A morte da proximidade


A proximidade é parte de uma sã vivência individual e comunitária, miná-la é destruir as bases da nação. Já aconteceu em diversos pontos do território que perderam serviços de proximidade. Fazê-lo como padrão é um desastre, em especial, na saúde.


Durante séculos, a proximidade foi um dos motes para a ação e as relações humanas, nas suas mais diversas expressões, da circunstancial vizinhança do burgo ou do bairro aos Descobrimentos (digo assim só mesmo para contrariar os puristas das leituras do passado aos valores e olhos do presente).

A digitalização, a desumanização das rotinas e a urbanização litoral das opções políticas, enformadas pela concentração de potencial eleitoral populacional em busca de novas oportunidades, geraram crescentes vagas de afastamento da proximidade às pessoas, aos serviços e às comunidades, que ameaçam os pontos de equilíbrio individuais, a coesão comunitária e o sentido de pertença ao sentido de destino comum.

É claro que há uma parte desse afastamento que é ditado pela gestão do dinheiro e pela falta de organização, mas também por um Estado que se posicionou como sendo forte com os fracos e ineficiente com as necessidades de respostas de novos tempos em função do perfil dos cidadãos, quantas vezes sem uma visão integrada do país, além das alcatifas do poder em Lisboa ou nos outros centros de decisão.

Os bancos fecham balcão de proximidade e cortam nos recursos humanos, emergem lucros chorudos, também alavancados no acerto de dinheiro injetados dos contribuintes e nas taxas pagas pelos clientes, amiúde sujeitos a inversões de papel, como se lhes estivessem a fazer um favor por terem o dinheiro à sua guarda.

Os serviços públicos e os privados seguem em muitos casos a bitola e proliferam sistemas digitais, centrais de atendimento telefónico de longas esperas e digitações de botões em função das necessidades, pré-marcações para tratar qualquer assunto corrente – até obrigações legais – e uma panóplia de soluções impessoais totalmente desajustadas para a população sénior, para quem tem constrangimentos de mobilidade e para o comum dos mortais com mínimos de paciência.

O acesso aos cuidados de saúde em urgência real ou percecionada, pilar fundamental ideia de segurança dos cidadãos nas dinâmicas quotidianas e no nível de literacia das coisas da vida que lhes foi concedida, é colocado em causa por sucessivos anos de desorganização, de desinvestimento, de facilitismos sem compensações e de falta de sentido de perenidade nas opções políticas em função das realidades. O resultado, miserável está à vista, numa espiral disfunção do acesso ao Serviço Nacional de Saúde e na proliferação das respostas privadas, com crescente incapacidade de resposta à pressão geral, mesmo que o cidadão contribuinte pague a duplicar (os impostos e o seguro de saúde). E neste quadro, em que a exigência do Estado com o cidadão é para amanhã, estando em causa a saúde base da vida, relativizam-se as falhas e insuficiências, permitindo-se o primeiro-ministro de sorrisos olímpicos e o presidente da República das verborreias inconsequentes, de anuir com uma projeção de resposta normalizada para o Verão de 2025, enquanto inauguram obras do anterior governo, contestadas pelos atuais protagonistas da saúde.

O país que quer ser moderno, com transições digitais e energéticas, com novas soluções para a gestão das realidades individuais e comunitárias, não pode deixar gangrenar sentimentos de abandono, de discriminação e de alheamento de quem decide em relação aos que fazem parte do todo. Permitir essa porta aberta no sistema de segurança, é dar oportunidade aos extremismos para se afirmarem com soluções populistas, radicais e intolerantes em relação à diferença. Sendo o que foi feito nos últimos anos, por ação e por omissão, resultando em meia centena de espécimes parlamentares representativos, não é aceitável.

É por isso que a proximidade, estando à beira da morte, não pode ser entregue ao seu destino, como se os assuntos pudessem ser suspensos em agosto, diferidos para o próximo orçamento ou projetados para as calendas, sempre com invocação das pesadas heranças do anterior governo.

