisboa e no Algarve
Autarquias como Sintra, Mafra e Cascais, as três com autarcas em fim de mandato, têm causado discussões internas nos aparelhos partidários. Se António Mendonça Mendes surge entre os socialistas como o nome consensual para tentar herdar o município governado por Basílio Horta, já entre os sociais-democratas a opção é mais incerta. Marco Almeida, um repetente do PSD à câmara de Sintra, já manifestou vontade de se candidatar, mas no partido há outros cenários que podem passar inclusivamente por uma candidatura de Pedro Santana Lopes.
O ex-líder social democrata chegou também a ser falado para Cascais, mas Nuno Piteira Lopes, número dois de Carlos Carreiras, apressou-se a referendar o seu nome nos orgãos concelhios, assim que percebeu que poderia haver a ameaça de uma outra candidatura. Ao que nos dizem, o caso terá ficado encerrado, até porque Piteira Lopes é também a escolha de Carlos Carreiras.
Mafra é outro município que o PSD quer manter, apesar de Helder Silva já em fim de mandato ter abandonado o município para se candidatar ao Parlamento Europeu. No lugar do autarca ficou o seu número dois, Hugo Luís, que tenciona candidatar-se, mas a opção não é consensual nas estruturas locais, surgindo José Bizarro, atual presidente da Assembleia Municipal, como uma opção de maior consenso no partido.
Em Faro são os socialistas que enfrentam dificuldades na escolha para o sucessor de Rogério Bacalhau. O nome que tem vindo a ser apontado é o de António Pina que atualmente preside ao município de Olhão, mas no PS local há preocupação com o avanço eleitoral do Chega, e os socialistas consideram que o autarca de Olhão não é um nome forte o suficiente para evitar riscos de perda da autarquia.
Ultrapassado o risco de uma nova crise política provocada pelo chumbo do Orçamento do Estado, as estruturas partidárias concentram-se agora no próximo importante desafio eleitoral, as eleições autárquicas de setembro/outubro de 2025.
O desafio eleitoral é visto pelos diretórios partidários como um barómetro essencial, que pode até servir para traçar cenários sobre a duração da atual legislatura.
Um teste à liderança do PS
Pedro Nuno Santos tem nestas eleições um teste determinante à sua liderança, embora ninguém arrisque, para já, prever que as autárquicas possam ditar um afastamento do líder
Luís Montenegro olha para o desafio autárquico como uma sondagem em tempo real à sua governação. Se o resultado final for visto como uma vitória (que não tem que ser necessariamente ditada pelo número de câmaras conquistadas, mas pela sua importância simbólica), o líder do Governo fica mais confortável e, dentro do PSD, esse cenário é interpretado como um seguro de vida para este Executivo minoritário que poderá mesmo cumprir os quatro anos de legislatura.
Para o PCPe para Paulo Raimundo, as autárquicas são olhadas com apreensão. Os comunistas têm vindo a perder paulatinamente o seu peso no poder local ao longo dos últimos atos legislativos. Neste momento há 19 municípios governados pela CDU e se esse é o número mágico a manter em 2025, há já um problema à vista, que é a hipótese da perda da Câmara de Setúbal, o último dos bastiões autárquicos do partido. O risco de o município poder mudar de mãos é real e perder seria uma tragédia para o PCP.
Menor risco corre o CDS, que tem dois presidentes de câmara em fim de mandato, mas que procurará substituir em listas conjuntas com o PSD. As coligações em muitos concelhos permitirão à direção de Nuno Melo não ter grandes dores de cabeça.
O partido de Rui Rocha tem optado por concorrer sozinho e, nas últimas eleições locais, não teve grande sucesso com a estratégia. No próximo congresso este é um dos pontos principais em debate e só depois disso é que a IL poderá vir a entrar em negociações com o PSD para coligações em alguns municípios.
André Ventura e o Chega apostam tudo numa maior implantação autárquica e para isso contam com candidatos repescados a outras forças partidárias, à semelhança do que já fizeram em 2021 e até nas últimas eleições legislativas.