Rui Rocha, o novo líder do Iniciativa Liberal, já está sob pressão para levar a cabo a revisão estatutária do partido. Ao que o Nascer do SOL apurou, em cima da mesa está a eliminação das inerências, manter a eleição dos órgãos por votação universal e aumentar a transparência.
O Nascer do SOL sabe que os estatutos, quando foram feitos, tinham como objetivo serem simples, que fossem aprovados pelo Tribunal Constitucional sem problemas e que defendessem o partido – que, na altura, tinha poucas pessoas – de qualquer tipo de invasão externa. Aliás, a questão das inerências surgiu para que não houvesse o risco de alguém dominar o Conselho Nacional e desvirtuar a estratégia do partido.
Recorde-se que o Conselho Nacional – órgão responsável por acompanhar e orientar a estratégia política do partido – é formado por 50 conselheiros, mas depois tem um conjunto de representantes de outros órgãos também presentes nas reuniões por inerência. Um desses casos é a Comissão Executiva, que também tem direito de voto, e a ideia é eliminar essa possibilidade. Também o presidente do conselho de jurisdição e o de fiscalização estão presentes por inerência mas apenas como observadores.
O novo líder, ainda no seu discurso de vitória, prometeu uma «transformação rápida» para um partido que tem de estar «pronto», garantindo ter ouvido com atenção as críticas dos militantes que foram feitas durante a campanha interna e durante a própria convenção. Mas, tal como o i já avançou, a tarefa do novo líder do IL não será fácil e terá mesmo de levar a cabo essas mudanças. Isto porque Rui Rocha ganhou com 51,7% dos votos, enquanto as duas listas de oposição captaram 48,3% – Carla Castro com 44% e José Cardoso com 4,3%.
Também no Conselho Nacional, a lista de Mariana Leitão, a única alinhada com a anterior comissão executiva do partido e que contava com o apoio de Rui Rocha, conseguiu eleger 24 conselheiros de um total de 50, enquanto a do fundador Miguel Ferreira da Silva conseguiu 14. Ou seja, não obteve a maioria dos votos, o que levará à criação de consensos, nomeadamente com a lista T. Já que a lista B, liderada por Nuno Simões de Melo, apoiante da candidata derrotada Carla Castro, conseguiu apenas quatro mandatos. A lista D, liderada por Rui Malheiro, conseguiu quatro mandatos e a lista S, com Márcio Oliveira Santos a encabeçar, conseguiu também quatro mandatos.
A par destes números há que contar ainda com algumas das moções aprovadas, entre elas a moção de «maior transparência na IL», de Pedro Simões, que se foca na questão da transparência interna do partido e que também recebeu luz verde por parte dos militantes. Aliás, este foi um dos grandes temas de discussão durante a campanha interna.
Rui Rocha garantiu ainda que todos têm lugar nesta nova etapa no partido e, quanto à sua principal adversária, Carla Castro, assegurou que terá o mesmo papel que tem tido até agora. Um clima de paz agora pretendido que esteve bem longe disso durante a campanha interna. O nosso jornal sabe que o ambiente de crispação entre os dois foi ganhando intensidade à medida que o dia das eleições se ia aproximando e, mesmo depois das eleições, as relações estão longe de serem pacíficas.
Aliás, a candidata teceu duras críticas durante a convenção, afirmando mesmo que queria um partido sem «barões e sem caciques» e onde «os membros são livres». E já depois de saber que tinha sido derrotada defendeu que o seu resultado prova que a candidatura da sua lista «era precisa». Mas prometeu que a oposição não será interna: «A minha oposição, de uma forma muito clara, é ao Governo e ao estado de estagnação do país. Qualquer que fosse o resultado temos que estar unidos». E em relação ao novo líder garantiu que poderá contar consigo, afirmando que vai «continuar a trabalhar de forma construtiva e com soluções».
Ascensão fulminante
De Braga, Rui Rocha entrou no Iniciativa Liberal em agosto de 2020 e é deputado há menos de um ano. O quarto presidente do partido foi o primeiro candidato a avançar para as eleições e recebeu de imediato o apoio do então presidente, João Cotrim Figueiredo. Durante a campanha admitiu ser uma «uma pessoa combativa», que gosta «do combate, do debate, gosta da evidência, da discussão e com uma ambição muito grande», como afirmou em entrevista à Lusa.
Trabalhou nas equipas que fizeram a comunicação da campanha do antigo candidato presidencial Tiago Mayan Gonçalves – que nestas eleições deu o seu apoio a Carla Castro – e da campanha às legislativas.
Agora eleito, promete combater o estado do país.
Rui Rocha afirmou que Portugal «não aguenta» mais pobreza e estagnação. «A IL é o único partido que assume que quer uma sociedade civil forte, uma reforma de Estado, liberdade de ser. Não admitimos outra coisa». E lamentou o estado em que a Saúde e a Educação estão.
Na sua moção estratégica, admitia um cenário de eleições antecipadas e defendeu que o partido tem de estar preparado, deixando algumas linhas orientadoras: «Somos liberais em toda a linha, rejeitamos populismos, afastamo-nos dos extremos e recusamos a instrumentalização do medo e da frustração para obter ganhos políticos», traçando como objetivos eleitorais para os próximos dois anos eleger nas europeias, assim como na Madeira e criar um grupo parlamentar nos Açores.