Não perceber a proximidade ou pelo menos mínimos aceitáveis dela, em função do perfil da população, em especial a mais vulnerável nas circunstâncias e na mobilidade, é não perceber o verdadeiro sentido do serviço público. Que os privados o façam, não estando ao abrigo do usufruto de concessões públicas, é um ato de gestão, mas o Estado e as suas órbitas não podem e não devem fazê-lo. Afastar o acesso aos serviços públicos dos cidadãos é o primeiro passo para negar Abril, logo quando comemoramos 50 anos de um impulso democrático de reposição da liberdade, dos direitos e das garantias de desenvolvimento. Não atacar esta contradição é minar o sistema democrático e o compromisso dos cidadãos com o destino comum. A proximidade é parte de uma sã vivência individual e comunitária, miná-la é destruir as bases da nação. Já aconteceu em diversos pontos do território que perderam serviços de proximidade. Fazê-lo como padrão é um desastre, em especial, na saúde. Precisamos de novas soluções, nas funções do Estado, sem perder um ponto de equilíbrio que confere segurança às vivências: ter acesso de proximidade em tempo útil, quando for necessário, na perceção ou na realidade. É que, como cidadãos, também não nos pedem para fazer triagens nas opções quotidianas dos decisores. Não matem a proximidade, nem agora, nem no futuro. A proximidade é um cimento, sem ela, as bases ficam a descoberto.

NOTAS FINAIS

ALENTEJO, COMO SEMPRE. Resiliente, com as realidades que vão fluindo, abaixo das expectativas de dinâmica económica e de desenvolvimento – as pessoas são menos e têm pouco dinheiro. Não se vislumbram os iluminados ou utópicos que não querem estufas, não querem solar, não querem exportação de animais, não querem nada além do que existe, sem proporem alternativas de vida a quem cá vive.

OS MELHORES JOGOS OLÍMPICOS DE SEMPRE PARA PORTUGAL SÃO POUCO. FAÇA-SE MAIS, JÁ. Para colher é preciso semear, alargar o universo da prática de atividade desportiva, a promoção das modalidades e a geração de condições para que os melhores ambicionem uma participação olímpica sem ter de ser seres superlativos, excecionais, quase sobre-humanos. É para ontem, para colher em Los Angeles.

A morte da proximidade


A proximidade é parte de uma sã vivência individual e comunitária, miná-la é destruir as bases da nação. Já aconteceu em diversos pontos do território que perderam serviços de proximidade. Fazê-lo como padrão é um desastre, em especial, na saúde.


Durante séculos, a proximidade foi um dos motes para a ação e as relações humanas, nas suas mais diversas expressões, da circunstancial vizinhança do burgo ou do bairro aos Descobrimentos (digo assim só mesmo para contrariar os puristas das leituras do passado aos valores e olhos do presente).

A digitalização, a desumanização das rotinas e a urbanização litoral das opções políticas, enformadas pela concentração de potencial eleitoral populacional em busca de novas oportunidades, geraram crescentes vagas de afastamento da proximidade às pessoas, aos serviços e às comunidades, que ameaçam os pontos de equilíbrio individuais, a coesão comunitária e o sentido de pertença ao sentido de destino comum.

É claro que há uma parte desse afastamento que é ditado pela gestão do dinheiro e pela falta de organização, mas também por um Estado que se posicionou como sendo forte com os fracos e ineficiente com as necessidades de respostas de novos tempos em função do perfil dos cidadãos, quantas vezes sem uma visão integrada do país, além das alcatifas do poder em Lisboa ou nos outros centros de decisão.

Os bancos fecham balcão de proximidade e cortam nos recursos humanos, emergem lucros chorudos, também alavancados no acerto de dinheiro injetados dos contribuintes e nas taxas pagas pelos clientes, amiúde sujeitos a inversões de papel, como se lhes estivessem a fazer um favor por terem o dinheiro à sua guarda.

Os serviços públicos e os privados seguem em muitos casos a bitola e proliferam sistemas digitais, centrais de atendimento telefónico de longas esperas e digitações de botões em função das necessidades, pré-marcações para tratar qualquer assunto corrente – até obrigações legais – e uma panóplia de soluções impessoais totalmente desajustadas para a população sénior, para quem tem constrangimentos de mobilidade e para o comum dos mortais com mínimos de paciência.

