Rui Rio, presidente do PSD, e Rui Tavares, candidato do Livre, confrontaram-se, este sábado, num debate em que os dois candidatos às eleições legislativas se estenderam na matéria da economia sobre salários e subsídios, mas também apontaram as suas preferências para fazer a maioria no Governo: Rio volta a dizer que CDS e Iniciativa Liberal serão os primeiros a serem contactados para aliar-se ao PSD, enquanto Tavares imagina uma "eco-geringonça" entre o Livre, PS e o PAN.
O embate político começou por Rui Rio, que iniciou o seu discurso com uma medida de descida de impostos, que consta no programa eleitoral que apresentou na sexta-feira. Para Rio, a perda de receita provocada pela descida de impostos que propõe pode ser compensada pelo crescimento económico, ao defender novamente uma espécie de consignação da riqueza conseguida com o crescimento económico: “11,5% para descida de impostos, 23% redução do défice e 65,5% que provoca o crescimento da despesa”.
“Isto não é apenas aumentar a despesa como propõe o PS”, frisou Rui Rio, ao admitir, no entanto, que “se tivesse sido eleito em 2019, também não o conseguia fazer, porque houve pandemia, vamos ser sérios”.
Na sua resposta, Rui Tavares avisou que "não se deve pôr o carro à frente dos bois”, embora tivesse considerado “desejável” uma “diminuição do IVA e da taxa que paga uma família mediana”.
“Rui Rio disse que não era crente, mas o programa do PSD acredita em milagres. Não é possível fazer estas reduções de impostos e prometer algumas coisas que promete, mas não diz como executa”, apontou o líder do Livre, ao afirmar que “não se podem fazer cortes de impostos em momentos que ainda são de incerteza”, sendo que primeiro “é preciso transformar a economia, numa economia especializada”.
Quanto ao Salário Mínimo Nacional chegar aos mil euros, Rui Rio avisou que “irreal não é”, mas é um “modelo diferente” do que defende. Ao referir-se ao programa do Livre, Rio ainda disse que o salário mínimo seria de “mil e poucos euros em 2026”, pelo que “se empresas tiverem de pagar sem que a sua atividade o justifique, o que vai acontecer é que não vão conseguir pagar”.
Para o presidente do PSD, Portugal não pode “nivelar por baixo” e por isso tem de promover a subida “do salário médio” para que o salário mínimo suba “arrastado”. Entretanto, o líder dos sociais-democratas admitiu um “aumento por decreto, desde que seja de acordo com o que a economia pode: inflação e ganhos de produtividade”.
Rui Tavares expôs a sua intenção para aproximar o Salário Mínimo Nacional português do espanhol, ao querer ver o salário a subir 6% para que se fixe nos 1.000 euros na média a 12 meses. Já Rui Rio considerou que “o risco de competição com a Espanha não é em termos de salário mínimo, mas de salário médio”.
Ainda dentro do tema sobre a economia nacional, Rui Tavares também expôs a sua ideia quanto ao alargamento do subsídio de desemprego também aos trabalhadores que se despedem. Para a cabeça de lista do Livre em Lisboa, esta medida seria benéfica para “quem quer terminar um mestrado” ou para no caso de "famílias em que uma das pessoas tem uma proposta de trabalho no interior do país e a outra se despede para acompanhar a mudança na geografia do país”.
O presidente do PSD considerou “surrealista dar um subsídio de desemprego também para os que se despedem e não só para aqueles que são despedidos. Foi isso que eu li no programa do Livre", apontou Rio, ao atacar ainda “o rendimento básico incondicional”, repetindo a ideia “surrealista” de dar “à partida um subsídio aos 10 milhões de portugueses”.
A caminhar para perto do fim, o debate virou de página para falar sobre as possíveis ligações para perfazer a maioria no parlamento.
“Um voto no PSD é uma encruzilhada, se tiver que governar com a extrema-direita, mesmo que seja só com um apoio tácito vai dar o que deu nos Açores”, atirou Rui Tavares, ao afirmar que se o PSD “governar com a Iniciativa Liberal e o CDS grande parte da social-democracia vai pela janela”.
Caso Rio se virar para a esquerda, Rui Tavares também partilhou a sua opinião: “o maior entendimento que se viu entre o PSD e o PS nesta legislatura foi para diminuir os debates parlamentares”.
Além disso, Tavares ainda mencionou um pormenor que acabou por alterar o rumo do final do debate. “Vamos entrar numa legislatura que permite a abertura de um processo de revisão constitucional. Se há coisa em que Rui Rio sempre foi constante e sempre quis foi uma revisão constitucional”, rematou o candidato do Livre.
Rui Rio lembrou que “propôs uma revisão constitucional”, mas que há “uma coisa que não está lá: “No programa do Livre criminalizar a ofensa à honra do Presidente da República. Para o Livre pode ofender-se o Presidente da República”. Tavares interrompeu e disse que o que mais o choca é "a prisão perpétua”. Mas Rio continuou: “Se isto é uma bandalheira, ainda mais ficaria uma bandalheira.
Rui Rio considerou que “Livre e PS são irmãos. São amigos. E vê-se que o PS está cada vez mais encostado à esquerda, de um Livre com estas propostas”. O líder do PSD repetiu que a sua “preferência é dialogar com CDS e IL, mas se não der 116, entendo que o PS deve viabilizar um Governo.”
Através da sondagem conhecida na sexta-feira, Rui Tavares deixou mais uma dica no término do debate: “Com o PAN, o Livre e o PS, uma eco-geringonça”.
“O Livre oferece uma vereda para sairmos da confusão em que estamos, um pacto social ecologista e progressista que pode ser feito com um apoio amplo à esquerda ou pode se feito, a sondagem mais recente da RTP aponta-nos que isso é possível, por exemplo com os votos do PAN, do Livre e do PS naquilo que seria uma eco-geringonça e oferecendo menos incerteza que oferece Rui Rio”, disse Rui Tavares.