O não é sim de Montenegro, por interposta pessoa


Luís Montenegro já conta com o apoio anuente do Chega de Ventura. Podem continuar os jogos e as narrativas, mas depois dos Açores, agora na Madeira, PSD e Chega já fazem parte da mesma solução de governo, entre encolhas e assobios para o ar.


A consagração do mata-mata na política é o triunfo das circunstâncias sobre os valores, a coerência e o sentido que a história foi dando aos líderes, às instituições e às dinâmicas das comunidades.

A pulverização do espectro político determinou a emergência no centro da política da sobrevivência política dos protagonistas, mesmo que isso implique a contradição total com o que era vigente ou com o que sempre foi dito.

Em 2014, quem não ganhou as eleições legislativas tirou da cartola uma solução governativa assente na reposição de direitos e rendimentos, sem pingo de convergência no projeto europeu e na participação na NATO.

Em 2020, seguindo essa doutrina, na Região Autónoma dos Açores, o PSD e o CDS, não tendo ganho as eleições regionais, com o apoio do Chega, acedeu ao poder, sem que o vencedor tivesse sequer sido chamado a tentar formar governo pelo representante da República.

Em 2024, na Região Autónoma da Madeira, quem ganhou sempre, não conseguiu maioria para governar, mas ao invés da prosápia de Luís Montenegro de 24 de setembro de 2023, “Não vamos governar nem a Madeira nem o país com o apoio do Chega”, Miguel Albuquerque contou com o Chega para viabilizar o programa de governo, seguindo-se a provável anuência ao orçamento regional. O Chega na Madeira já é parte da solução de um governo liderado por quem não era admitido, nem nos melhores sonhos de André Ventura. O não de Montenegro é agora sim na Madeira, sendo mais que previsível que o bailinho da Madeira se estenda à República, mais tarde ou mais cedo, entre a procura de uma maioria absoluta pela ação governativa e a contradição com a perentória negação.

Em Portugal como em França, o desafio reconduz-se ao mesmo: a necessidade de responder com senso, sustentação, sentido de justiça e eficácia à necessidade de respostas das pessoas, das comunidades, dos setores e dos territórios, vistos como um todo. As soluções de circunstância podem chegar para assegurar a sobrevivência política de alguns ou até estancar os riscos, mesmo que fundados em expressões democráticas, como aconteceu agora em França, mas é preciso mais para responder ao presente e transformar o futuro. A frente de esquerda impediu a ascensão da extrema-direita ao poder em França e agora consegue a quadratura do círculo de conseguir governar em linha com as expetativas geradas pelo programa eleitoral que conflitua com o projeto europeu? A França, Portugal e a Europa precisam de encontrar novos pontos de equilíbrio que permitam fantásticas mobilizações cívicas não em função do medo ou de impedir a afirmação de ideias perigosas, mas para a consagração de dinâmicas positivas na concretização de respostas sensatas e decentes para o presente e para o futuro. A dimensão do desafio implica compromisso entre os democratas e os moderados para assegurar mínimos de sustentabilidade das opções, que sobrevivam às mudanças de governo e às circunstâncias, sendo os recursos limitados.

De sinais contrários, em Portugal como em França, as propostas políticas vencedoras não têm por agora condições reais de sustentação parlamentar. Podem verbalizar grandes ambições e anunciar muitas medidas, mas há e haverá sempre a necessidade de passar pelo crivo parlamentar em muitas delas para lhes dar poder de concretização que chegue às pessoas. É nesse patamar que se joga a noção da realidade, o sentido de responsabilidade para o compromisso político, além das escolhas para cargos, e o foco na concretização de respostas. É aí que, mais uma vez, se constatará se os “Nãos” são a sério ou mudam em função das circunstâncias. Na Madeira, por interposta pessoa, mesmo respeitando a autonomia, Luís Montenegro já conta com o apoio anuente do Chega de Ventura. Podem continuar os jogos e as narrativas, mas depois dos Açores, agora na Madeira, PSD e Chega já fazem parte da mesma solução de governo, entre encolhas e assobios para o ar.

