A tensão entre alguns atletas e a Federação Portuguesa de Judo parece estar longe de ficar resolvida. A judoca Telma Monteiro revelou, esta segunda-feira, que a sua treinadora foi despedida por e-mail, um dia antes de viajar para competição, e que os atletas que criticaram o presidente, Jorge Fernandes, numa carta aberta estão a ser ameaçados, além de que estes não têm recebido qualquer apoio financeiro.
“Quando me perguntam como vão as coisas com a federação… vão assim: Amanhã vou viajar para a competição a minha primeira depois da cirurgia ao joelho. Hoje a federação despediu a treinadora Ana Hormigo, por email, no dia antes da equipa viajar! Sem a equipa ou a própria saber de forma antecipada. Em semana de competição de apuramento olímpico!”, começou por dizer Telma Monteiro, que recorreu à rede social Instagram para expor as atuais circunstâncias.
Segundo a atleta de 36 anos, o presidente da federação informou, este domingo em assembleia, que “os atletas que escreveram a carta aberta há uns meses, terão esta semana para se retratarem ou serão levados a tribunal”.
Já no sábado, os treinadores descobriram, em reunião de planeamento, que Telma Monteiro e outros atletas, não vão ter acesso à verba do projeto olímpico, gerido pela federação da modalidade, adiantou ainda a judoca.
“De salientar que não compito nem faço estágios desde julho! E que este ano não fiz mais, pelo contrário, fiz menos do que é normal fazer!”, sublinhou Telma Monteiro, ao revelar que, este ano, já pagou estágios internacionais e despesas relativas à última cirurgia.
“Despesas que o seguro que a federação me mandou acionar não cobriu (mandei um mail há uma semana sobre o assunto, não me responderam) e agora pelo que percebi, se quiser cumprir o meu plano desportivo por inteiro, vou ter de pagar também”, apontou.
A atleta com um largo palmarés competitivo disse que a federação demonstra com estas ações “o pouco respeito que tem pelos atletas, pelas pessoas” e o “tipo de gestão desportiva exerce”. “Já nem somos só nós a dizer, são as ações a demonstrar que tudo o que dizemos é verdade!!”, frisou, ao acrescentar que vai representar Portugal “com a mesma vontade e orgulho, mesmo que tenha de pagar para isso”.
Por último, na sua publicação, Telma Monteiro deixou uma mensagem para a treinadora Ana Hormigo: “Como atleta quero, de alguma forma, continuar a ter a tua presença nas competições e espero que as entidades responsáveis intervenham nesse sentido. Como amiga digo-te que fico feliz que não tenhas mais de lidar diretamente com essa instituição. Que sorte a tua!”.
Os problemas entre alguns atletas e o presidente da federação foram divulgados no passado agosto, quando foi partilhada e assinada uma carta por sete judocas – Telma Monteiro, Catarina Costa, Bárbara Timo, Rochele Nunes, Patrícia Sampaio, Anri Egutidze e Rodrigo Lopes –, na qual criticam a conduta de Jorge Fernandes na liderança da federação, debatendo-se com a "falta de compreensão, de flexibilidade e sensibilidade" do dirigente.
Na carta, os atletas disseram que o presidente penaliza os judocas caso não participarem nos estágios em Coimbra e trata de forma distinta os atletas de outras origens.
Depois de o documento ser notícia, o presidente reagiu às criticas dos atletas, ao considerar que apenas tem conflitos com atletas e treinadores do Benfica, sendo que cinco dos sete atletas são do clube da Luz. Não obstante, o dirigente não reconheceu o grupo como uma representação da comunidade desportiva. Também rejeitou todas as acusações quanto ao local de estágios, contestado pelos atletas, ao notar que as “normas são para se cumprir”.
Para atenuar as tensões entre as duas partes, o Governo interviu, reunindo-se naquele mês com os judocas em questão, o presidente da Federação de Judo e o presidente do Comité Olímpico de Portugal, para "salvaguardar" a preparação para os Jogos Olímpicos de Paris, em 2024.