Padre suspeito de abusos sexuais afastado pela Arquidiocese de Braga

Padre suspeito de abusos sexuais afastado pela Arquidiocese de Braga


Constavam oito suspeitos na lista da Arquidiocese, três já tinham morrido, um já tinha sido suspenso e outro foi agora afastado preventivamente. Estes dois casos dizem respeito a denúncias reveladas pelo Nascer do Sol em setembro do ano passado.


A lista de padres suspeitos de abusos sexuais, elaborada pela Comissão Independente, tinha oito nomes da Arquidiocese de Braga, dos quais três morreram e um foi afastado de funções.

Um dos nomes “diz respeito a um sacerdote que, depois de um diálogo com o Senhor Arcebispo, foi afastado preventivamente do exercício público do ministério sacerdotal”, informa a Arquidiocese de Braga, através de comunicado.

Dos restantes quatro suspeitos, "um não corresponde a nenhum sacerdote da Arquidiocese de Braga, nem se encontra nos arquivos da Arquidiocese qualquer referência a seu respeito; um foi "alvo de um processo civil, tendo sido absolvido"; "um corresponde a um sacerdote que foi alvo de um processo canónico por abuso sexual de menores já concluído e que resultou na aplicação de medidas disciplinares em vigor"; e um outro "corresponde a um agente pastoral, que por falta de elementos de identificação não foi ainda possível identificar, estando em curso diligências nesse sentido”, lê-se na mesma nota.

Sobre o padre afastado, a Arquidiocese de Braga faz questão de sublinhar que "a decisão cautelar de afastar preventivamente o sacerdote em causa não prejudica o princípio da presunção de inocência", mas sim da aplicação das “linhas orientadoras de ação da Igreja em matéria de abusos sexuais de menores, em conformidade com o Vade-mécum sobre procedimentos relativos a casos de abuso sexual de menores cometidos por clérigos".

Sublinhe-se que o caso dos dois sacerdotes, um afastado e outro proibido preventivamente do “exercício público do ministério sacerdotal” foram revelados pelo Nascer do SOL em setembro do ano passado e têm na sua origem denúncias feitas por vítimas das dioceses de Guimarães e Famalicão à Comissão Independente liderada por Pedro Strecht.

No caso de Famalicão, trata-se de Fernando Sousa e Silva, ex-cónego de Joane, que, durante décadas, terá abusado de dezenas de crianças no confessionário. Estes abusos estão a ser denunciados, pelo menos, desde 2003, mas D. Jorge Ortiga, que foi arcebispo de Braga entre 1999 e 2021, ignorou os alertas.

Apenas em 2019, perante uma nova denúncia e tendo já em vigor as novas orientações do Papa Francisco, o caso foi julgado em tribunal eclesiástico e chegou ao Vaticano, tendo o cónego sido proibido de ministrar missa e fazer confissões. Contudo, continuou como padre na diocese de Braga.

O pedido de desculpas chegou recentemente, depois de uma investigação do Nascer do SOL ter sido publicada em setembro do ano passado e o atual arcebispo de Braga – D. José Cordeiro – se ter deslocado à aldeia para pedir perdão às vítimas.

O segundo sacerdote é de Guimarães. Ainda está no ativo. A denúncia foi reportada por Olga (nome fictício), em 2019, à arquidiocese de Braga, reiterando recentemente à Comissão Independente abusos sexuais referentes aos seus filhos menores.

Mas, como já tinha acontecido anteriormente com o cónego Fernando, o arcebispo nada fez. Apenas três anos depois, a dias de ser substituído por D. José Cordeiro, chamou a denunciante para lhe fazer um pedido: caso fosse questionada que dissesse que este sempre a tinha apoiado.

No entanto, no comunicado de hoje, a Arquidiocese de Braga faz questão de reafirmar o seu "compromisso em acolher e escutar as vítimas, tratando todos os casos com critérios inequívocos de transparência e justiça, contribuindo assim para a máxima reparação possível do mal sofrido. Sabemos que pedir perdão não é suficiente. São-nos pedidas ações concretas. Neste sentido, uma equipa de profissionais está disponível para oferecer apoio psicológico, psiquiátrico, jurídico e espiritual a todas as vítimas que solicitem este serviço. Comprometemo-nos com a promoção de uma cultura de cuidado e faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para prevenir futuros casos de abuso", acrescenta a Arquidiocese.

Por último, deixa o apelo “a todos os que possam ter sido vítimas de qualquer espécie de abuso sexual em alguma paróquia ou instituição da Arquidiocese de Braga, e que ainda não deram voz ao seu silêncio, que contactem a Comissão de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis (comissao.menores@arquidiocese-braga.pt ou 913 596 668). Estamos disponíveis para escutar e acolher”.