O “não” foi “sim”! Concordando que uma boa governação é fator de regressão dos populismos e dos extremos, espera-se que o atual exercício seja mais do que um meio para justificar o fim da repulsa enunciada na governação da República. Depois dos acontecimentos de França e do Reino Unido, era mau demais que Portugal tivesse uma deriva negativa no plano nacional. É tempo de compromisso e respostas, cá como em todo o lado, sob pena da esperança se desmoronar em jogos políticos de inconsequência.

NOTAS FINAIS

MAIS UM EUROPEU DE VACA FRIA. O desafio de quem lidera é não se sentar à sombra dos louros alcançados, sujeito aos interesses instalados. O Europeu da Alemanha voltou a ser menos do que se esperava, com os melhores dos melhores. Parece que se projeta na seleção de futebol e na Federação o que é o país: temos a geração mais qualificada de sempre, só não conseguimos ter organização e gerar oportunidades e remunerações adequadas. Triste sina que só depende dos seres humanos. Agora que é normal estar presente nas grandes competições, é preciso mais que a vaca fria.

ESPIRAL DE ABANDONO. Amiúde os cidadãos, qualquer que seja o seu nível de literacia digital, são empurrados para soluções tecnológicas inovadoras que geram novas rotinas, enquanto se desmantelam respostas tradicionais de serviços, para depois serem confrontados com o pagamento do que era gratuito e foi interiorizado nas suas rotinas ou com o abandono porque a solução não é rentável face à procura. Haver 41% de freguesias sem postos de levantamento automático de dinheiro, sem multibanco, é miserável. Sobretudo, depois do que os contribuintes já contribuíram para a banca e das comissões que pagam.

SABER SAIR. O penoso exercício público e mediático de Joe Biden sublinha a importância de se saber sair em política, prestando um péssimo serviço à necessidade de valorizarmos a população sénior e a sua experiência de vida, em linha com o que acontece com sociedades de outras latitudes. É dramático que a Vice-Presidente não se tenha afirmado para ser alternativa e que a família democrata não consiga gerar uma solução de recurso, perante a falta de noção do próprio. É risco para os Estados Unidos, a Europa e o mundo.

O não é sim de Montenegro, por interposta pessoa


Luís Montenegro já conta com o apoio anuente do Chega de Ventura. Podem continuar os jogos e as narrativas, mas depois dos Açores, agora na Madeira, PSD e Chega já fazem parte da mesma solução de governo, entre encolhas e assobios para o ar.


A consagração do mata-mata na política é o triunfo das circunstâncias sobre os valores, a coerência e o sentido que a história foi dando aos líderes, às instituições e às dinâmicas das comunidades.

A pulverização do espectro político determinou a emergência no centro da política da sobrevivência política dos protagonistas, mesmo que isso implique a contradição total com o que era vigente ou com o que sempre foi dito.

Em 2014, quem não ganhou as eleições legislativas tirou da cartola uma solução governativa assente na reposição de direitos e rendimentos, sem pingo de convergência no projeto europeu e na participação na NATO.

Em 2020, seguindo essa doutrina, na Região Autónoma dos Açores, o PSD e o CDS, não tendo ganho as eleições regionais, com o apoio do Chega, acedeu ao poder, sem que o vencedor tivesse sequer sido chamado a tentar formar governo pelo representante da República.

Em 2024, na Região Autónoma da Madeira, quem ganhou sempre, não conseguiu maioria para governar, mas ao invés da prosápia de Luís Montenegro de 24 de setembro de 2023, “Não vamos governar nem a Madeira nem o país com o apoio do Chega”, Miguel Albuquerque contou com o Chega para viabilizar o programa de governo, seguindo-se a provável anuência ao orçamento regional. O Chega na Madeira já é parte da solução de um governo liderado por quem não era admitido, nem nos melhores sonhos de André Ventura. O não de Montenegro é agora sim na Madeira, sendo mais que previsível que o bailinho da Madeira se estenda à República, mais tarde ou mais cedo, entre a procura de uma maioria absoluta pela ação governativa e a contradição com a perentória negação.

