A menos de um mês de ter início, no Allianz Arena de Munique, a 17ª edição da prova que ganhou definitivamente o nome de Campeonato da Europa, as perguntas acumulam-se: de que será capaz a Alemanha, anfitriã, depois de todos os resultados desastrosos que vem acumulando pelo menos nos últimos três anos?; que lugar caberá a um Portugal que teve a mais fácil fase de apuramento de todos os tempos?; quais os nomes que podemos apontar como favoritos?;_a França, presente nas duas últimas finais do_Campeonato do Mundo?; a Itália, atual campeã da Europa?; a Inglaterra, que vem crescendo a olhos vistos no panorama internacional?; a Espanha renovada, rejuvenescida, que apesar de tudo lança sobre os ombros dos seus meninos a responsabilidade dos resultados? Sim, para já, e antes que vejamos como correm os primeiros jogos, este é o Europeu de todas as dúvidas. Quem estará, sorrateiro, à espera da queda dos gigantes para se fazer surpresa: a Croácia, que nos tem oferecido momentos de futebol encantador?; a Dinamarca que, não por acaso, tratou de fazer a vida negra a muitos favoritos nas últimas grandes competições?; a Holanda, que é sempre a Holanda, às vezes fraca, às vezes forte, mas de qualidade indiscutível? E Portugal? Sim, Portugal, a Equipa-de-Todos-Nós, como lhe chamou em tempos de antanho o grande Ricardo Ornellas, que papel caberá à Seleção Nacional que, após a vitória mágica de Saint-Denis, frente à França, na final de 2016, tem teimado em desiludir-nos com prestações medíocres e eliminações evitáveis em todas as competições que se seguiram?
Para já não nos podemos queixar da sorte ao sermos colocados num grupo com Turquia, República Checa e Geórgia. Todos eles adversários que conhecemos bem e estamos habituados a vencer, se pudermos esquecer aquele final de tarde bisonho na bisonha Birmingham quando um tal de Poborski bateu Vítor Baía com um truque de chapéu e nos afastou das meias finais do Euro-96. Sabemos que os dois primeiros se apuram diretamente para a fase de eliminatórias e que até o terceiro classificado pode ter uma hipótese de continuar em prova. E aí, a memória ilumina-se em vez de cair na penumbra, porque também aconteceu o mesmo no Euro-2016, apurados que fomos apesar de terceiros no Grupo F, com três jogos e três empates, deixando Hungria e Islândia na nossa frente. Isso não nos impediu de sermos, pela primeira vez, vencedores da Henri Delaunay. Dir-me-ão: a História não se repete! Discordo: a História pode repetir-se; a nossa vida é que não!
Dia 18, em Leipzig
Daqui a um mês: dia 18 de Junho, em Leipzig, cidade estreia para a equipa nacional, agora conduzida por um espanhol, Roberto Martínez, que no último Europeu nos eliminou comandando a Bélgica, num daqueles jogos tristes, tristes como os poemas de António Nobre, numa Sevilha que fervia. No antigo Zentralstadion, agora convenientemente chamado de_Red Bull Arena para atrair o patrocínio, apenas Leipzig Stadium por imposição da UEFA que tem os seus próprio patrocinadores, pela 21h00 locais, Portugal defronta a República Checa já depois de saber o resultado do Turquia-Geórgia, que tem lugar em Dortmund. Ficaremos a perceber ao que realmente vamos? Desculpem-me mas nunca consegui olhar para o futebol com artes adivinhatórias e sinto que, a este Portugal de Martínez, faltam grandes desafios para percebermos o que realmente vale. Não participo no coro daqueles que cantam hossanas à melhor geração de sempre do futebol português porque, sinceramente, não é isso que vejo. O que vejo é alguns jogadores com categoria, na sua maioria longe dos maiores clubes do mundo, se excetuarmos os do City, e várias fragilidades nos processos defensivos. A Leipzig, segue-se Dortmund, com a Turquia (dia 22), e Gelsenkirchen – mágico para nós há 18 anos, no Mundial de 2006 – com a Geórgia (dia 26). Algo me parece tão claro e tão límpido como os olhos de Elizabeth Taylor: se com estes adversários não conseguirmos seguir em frente, a presença de Portugal não será apenas infeliz, será mazomba. «Ai, Portugal, Portugal/Enquanto ficares à espera/Ninguém te pode ajudar», canta o Jorge Palma. Não, não é altura para ficarmos à espera. É aproveitar o vento que nos assopra nas velas e navegar, navegar…