A sorte dos “Yes Men” na atualidade.


Os debates de hoje têm mais foco na troca de insultos do que na luta retórica de ideias. Comparando isto com os tempos de Kennedy e Nixon ou com as lendárias discussões de Thatcher, percebemos que algo se perdeu.


Vivemos num período da história em que a política se tornou uma sala cheia de ecos. Em vez de vozes críticas e diversificadas, ouvimos um coro uníssono de “muito bem!”, onde quem se atreve a questionar o líder é visto como traidor ou, no mínimo, incómodo. A expressão “yes men” é antiga, mas nunca foi tão relevante para descrever o estado da política contemporânea, tanto a nível internacional como nacional. E, pior que isso, está a moldar as novas gerações de políticos que crescem sem saber que a discordância pode ser a maior forma de lealdade.

Hoje, a política atravessa uma pandemia de algo que ultrapassa o debate de ideias: o medo de discordar, o receio de apresentar alternativas, e o terror de ser marginalizado por pensar de forma diferente. Esta tendência manifesta-se em todos os níveis, desde as estruturas locais e distritais até às cúpulas nacionais. Ao invés de fomentar o confronto saudável de visões, preferimos assistir a um ciclo de palmadinhas nas costas, como se só o conformismo fosse o caminho certo para o sucesso.

Historicamente, grandes líderes sabiam que rodear-se de conselheiros dispostos a criticar era uma forma de se protegerem de erros maiores. John F. Kennedy, por exemplo, é recordado nos livros de história por ter aprendido esta lição após o fracasso da invasão da Baía dos Porcos, onde a falta de críticas internas contribuiu para a má decisão. A partir daí, insistiu em ser rodeado de pessoas que ousassem discordar. Winston Churchill, um mestre da oratória e da liderança em tempos de crise, soube sempre a importância da crítica construtiva, tornando-se, assim, mais forte perante os desafios políticos que viveu. Mesmo Margaret Thatcher, apesar de ser conhecida pelo seu estilo político resoluto, não se escondia ao debate vigoroso e à confrontação de ideias dentro do seu próprio círculo partidário.

No entanto, esta abertura ao debate e à crítica está a desaparecer. Hoje, assistimos ao fenómeno dos “yes men”, em que qualquer voz dissonante é rapidamente silenciada ou amplamente excluída. As pessoas temem sugerir caminhos diferentes, questionar decisões ou apontar falhas. No fundo, o medo é maior do que a lealdade. Isto reflete-se nos corredores da política, mas também nas assembleias de órgãos autárquicos locais, onde os mais jovens rapidamente aprendem que só com palmadinhas nas costas aos senadores locais se progride nas fileiras partidárias. Um erro tremendo. Esta mentalidade não só limita a evolução ideológica e política, como também faz com que os jovens políticos acreditem que criticar é sinónimo de ser inimigo ou adversário. Não é.

Este ambiente de conformidade/resignação torna-se ainda mais evidente nos debates políticos atuais. Olhemos, por exemplo, para os recentes confrontos políticos em várias geografias. Nos Estados Unidos, debates como o de Kamala Harris contra Donald Trump são marcados pela falta de substância e pela agressividade desmedida. Os debates de hoje têm mais foco na troca de insultos do que na luta retórica de ideias. Comparando isto com os tempos de Kennedy e Nixon ou com as lendárias discussões de Thatcher, percebemos que algo se perdeu. A política, que deveria ser uma “arena” para o confronto saudável de ideias, transformou-se num espetáculo deprimente, onde quem fala mais alto parece ter sempre razão neste palco.

Em Portugal, infelizmente, a situação não é muito diferente do que se vê globalmente. Os debates parlamentares têm, frequentemente, uma qualidade que deixa a desejar, e a troca de argumentos profundos foi substituída por soundbites e frases para marcar redes sociais, muitas vezes ocas de conteúdo. Assistimos a uma ascensão de superficialidade, onde a forma domina o conteúdo, e onde a verdadeira troca de ideias foi relegada para segundo plano. Este ambiente, longe de ser propício ao crescimento democrático, prejudica gravemente a saúde da nossa política.

O problema mais grave é que as novas gerações de políticos estão a ser formadas neste ambiente fraco de crescimento. Aprendem desde cedo que a crítica é um caminho perigoso, que o sucesso depende de sorrir e acenar em concordância, mesmo quando se discorda em silêncio. E, desta forma, perpetua-se uma cultura de mediocridade, onde as decisões são tomadas sem o devido escrutínio e onde as ideias novas e disruptivas são abafadas antes mesmo de terem a oportunidade de surgir.