Em Portugal como em França, o desafio reconduz-se ao mesmo: a necessidade de responder com senso, sustentação, sentido de justiça e eficácia à necessidade de respostas das pessoas, das comunidades, dos setores e dos territórios, vistos como um todo. As soluções de circunstância podem chegar para assegurar a sobrevivência política de alguns ou até estancar os riscos, mesmo que fundados em expressões democráticas, como aconteceu agora em França, mas é preciso mais para responder ao presente e transformar o futuro. A frente de esquerda impediu a ascensão da extrema-direita ao poder em França e agora consegue a quadratura do círculo de conseguir governar em linha com as expetativas geradas pelo programa eleitoral que conflitua com o projeto europeu? A França, Portugal e a Europa precisam de encontrar novos pontos de equilíbrio que permitam fantásticas mobilizações cívicas não em função do medo ou de impedir a afirmação de ideias perigosas, mas para a consagração de dinâmicas positivas na concretização de respostas sensatas e decentes para o presente e para o futuro. A dimensão do desafio implica compromisso entre os democratas e os moderados para assegurar mínimos de sustentabilidade das opções, que sobrevivam às mudanças de governo e às circunstâncias, sendo os recursos limitados.

De sinais contrários, em Portugal como em França, as propostas políticas vencedoras não têm por agora condições reais de sustentação parlamentar. Podem verbalizar grandes ambições e anunciar muitas medidas, mas há e haverá sempre a necessidade de passar pelo crivo parlamentar em muitas delas para lhes dar poder de concretização que chegue às pessoas. É nesse patamar que se joga a noção da realidade, o sentido de responsabilidade para o compromisso político, além das escolhas para cargos, e o foco na concretização de respostas. É aí que, mais uma vez, se constatará se os “Nãos” são a sério ou mudam em função das circunstâncias. Na Madeira, por interposta pessoa, mesmo respeitando a autonomia, Luís Montenegro já conta com o apoio anuente do Chega de Ventura. Podem continuar os jogos e as narrativas, mas depois dos Açores, agora na Madeira, PSD e Chega já fazem parte da mesma solução de governo, entre encolhas e assobios para o ar.

O “não” foi “sim”! Concordando que uma boa governação é fator de regressão dos populismos e dos extremos, espera-se que o atual exercício seja mais do que um meio para justificar o fim da repulsa enunciada na governação da República. Depois dos acontecimentos de França e do Reino Unido, era mau demais que Portugal tivesse uma deriva negativa no plano nacional. É tempo de compromisso e respostas, cá como em todo o lado, sob pena da esperança se desmoronar em jogos políticos de inconsequência.

NOTAS FINAIS

MAIS UM EUROPEU DE VACA FRIA. O desafio de quem lidera é não se sentar à sombra dos louros alcançados, sujeito aos interesses instalados. O Europeu da Alemanha voltou a ser menos do que se esperava, com os melhores dos melhores. Parece que se projeta na seleção de futebol e na Federação o que é o país: temos a geração mais qualificada de sempre, só não conseguimos ter organização e gerar oportunidades e remunerações adequadas. Triste sina que só depende dos seres humanos. Agora que é normal estar presente nas grandes competições, é preciso mais que a vaca fria.

ESPIRAL DE ABANDONO. Amiúde os cidadãos, qualquer que seja o seu nível de literacia digital, são empurrados para soluções tecnológicas inovadoras que geram novas rotinas, enquanto se desmantelam respostas tradicionais de serviços, para depois serem confrontados com o pagamento do que era gratuito e foi interiorizado nas suas rotinas ou com o abandono porque a solução não é rentável face à procura. Haver 41% de freguesias sem postos de levantamento automático de dinheiro, sem multibanco, é miserável. Sobretudo, depois do que os contribuintes já contribuíram para a banca e das comissões que pagam.

SABER SAIR. O penoso exercício público e mediático de Joe Biden sublinha a importância de se saber sair em política, prestando um péssimo serviço à necessidade de valorizarmos a população sénior e a sua experiência de vida, em linha com o que acontece com sociedades de outras latitudes. É dramático que a Vice-Presidente não se tenha afirmado para ser alternativa e que a família democrata não consiga gerar uma solução de recurso, perante a falta de noção do próprio. É risco para os Estados Unidos, a Europa e o mundo.