Uvalde. Desespero e fúria marcam a visita de Biden

Uvalde. Desespero e fúria marcam a visita de Biden


O Presidente prometeu maior controlo de armas, mas republicanos estão decididos a travá-lo. Incluindo o governador do Texas, Greg Abbott, a quem se exigiu que tivesse “vergonha”.


Enquanto Joe Biden visitava a escola primária de Uvalde, palco de um massacre que fez 21 mortos, incluindo 19 crianças, multiplicavam-se os apelos desesperados a maior controlo da venda e posse de armamento nos Estados Unidos. Mas ninguém tem grandes esperanças, dado o poder de associações pró-armas sobretudo a National Rifle Association of America (NRA), que todos os anos consegue reunir mais fundos que os seus adversários. Provavelmente, verão a pressão para restrições ao armamento aumentar em reação ao massacre. “E, como aconteceu tantas vezes antes, o forte apoio público a controlo de armas irá desaparecer com a nossa memória do tiroteio”, lê-se num relatório da FiveThirtyEight.

No entanto, por agora, até no Texas, conhecido como um dos estados mais entusiásticos quanto ao porte de arma, essa devoção tem sido testada. “Faça algo”, gritou-se na multidão quando o Presidente e a primeira-dama, Jill Biden, saíam de uma missa em memória das vítimas numa igreja católica de Uvalde. “Faremos”, prometeu Biden, mas não é tarefa fácil, com tantos congressistas, senadores ou governadores republicanos decididos a travarem quaisquer reformas.

Já o governador do Texas, Greg Abbott, prometeu maior segurança nas escolas, que para os republicanos significa algo como detetores de metal à porta de estabelecimentos de ensino, polícias, seguranças ou até professores armados. Mas, quando ao controlo do porte de armas, o governador do Texas tem recusado apertar as regras, dando como exemplo Chicago, que proibiu a venda de armas automáticas, sendo que o estado onde fica esta cidade, no Illinois exige licença e uma verificação de antecedentes para a compra de armamento.

“Há mais pessoas baleadas em qualquer fim de semana em Chicago do que há em escolas no Texas”, justificou-se Abbott. Sendo que os seus críticos têm lembrado que as regras pouco rígidas no Texas contribuem para esse problema, dado que cerca de 60% das armas confiscadas em Chicago são compradas em estados republicanos com livre porte de arma, segundo dados da Câmara Municipal de Chicago, citados pela CNN.

Aliás, a própria loja onde o atirador, um estudante de 18 anos, comprou legalmente as AR-15 que usou no massacre, tinha um histórico de vender munições a traficantes. No caso desta loja, a Oasis Outback, destinados ao México, contribuindo para a brutalidade dos cartéis que devastam este país vizinho, avançou o canal local KXXV.

Já alguns habitantes de Uvalde, durante a visita do governador do Texas à cidade, deixaram o seu descontentamento claro. “Tem vergonha Abbott”, gritou-se à sua passagem, este domingo. E outros texanos, incluindo aqueles crescidos em zonas rurais, embrenhados numa cultura que adora armas, começam a repensar a sua perspetiva.

“Defendo as armas, acredito na 2ª emenda. Mas esta AR-15, depois do que vi em Uvalde, estou farto dela”, disse Richard Small, um reformado texano de 68 anos, que sempre fora contra qualquer controlo de armas. Até ter visto a fotografia de uma das crianças massacradas em Uvalde, uma localidade por onde passara na juventude. “Parecia o meu neto, podiam ser gémeos”, explicou ao Washington Post. “Simplesmente mexeu comigo”.