O Presidente da República considerou, esta sexta-feira, que a Rússia, apesar de tudo, não quis “ser muito drástica” com Portugal, quando decidiu expulsar os cinco funcionários da embaixada portuguesa em Moscovo.
"Portugal foi dos últimos países a ser atingido pela resposta russa, e aquém da paridade, com mais um ou outro caso na Europa", frisou Marcelo Rebelo de Sousa aquando questionado pelo assunto durante a visita a Timor-Leste, em Díli, com a companhia do ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho.
Para o chefe de Estado, “o facto de o secretário-geral das Nações Unidas [António Guterres] ser português” poderá ter influenciado a ação russa, sem esquecer também que a Rússia sabe concretamente que “Portugal está num lado, que não é o seu”. Ainda assim, procurou “não ser muito drástica no tratamento” com o país, entende Marcelo.
"Houve vários países que tomaram a decisão, aliás, no quadro da União Europeia, em conjunto de sancionar a Federação Russa com a saída forçada de diplomatas e outro pessoal. De uma maneira geral, a resposta da Federação Russa foi paridade: saíram 25, saem 25; saíram 30, saem 30", notou.
Já no caso português, "a Federação Russa, embora respondendo às sanções com sanções, acabou por aplicar a um diplomata e depois a outros colaboradores e num número que é cerca de metade do número de atingidos pelas sanções portuguesas".
Questionado sobre o facto de a decisão das autoridades russas ter acontecido pouco antes do primeiro-ministro, António Costa, visitar Kiev, o Presidente da República disse que isso "mostra o alinhamento de Portugal".
Na ótica do chefe de Estado, "a presença do primeiro-ministro [em Kiev], aceitando um convite do primeiro-ministro ucraniano, mostra que Portugal está alinhado com a Ucrânia e, portanto, era inevitável que fosse sancionado pela Rússia".
"Todos os órgãos do poder político em Portugal desde o primeiro momento condenaram a invasão russa", realçou.
Depois de Portugal repudiar a decisão da Rússia, o ministro dos Negócios Estrangeiros voltou a lamentar o sucedido aos jornalistas em Díli e esclareceu que, ainda assim, a embaixada de Portugal em Moscovo continua a exercer as suas funções.
"Repudiamos estas expulsões, porque não têm justificação, exceto por pura retaliação. Os funcionários que expulsámos da embaixada russa em Lisboa conduziam atividades que não eram adequadas ao seu estatuto à luz da Convenção de Viena [sobre Relações Diplomáticas]", sublinhou João Gomes Cravinho.
"O importante é que a nossa embaixada continuará funcional", considerou ainda o governante.
Interrogado sobre o que vai fazer o Governo português, o ministro dos Negócios Estrangeiros respondeu: "De acordo com as regras da Convenção de Viena, o Estado recetor, neste caso a Rússia, tem o direito de expulsar as pessoas que entender, mas repudiamos porque não há nenhuma justificação. De maneira que acatamos, mas lamentamos e consideramos que não é justificável".
O ministro referiu que as autoridades russas identificaram "as pessoas em específico que devem ser expulsas" e adiantou que "agora é uma questão de tratar da logística, mas no espaço de 14 dias sairão".