“Todas as grandes mentiras, hoje caíram. Prenderam e difamaram durante sete anos um inocente”

“Todas as grandes mentiras, hoje caíram. Prenderam e difamaram durante sete anos um inocente”


À saída do Campus da Justiça, Sócrates, que será julgado por seis dos 31 crimes de que era acusado, declarou que “todas as grandes mentiras da acusação hoje caíram”.


José Sócrates reagiu, à saída do Campus da Justiça, em Lisboa, à decisão instrutória da Operação Marquês, lida, esta sexta-feira, pelo juiz Ivo Rosa.

"Alguma coisa de singular hoje aconteceu aqui. Todas as grandes mentiras da acusação hoje caíram – a acusação da fortuna escondida é uma mentira -, a acusação da corrupção – é mentira -, a acusação de uma ligação com Ricardo Salgado – é completamente mentira", começou por dizer o antigo primeiro-ministro. “Tudo isso ruiu”, acrescentou.

Sobre os crimes pelos quais foi pronunciado, nomeadamente branqueamento de capitais, Sócrates garante que “não é verdade” e que se vai defender. “Não sei se em recurso se em tribunal, mas vou defender-me”, adiantou.

“O juiz Ivo Rosa levanta dúvidas sobre a questão dos empréstimos, chega à conclusão de que há indícios que podem contrariar o que eu digo, mas o que digo é verdade e vou defender-me”, sublinhou.

O ex-primeiro-ministro lançou ainda algumas farpas, referindo que a distribuição do processo “foi manipulada e viciada” para que este ficasse a cargo do juiz Carlos Alexandre. 

“Tudo isto é uma gravíssima injustiça”, disse. “A acusação tem uma motivação política, sempre teve uma motivação política que está bem clara numa decisão do juiz: no momento em que o processo Marquês chegou ao Tribunal de Instrução Criminal, a sua distribuição foi manipulada e viciada para que o juiz Carlos Alexandre ficasse com o processo”, atirou.

Para Sócrates prenderam e difamaram “durante sete anos um inocente” e “todos os crimes [de que foi acusado] não existiram” e “eram falsidades”.

O antigo primeiro-ministro destacou ainda que não tem “receio de nada”, apenas das “manipulações”. “O que fizeram no dia 9 de setembro de 2014 foi uma manipulação no tribunal, foi escolhido o juiz que mais convinha ao MP e isso é um escândalo, não foi apenas um crime, foram dois — manipulação e encobrimento”, reiterou, falando numa “viciação do processo”. 

“O Ministério Público cometeu um erro gravíssimo, mas não foi um erro, foi uma intenção, eles queriam-me insultar e foi a única motivação que fizeram”, reiterou.

“Todas as grandes mentiras contadas aos portugueses em sete anos, razão pela qual me prenderam, difamaram, são falsas e isso ficou hoje aqui provado”, assegurou.

Já sobre os crimes de falsificação de documento, pelos quais também foi pronunciado, Sócrates alega que não conhece os documentos em questão e que nunca os assinou.

“Não me conformo com isso, acho que não é correto e vou ver com detalhe”, disse.

“A justiça estava errada”, frisou, enaltecendo depois as palavras do juiz Ivo Rosa, inclusive as expressões “fantasiosas, especulações”. Sócrates considera que as acusações “não tinham o mínimo de substância”.

"Houve uma viciação do julgamento logo no início, o juiz nunca foi imparcial nem nunca esteve à altura do cargo do juiz; em segundo lugar, todas as grandes acusações que me fizeram, o juiz demonstrou, com muito detalhe, que eram falsas. O juiz, ao dizer que não há indícios para levar o caso a julgamento na questão da Lena, PT e Vale do Lobo está a dizer que estas acusações nunca deviam ter sido feitas. O Ministério Público queria insultar-me, magoar", acrescentou Sócrates.

Mas o ex-primeiro-ministro não ficou por aqui e deixou ainda críticas aos jornalistas.

“Não acham que deviam fazer uma autoavaliação? Nada disto teria chegado a este ponto se o jornalismo tivesse cumprido o seu dever. Era olhar para tudo o que escreveram e perguntarem-se como puderam dar publicidade a estas alegações sem factos, indícios e provas”, criticou.

Questionado sobre um possível regresso à política, José Sócrates respondeu que “não quer partilhar isso com ninguém”. “Farei esse debate comigo próprio, não é uma coisa que queira partilhar com ninguém”, afirmou.

De realçar que o juiz de instrução ilibou o antigo primeiro-ministro de ir a julgamento responder por crimes de corrupção na Operação Marquês. Ivo Rosa arrasou a acusação do MP durante a leitura da decisão instrutória e só pronunciou o antigo primeiro-ministro de seis crimes, três de branqueamento de capitais e outros três de falsificação de documento.

Dos 189 crimes que constavam na acusação da Operação Marquês, só 17 vão a julgamento, distribuídos por cinco dos 28 arguidos. O procurador do MP Rosário Teixeira anunciou que ia apresentar recurso da decisão para o tribunal da Relação de Lisboa.

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