Quando os Quitérios eram os influenciadores  


O cuidado e a seriedade destas duas figuras estão a anos-luz dos chamados influenciadores, que tanto vendem pacotes de batata frita como preservativos ou caldos de galinha.


É um nome incontornável da crítica de vinhos e de gastronomia e nunca me esqueci de uma máxima que tinha, que muito desagradava ao administrador que assinava a nota de despesa: nunca escrevia sobre vinhos que lhe chegavam, gratuitamente, ao jornal, preferindo comprar em diferentes lojas. José Quitério, hoje já reformado, era assim. Quando, humildemente, lhe perguntei a razão de tal opção, a resposta foi rápida e curta: “Ó Rainho, essas garrafas que eles mandam podem ter sido feitas bago a bago, e nunca estarão à venda e podem ser só para os críticos. Eu escrevo sobre os vinhos que as pessoas compram em hipermercados ou em lojas especializadas, não sobre os que chegam aos jornais”.

Quitério seguia o mesmo princípio na crítica gastronómica, chegando a convidar vários amigos, em dias diferentes, para provarem vários pratos e não haver favorecimento do dono do restaurante em análise. Uma crítica positiva lixava a vida aos clientes habituais, que levavam com hordas de leitores do Quitério, mas ajudava, justamente, a casa em questão.

Recordo-me também de Augusto M. Seabra me contar que uma crítica sua positiva sobre um filme significava mais 15 mil espectadores nas salas de cinema. O cuidado e a seriedade destas duas figuras estão a anos-luz dos chamados influenciadores, que tanto vendem pacotes de batata frita como preservativos ou caldos de galinha. Nada contra os famosos influencers – muitos acabam por deixar a profissão original para se dedicarem aos ‘posts’ – que são o melhor retrato dos tempos que vivemos, que fazem lembrar cada vez mais a famosa música dos Táxi, ‘mastiga e deita fora’. Por serem conhecidos ou por terem uma cara laroca conseguem vender tudo.

Faz-me confusão como as pessoas vão atrás de, muitas vezes, uns tontos que se tornaram famosos porque se tornaram famosos num Big Brother qualquer da vida. Ou que são famosos porque aparecem em revistas e por aí fora. Por muito que não se queira, o gosto, de uma forma geral, mudou muito nos últimos tempos. Olhamos para o charme dos atores dos anos 50, para as festas que faziam – mesmo em Portugal, nos anos 90, ainda havia festas a preceito, com onda e loucura – e olhamos para os dias de hoje e não percebemos se estamos num circo, num manicómio ou apenas num lugar onde o mau gosto é generalizado. Que saudades de José Quitério… Mas longa vida também para os influencers, cada um compra o que quer.

Quando os Quitérios eram os influenciadores  


O cuidado e a seriedade destas duas figuras estão a anos-luz dos chamados influenciadores, que tanto vendem pacotes de batata frita como preservativos ou caldos de galinha.


É um nome incontornável da crítica de vinhos e de gastronomia e nunca me esqueci de uma máxima que tinha, que muito desagradava ao administrador que assinava a nota de despesa: nunca escrevia sobre vinhos que lhe chegavam, gratuitamente, ao jornal, preferindo comprar em diferentes lojas. José Quitério, hoje já reformado, era assim. Quando, humildemente, lhe perguntei a razão de tal opção, a resposta foi rápida e curta: “Ó Rainho, essas garrafas que eles mandam podem ter sido feitas bago a bago, e nunca estarão à venda e podem ser só para os críticos. Eu escrevo sobre os vinhos que as pessoas compram em hipermercados ou em lojas especializadas, não sobre os que chegam aos jornais”.

Quitério seguia o mesmo princípio na crítica gastronómica, chegando a convidar vários amigos, em dias diferentes, para provarem vários pratos e não haver favorecimento do dono do restaurante em análise. Uma crítica positiva lixava a vida aos clientes habituais, que levavam com hordas de leitores do Quitério, mas ajudava, justamente, a casa em questão.

Recordo-me também de Augusto M. Seabra me contar que uma crítica sua positiva sobre um filme significava mais 15 mil espectadores nas salas de cinema. O cuidado e a seriedade destas duas figuras estão a anos-luz dos chamados influenciadores, que tanto vendem pacotes de batata frita como preservativos ou caldos de galinha. Nada contra os famosos influencers – muitos acabam por deixar a profissão original para se dedicarem aos ‘posts’ – que são o melhor retrato dos tempos que vivemos, que fazem lembrar cada vez mais a famosa música dos Táxi, ‘mastiga e deita fora’. Por serem conhecidos ou por terem uma cara laroca conseguem vender tudo.

Faz-me confusão como as pessoas vão atrás de, muitas vezes, uns tontos que se tornaram famosos porque se tornaram famosos num Big Brother qualquer da vida. Ou que são famosos porque aparecem em revistas e por aí fora. Por muito que não se queira, o gosto, de uma forma geral, mudou muito nos últimos tempos. Olhamos para o charme dos atores dos anos 50, para as festas que faziam – mesmo em Portugal, nos anos 90, ainda havia festas a preceito, com onda e loucura – e olhamos para os dias de hoje e não percebemos se estamos num circo, num manicómio ou apenas num lugar onde o mau gosto é generalizado. Que saudades de José Quitério… Mas longa vida também para os influencers, cada um compra o que quer.