Só em 2026 o Governo tentará a sorte em eleições, motu proprio, com a apresentação de uma moção de confiança que possa ser derrotada ou com a ajuda do recém-eleito Presidente da República. Em alternativa, poderá então surgir uma moção de censura que junja PS e Chega, os dois partidos políticos que, juntos, têm o número suficiente de Deputados para alcançarem a maioria absoluta.
Antes de 2026 surgirão as candidaturas à Presidência da República e haverá uma novidade de peso.Nunca a República Portuguesa teve uma Presidente, embora a III República tenha testemunhado várias candidaturas femininas: Lurdes Pintassilgo (em 1986, 4ª mais votada na 1ª volta, 418961 votos, 7,38%), Marisa Matias (em 2016, 3ª mais votada, 469814, 10,12% e, em 2021, 5ª mais votada, 165127, 3,96%), Maria de Belém Roseira (em 2016, 4ª mais votada, 196765, 4,24%), Ana Gomes (em 2021, 2ª mais votada, 540823, 12,96%).
Em 2026 é perfeitamente possível que a Presidência da República seja disputada entre duas mulheres. O Secretário-Geral do PSD acabou de anunciar o nome de Leonor Beleza e pelo PS há certamente várias candidatas viáveis. Nas eleições presidenciais o tempo do anúncio da candidatura conta, até para permitir o desligamento formal do partido. Quem anunciar primeiro a candidatura feminina condiciona o adversário a apresentar uma candidata.
Para a actual liderança do PSD uma candidatura feminina tem a enorme vantagem de afastar Passos Coelho. Um anúncio precoce de uma candidata presidencial forte e com o apoio da hierarquia do Partido deve ser o bastante para garantir que o institucionalismo de Passos o faz permanecer como reserva moral para uso em futuros actos eleitorais. Uma candidatura feminina no centro direita poderá afastar uma candidatura expontânea de Gouveia e Melo. Uma candidatura militar já seria estranha, 52 anos depois do 25 de Abril, mais estranha seria se surgisse também como dificultando a eleição da primeira Presidente da República.
A proto-candidata Leonor Beleza ainda não se pronunciou mas a tentação de uma révanche política, tornando-se a Suprema Magistrada da Nação, depois de ter sido vilipendiada enquanto Ministra, é certamente apetecível. E poderá fazer um bonito, anunciando que se candidata a um só mandato, afastando preocupações com as condições físicas óptimas que atormentaram e atormentam outros candidatos e titulares.
Sem Gouveia e Melo e sem um candidato patrocinado pelo Chega, uma candidatura de centro direita pode conseguir a eleição à 1ª volta, como já aconteceu com Cavaco (50,64%) e com Marcelo (52%). Para a candidatura do PS a federação do voto à esquerda logo na primeira volta não é fácil, mas nem o PCP nem o Bloco obtiveram em 2021 resultados competitivos (respectivamente 4,31% e 3,96%) e poderão ser cativados para um frentismo realista. Caso obtenha um bom resultado eleitoral, que não se traduza na eleição, a candidata do PS estará em condições de postular com sucesso ao cargo de Secretária-Geral do PS, mais uma novidade na vida política lusitana.
Para uma candidata do PS a PR/SG as candidaturas autárquicas são uma distracção. Pior só se forem vitoriosas. Muito autarca foi candidato apenas para mostrar serviço ao partido e garantir a manutenção de outras sinecuras. Uma vez eleito, com surpresa, teve de cumprir o mandato e, por vezes, sofrer a re-eleição.