A fase política de estadistas, como recentemente vimos e ouvimos vindo de Barack Obama ou Angela Merkel, que eram capazes de manter discussões com substância, parece estar a desvanecer-se, sendo rapidamente substituída por líderes que preferem slogans a soluções, e confrontos estéreis a compromissos concretos.

E o que se perde com esta cultura dos “yes men”? Perde-se a essência da política.

A política é, por natureza, um espaço de confronto, de debate e de procura de soluções. Quando os líderes se rodeiam de pessoas que só sabem dizer “sim” e “muito bem!”, perdem a capacidade de ver a totalidade do panorama. Confundem a árvore com a totalidade da floresta. Tornam-se cegos às falhas das suas decisões, isolam-se numa bolha de bajulação que, longe de os proteger, os enfraquece.

E isto tem um custo.

O resultado desta falta de abertura à crítica é a solidão. Os políticos que se rodeiam de bajuladores acabam por se isolar da realidade. Quando aparecem crises — e elas surgem sempre —, não têm ninguém ao seu lado que os ajude a enfrentá-las com coragem e visão. A sua falta de treino no confronto de ideias torna-os fracos. Um líder que não ouve críticas é um líder que, inevitavelmente, fracassará.

Portanto, a questão que deixo é esta: estamos a criar uma geração de políticos incapazes de criticar e de aceitar críticas? Se sim, que consequências terá isso para o futuro da nossa democracia?

É hora de repensarmos o nosso caminho e de voltarmos a valorizar a crítica construtiva como uma ferramenta essencial para o progresso. A política não precisa de “yes men” que enfraquecem os gabinetes, as comissões políticas, os órgãos autárquicos locais… A política precisa de pessoas corajosas, capazes de desafiar o status quo e de propor novas soluções.

Como dizia Ronald Reagan, “a liberdade é uma coisa frágil”. E nunca foi tão verdade como hoje. A nossa liberdade política, o nosso direito de criticar e de sermos ouvidos, está a ser corroído por uma cultura de bajulação e de medo. Um silêncio terrível. E se não lutarmos para preservar esse direito de ter liberdade de falar, corremos o risco de perder muito mais do que debates de qualidade.

A sorte dos “Yes Men” na atualidade.


Os debates de hoje têm mais foco na troca de insultos do que na luta retórica de ideias. Comparando isto com os tempos de Kennedy e Nixon ou com as lendárias discussões de Thatcher, percebemos que algo se perdeu.


Vivemos num período da história em que a política se tornou uma sala cheia de ecos. Em vez de vozes críticas e diversificadas, ouvimos um coro uníssono de “muito bem!”, onde quem se atreve a questionar o líder é visto como traidor ou, no mínimo, incómodo. A expressão “yes men” é antiga, mas nunca foi tão relevante para descrever o estado da política contemporânea, tanto a nível internacional como nacional. E, pior que isso, está a moldar as novas gerações de políticos que crescem sem saber que a discordância pode ser a maior forma de lealdade.

Hoje, a política atravessa uma pandemia de algo que ultrapassa o debate de ideias: o medo de discordar, o receio de apresentar alternativas, e o terror de ser marginalizado por pensar de forma diferente. Esta tendência manifesta-se em todos os níveis, desde as estruturas locais e distritais até às cúpulas nacionais. Ao invés de fomentar o confronto saudável de visões, preferimos assistir a um ciclo de palmadinhas nas costas, como se só o conformismo fosse o caminho certo para o sucesso.

Historicamente, grandes líderes sabiam que rodear-se de conselheiros dispostos a criticar era uma forma de se protegerem de erros maiores. John F. Kennedy, por exemplo, é recordado nos livros de história por ter aprendido esta lição após o fracasso da invasão da Baía dos Porcos, onde a falta de críticas internas contribuiu para a má decisão. A partir daí, insistiu em ser rodeado de pessoas que ousassem discordar. Winston Churchill, um mestre da oratória e da liderança em tempos de crise, soube sempre a importância da crítica construtiva, tornando-se, assim, mais forte perante os desafios políticos que viveu. Mesmo Margaret Thatcher, apesar de ser conhecida pelo seu estilo político resoluto, não se escondia ao debate vigoroso e à confrontação de ideias dentro do seu próprio círculo partidário.

