António Costa Silva foi nomeado pelo Governo para coordenar os trabalhos preparatórios da elaboração do Programa de Recuperação Económica e Social entre 2020 e 2030. Em entrevista à agência Lusa, o gestor admite que estar no Executivo “não faz parte das suas ambições” e do seu “ADN”, mas que "não podia deixar de aceitar” a proposta, “sobretudo tendo em conta o momento que o país vive".
"Estar no Governo não faz parte das minhas ambições e não faz parte do meu ADN", disse.
"Sou um cidadão que gosta muito de pensar, de ler, de estudar e de investigar”, realçou o presidente executivo da Partex, admitindo que a proposta do Governo foi “muito aliciante”, como uma reflexão estratégica para a qual poderia dar o seu "contributo cívico, 'pro bono'".
Recorde-se que no despacho de nomeação, assinado pelo primeiro-ministro, António Costa, pelo ministro de Estado e da Economia, Pedro Siza Vieira, e pelo ministro do planeamento, Nelson de Souza, refere que Costa Silva não “aufere de qualquer remuneração ou abono”, sendo escolhido pela sua “idoneidade, experiência e competências” para assegurar este trabalho preparatório de um plano para uma década.
Na mesma entrevista, o gestor pôs de parte qualquer ideia de incompatibilidade com o seu trabalho na Partex.
"Isso é afastado logo à cabeça, porque a Partex é uma empresa de petróleo e gás e este setor em Portugal foi completamente fechado por decisão política", disse o também professor e engenheiro. "Não há investimentos nessa área, a empresa não tem nenhuma operação no país", acrescentou.
Quanto ao facto de ter apenas um mês para entregar o primeiro esboço do trabalho, Costa Silva destaca que trabalha “bastante rápido”, mas que também irá contar com a colaboração da equipa do ministro Matos Fernandes.
"Tenho feita muita reflexão, escrito artigos e ensaios e participado em livros e seminários, incluindo sobre políticas públicas (…) É fundamental refletirmos e questionarmos os paradigmas que tínhamos sobre a economia", disse, depois de referir que tem muito trabalho feito nas diferentes áreas que "são os pilares estratégicos da proposta", nomeadamente a transição energética, a descarbonização, a mobilidade elétrica o paradigma das cidades, as infraestruturas socialmente portuárias, a industrialização do país e o papel dos recursos na valorização do território.
Ainda que surpreendido pelo desafio colocado por António Costa, o gestor diz que “não podia deixar de aceitar, sobretudo tendo em conta o momento que o país vive".
No entanto, Costa Silva não se pronuncia sobre o facto de o trabalho desenvolvido resultar num programa para uma década, mais do que a duração de dois Governos.
"Isto não tem nada a ver com o programa do Governo até porque não sou do Governo, sou independente e assim serei (…) o plano está concebido para ser executado ao longo da próxima década, se assim for determinado pelos responsáveis políticos", frisou.
De recordar que a nomeação feita por António Costa gerou várias críticas, sobretudo à direita do PS. Esta quarta-feira, no debate quinzenal, o primeiro-ministro justificou a opção por Costa Silva referindo que é preciso ir “além da bolha político-mediática” e ouvir pessoas que refletem “fora da caixa”.