O acesso aos cuidados de saúde em urgência real ou percecionada, pilar fundamental ideia de segurança dos cidadãos nas dinâmicas quotidianas e no nível de literacia das coisas da vida que lhes foi concedida, é colocado em causa por sucessivos anos de desorganização, de desinvestimento, de facilitismos sem compensações e de falta de sentido de perenidade nas opções políticas em função das realidades. O resultado, miserável está à vista, numa espiral disfunção do acesso ao Serviço Nacional de Saúde e na proliferação das respostas privadas, com crescente incapacidade de resposta à pressão geral, mesmo que o cidadão contribuinte pague a duplicar (os impostos e o seguro de saúde). E neste quadro, em que a exigência do Estado com o cidadão é para amanhã, estando em causa a saúde base da vida, relativizam-se as falhas e insuficiências, permitindo-se o primeiro-ministro de sorrisos olímpicos e o presidente da República das verborreias inconsequentes, de anuir com uma projeção de resposta normalizada para o Verão de 2025, enquanto inauguram obras do anterior governo, contestadas pelos atuais protagonistas da saúde.

O país que quer ser moderno, com transições digitais e energéticas, com novas soluções para a gestão das realidades individuais e comunitárias, não pode deixar gangrenar sentimentos de abandono, de discriminação e de alheamento de quem decide em relação aos que fazem parte do todo. Permitir essa porta aberta no sistema de segurança, é dar oportunidade aos extremismos para se afirmarem com soluções populistas, radicais e intolerantes em relação à diferença. Sendo o que foi feito nos últimos anos, por ação e por omissão, resultando em meia centena de espécimes parlamentares representativos, não é aceitável.

É por isso que a proximidade, estando à beira da morte, não pode ser entregue ao seu destino, como se os assuntos pudessem ser suspensos em agosto, diferidos para o próximo orçamento ou projetados para as calendas, sempre com invocação das pesadas heranças do anterior governo.

Não perceber a proximidade ou pelo menos mínimos aceitáveis dela, em função do perfil da população, em especial a mais vulnerável nas circunstâncias e na mobilidade, é não perceber o verdadeiro sentido do serviço público. Que os privados o façam, não estando ao abrigo do usufruto de concessões públicas, é um ato de gestão, mas o Estado e as suas órbitas não podem e não devem fazê-lo. Afastar o acesso aos serviços públicos dos cidadãos é o primeiro passo para negar Abril, logo quando comemoramos 50 anos de um impulso democrático de reposição da liberdade, dos direitos e das garantias de desenvolvimento. Não atacar esta contradição é minar o sistema democrático e o compromisso dos cidadãos com o destino comum. A proximidade é parte de uma sã vivência individual e comunitária, miná-la é destruir as bases da nação. Já aconteceu em diversos pontos do território que perderam serviços de proximidade. Fazê-lo como padrão é um desastre, em especial, na saúde. Precisamos de novas soluções, nas funções do Estado, sem perder um ponto de equilíbrio que confere segurança às vivências: ter acesso de proximidade em tempo útil, quando for necessário, na perceção ou na realidade. É que, como cidadãos, também não nos pedem para fazer triagens nas opções quotidianas dos decisores. Não matem a proximidade, nem agora, nem no futuro. A proximidade é um cimento, sem ela, as bases ficam a descoberto.

NOTAS FINAIS

ALENTEJO, COMO SEMPRE. Resiliente, com as realidades que vão fluindo, abaixo das expectativas de dinâmica económica e de desenvolvimento – as pessoas são menos e têm pouco dinheiro. Não se vislumbram os iluminados ou utópicos que não querem estufas, não querem solar, não querem exportação de animais, não querem nada além do que existe, sem proporem alternativas de vida a quem cá vive.

OS MELHORES JOGOS OLÍMPICOS DE SEMPRE PARA PORTUGAL SÃO POUCO. FAÇA-SE MAIS, JÁ. Para colher é preciso semear, alargar o universo da prática de atividade desportiva, a promoção das modalidades e a geração de condições para que os melhores ambicionem uma participação olímpica sem ter de ser seres superlativos, excecionais, quase sobre-humanos. É para ontem, para colher em Los Angeles.