Viseu é o bastião ‘laranja’ que ficou conhecido como ‘cavaquistão’ nos idos anos 80 do século passado, pela dimensão das vitórias de Cavaco Silva naquele círculo eleitoral, e um concelho onde o PS jamais conseguiu conquistar a presidência da autarquia – que é, aliás, a única capital de distrito que sempre fugiu aos socialistas e sempre foi ganha pelo PSD. Este ano, no entanto, e após a infeliz morte do presidente da Câmara em exercício e que seria o recandidato natural e indiscutível dos sociais-democratas, Almeida Henriques, a corrida à liderança da Câmara parece não ter um vencedor antecipado e abrir outras hipóteses.
O PS já anunciou o seu candidato e confia na conquista do seu melhor resultado de sempre: o deputado João Azevedo goza de boa reputação no distrito, com o capital político conquistado na vizinha Mangualde, terra de onde também era originário o seu ‘padrinho político’, também recentemente falecido, Jorge Coelho.
Aliás, este é um dos detalhes mais destacados pela sua candidatura, já que «todo o apoio, amizade, compreensão e ajuda entre Jorge Coelho e João Azevedo foi, com certeza, uma mais valia, porque conseguiu transmitir muitos ensinamentos, competências, princípios e valores que João Azevedo foi buscar e beber». As palavras são de Lúcia Araújo Silva, presidente da concelhia socialista de Viseu, que recorda a forte relação entre os dois socialistas, que os levou até à Assembleia da República, onde Azevedo esteve lado a lado, como assessor, durante os tempos de deputado de Jorge Coelho, que era, aliás, seu padrinho, alongando uma relação familiar que se manteve durante décadas, até pela proximidade geográfica, sendo que a autarquia que Azevedo liderou é a mesma que viu nascer Jorge Coelho, que fez questão de investir e se instalar na mesma.
Lúcia Araújo Silva não hesita em apostar, nesta s eleições, para o fim da hegemonia social-democrata no concelho, com um candidato que foi, durante 10 anos, presidente da autarquia vizinha, o que se traduz num futuro risonho para os socialistas em Viseu. «Estão reunidas as condições para uma viragem e um novo ciclo com bons resultados do PS», augura a presidente da concelhia.
«Sabemos que Viseu se agarrou mais ao símbolo político nos últimos anos do que ao desenvolvimento político, e com o crescimento e a mudança do eleitorado, mais exigente e mais crítico, isto poderá fazer a diferença, e estamos confiantes», declarou, aproveitando para reforçar o facto de João Azevedo ter elementos de várias cores políticas nas suas listas, o que se deve, defende, ao facto de alguns viseenses estarem «cansadas do modelo do PSD». «É o fim de tantos anos com as mesmas pessoas, e a mesma cor política, e isso acaba por levar a desgaste, e o João Azevedo acaba por acolher essas pessoas», concluiu ainda a presidente da concelhia socialista.
Ruas de regresso?
Do lado do PSD, o mais provável é que a escolha venha a recair em Fernando Ruas, o antigo presidente da Câmara de Viseu que, apesar de ainda não ter sido confirmado como o candidato social-democrata, figura como um dos nomes mais populares para o lugar, tendo em conta os 24 anos que passou dentro da Câmara de Viseu, coincidindo com o seu tempo como presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses.
O bastião do PSD em Viseu mostra-se num difícil momento de coesão.
Fernando Ruas, além de não ter estado presente no momento do voto de pesar na Assembleia da República pela morte de Almeida Henriques, não se mostrava como a figura mais próxima das suas ideias. Ruas, que é atualmente deputado na Assembleia da República, esteve ao comando da autarquia entre 1989 e 2013, e, apesar de não ter sido anunciado como candidato à Câmara de Viseu, é um dos principais nomes na calha.
As incompatibilidades entre Ruas e Almeida Henriques, o falecido ex-autarca de Viseu, eram notórias há já alguns anos, o que poderá estar na mente dos viseenses no momento de eleger o próximo presidente de câmara.
Fala-se ainda, também, da possibilidade de João Paulo Gouveia, presidente da concelhia do PSD de Viseu, ser o candidato no concelho com as cores social-democratas, mas as opiniões estão divididas, e, findado o mês de reflexão após a morte de Almeida Henriques, a concelhia deverá agora escolher o seu candidato para este concelho. O Nascer do SOL tentou entrar em contacto com João Paulo Gouveia, mas tal não foi possível até ao fecho desta edição.
Sobre as escolhas do PSD para Viseu, Lúcia Araújo Silva não se alongou, preferindo manter sucintas as declarações sobre os seus adversários, referindo ainda as «incompatibilidades» que eram públicas entre Fernando Ruas e Almeida Henriques e recordando que Ruas foi, durante 24 anos, presidente da autarquia, o que o coloca, sem sombra de dúvida, como um dos possíveis candidatos social-democratas na região.
Silvano confiante
José Silvano, secretário-geral do partido e coordenador autárquico dos sociais-democratas, tem uma visão totalmente diferente, garantindo que não tem dúvidas sobre a posição do PSD em Viseu e da manutenção do seu lugar primordial na autarquia, apesar dos fortes apoios de João Azevedo. «Em termos objetivos de indicadores de opinião, este candidato do PS não é melhor que os outros que já lá estiveram», começa por dizer Silvano, que deixa ainda uma garantia: «No nosso entendimento, e pelos dados que temos, o PSD, seja qual for o candidato que escolha, nunca estará em condições de perder a Câmara».
A falta de nomeação de candidato social-democrata para a autarquia, explica, deve-se ao facto de o partido ter decidido, em honra e em respeito pela morte do ex-autarca Almeida Henriques, não discutir o assunto durante o mês que sucedeu a sua morte, e não passa por um «atraso», reitera, já que «a questão da sucessão não se devia pôr em cima do falecimento do antigo presidente».
Agora, passado esse mês de reflexão, o secretário-geral do PSD anuncia que a concelhia deverá começar a sondar os candidatos, que seguirão para o nível distrital e, finalmente, a nível nacional. Ainda não há nomes oficiais, mas Fernando Ruas, «um nome incontornável em Viseu», como o define José Silvano, não fica de fora da mesa, reforçando ainda o coordenador autárquico o facto de ainda não ter recebido qualquer nomeação para o concelho.
O distanciamento entre Fernando Ruas e Almeida Henriques, no entanto, não deverá ser motivo de preocupação para o PSD, avançou José Silvano, já que «uma coisa são relações pessoais, e outra gora é agora escolher um candidato para a câmara municipal, que acho não deve passar nem por isso, nem por quem era a favor ou quem era contra, mas sim sobre quem é o melhor candidato para ganhar a Câmara de Viseu».