No entanto, esta abertura ao debate e à crítica está a desaparecer. Hoje, assistimos ao fenómeno dos “yes men”, em que qualquer voz dissonante é rapidamente silenciada ou amplamente excluída. As pessoas temem sugerir caminhos diferentes, questionar decisões ou apontar falhas. No fundo, o medo é maior do que a lealdade. Isto reflete-se nos corredores da política, mas também nas assembleias de órgãos autárquicos locais, onde os mais jovens rapidamente aprendem que só com palmadinhas nas costas aos senadores locais se progride nas fileiras partidárias. Um erro tremendo. Esta mentalidade não só limita a evolução ideológica e política, como também faz com que os jovens políticos acreditem que criticar é sinónimo de ser inimigo ou adversário. Não é.

Este ambiente de conformidade/resignação torna-se ainda mais evidente nos debates políticos atuais. Olhemos, por exemplo, para os recentes confrontos políticos em várias geografias. Nos Estados Unidos, debates como o de Kamala Harris contra Donald Trump são marcados pela falta de substância e pela agressividade desmedida. Os debates de hoje têm mais foco na troca de insultos do que na luta retórica de ideias. Comparando isto com os tempos de Kennedy e Nixon ou com as lendárias discussões de Thatcher, percebemos que algo se perdeu. A política, que deveria ser uma “arena” para o confronto saudável de ideias, transformou-se num espetáculo deprimente, onde quem fala mais alto parece ter sempre razão neste palco.

Em Portugal, infelizmente, a situação não é muito diferente do que se vê globalmente. Os debates parlamentares têm, frequentemente, uma qualidade que deixa a desejar, e a troca de argumentos profundos foi substituída por soundbites e frases para marcar redes sociais, muitas vezes ocas de conteúdo. Assistimos a uma ascensão de superficialidade, onde a forma domina o conteúdo, e onde a verdadeira troca de ideias foi relegada para segundo plano. Este ambiente, longe de ser propício ao crescimento democrático, prejudica gravemente a saúde da nossa política.

O problema mais grave é que as novas gerações de políticos estão a ser formadas neste ambiente fraco de crescimento. Aprendem desde cedo que a crítica é um caminho perigoso, que o sucesso depende de sorrir e acenar em concordância, mesmo quando se discorda em silêncio. E, desta forma, perpetua-se uma cultura de mediocridade, onde as decisões são tomadas sem o devido escrutínio e onde as ideias novas e disruptivas são abafadas antes mesmo de terem a oportunidade de surgir.

A fase política de estadistas, como recentemente vimos e ouvimos vindo de Barack Obama ou Angela Merkel, que eram capazes de manter discussões com substância, parece estar a desvanecer-se, sendo rapidamente substituída por líderes que preferem slogans a soluções, e confrontos estéreis a compromissos concretos.

E o que se perde com esta cultura dos “yes men”? Perde-se a essência da política.

A política é, por natureza, um espaço de confronto, de debate e de procura de soluções. Quando os líderes se rodeiam de pessoas que só sabem dizer “sim” e “muito bem!”, perdem a capacidade de ver a totalidade do panorama. Confundem a árvore com a totalidade da floresta. Tornam-se cegos às falhas das suas decisões, isolam-se numa bolha de bajulação que, longe de os proteger, os enfraquece.

E isto tem um custo.

O resultado desta falta de abertura à crítica é a solidão. Os políticos que se rodeiam de bajuladores acabam por se isolar da realidade. Quando aparecem crises — e elas surgem sempre —, não têm ninguém ao seu lado que os ajude a enfrentá-las com coragem e visão. A sua falta de treino no confronto de ideias torna-os fracos. Um líder que não ouve críticas é um líder que, inevitavelmente, fracassará.

Portanto, a questão que deixo é esta: estamos a criar uma geração de políticos incapazes de criticar e de aceitar críticas? Se sim, que consequências terá isso para o futuro da nossa democracia?

É hora de repensarmos o nosso caminho e de voltarmos a valorizar a crítica construtiva como uma ferramenta essencial para o progresso. A política não precisa de “yes men” que enfraquecem os gabinetes, as comissões políticas, os órgãos autárquicos locais… A política precisa de pessoas corajosas, capazes de desafiar o status quo e de propor novas soluções.

Como dizia Ronald Reagan, “a liberdade é uma coisa frágil”. E nunca foi tão verdade como hoje. A nossa liberdade política, o nosso direito de criticar e de sermos ouvidos, está a ser corroído por uma cultura de bajulação e de medo. Um silêncio terrível. E se não lutarmos para preservar esse direito de ter liberdade de falar, corremos o risco de perder muito mais do que debates de qualidade.