A Segunda Guerra Mundial deixou a Mercedes numa situação muito delicada, as fábricas tinham sido destruídas e a gama de modelos estava envelhecida. Foi então que os responsáveis da marca alemã criaram o 300 SL Gullwing (asas de gaivota), derivado do carro de corridas W 194, que dominou as 24 Horas Le Mans e a Carrera Panamericana em 1952. Por influência do visionário importador norte-americano Maximilian Hoffman, a Mercedes converteu um fantástico carro de corrida num dos desportivos de estrada mais espetaculares e desejados em todo o mundo. O Mercedes 300 SL Gullwing foi apresentado no Salão de Nova Iorque de 1954 com grande sucesso. A designação é fácil de explicar: o 300 refere-se à cilindrada de 3.0 litros e o SL (Sport Leicht) significa desportivo ligeiro. Essa designação é justificada pela carroçaria construída numa liga de alumínio e magnésio em vez de aço. O 300 SL Gullwing tornou-se famoso pela engenhosa solução de as portas abrirem para cima devido à excessiva altura do chassis na parte lateral. Foi produzido entre 1954 e 1963 e ficou na história como um dos desportivos mais elegantes e com melhores performances; à época era considerado o carro mais rápido do mundo.
O habitáculo era exíguo e tinha um aspeto requintado. A pintura era em prata metalizado, embora houvesse a opção pelo vermelho, azul-escuro e preto a condizer com os estofos em tecido estampado aos quadrados. Apesar de haver essas opções, a maioria dos clientes escolhia estofos em couro preto. O volante inclinava-se para baixo de modo a facilitar a entrada do condutor e a ergonomia era considerada excelente.
Havia muita coisa neste automóvel que vinha da competição. O chassis tubular (pesava 50 kg!) era derivado do modelo W194 e a geometria da suspensão era semelhante à utilizada em pista. Essa mais-valia obrigava a uma condução apurada e limpa que tornava o 300 SL difícil de conduzir para os menos experientes. Estava equipado com um motor de seis cilindros em linha 3.0 com 215 cv – foi o primeiro desportivo com motor a gasolina de injeção direta. Tinha uma caixa manual de quatro velocidades e tração traseira. A velocidade máxima anunciada era de 240 km/h e acelerava de 0 a 100 km/h em 8,8 s. O consumo era igualmente impressionante: 17 l/100 km, para compensar isso tinha um depósito de 100 litros. A imprensa da época só tinha elogios para a criação da Mercedes, que se destacava pela qualidade de construção, mas não só. O comportamento dinâmico, a agilidade e a impressionante aceleração eram os aspetos mais valorizados, ao passo que a direção precisa e direta e a suspensão confirmavam o pedigree desportivo deste modelo.
No salão de Genève de 1957 foi apresentado o 300 SL roadster, com capota em lona. No ano seguinte passou a estar disponível um teto rígido, tipo hardtop, em opção. Converter o coupé num roadster exigiu alterações técnicas significativas, nomeadamente a modificação da estrutura do veículo que foi redimensionada e resenhada para receber portas convencionais. Foram produzidas um total de 3.258 unidades: 1.400 coupés e 1.858 descapotáveis. Existem alguns modelos em Portugal que pertencem a colecionadores particulares. De salientar que nos primeiros três anos de comercialização do Mercedes 300 SL no nosso país venderam-se 18 unidades. Tratando-se de um automóvel de coleção não tem preço, ou melhor, depende do estado de conservação e daquilo que o comprador estiver disposto a pagar, e já foi vendido um 300 SL Gullwing por 6,1 milhões de euros num leilão da RM Sotheby’s.