“O PS não se comportou como devia”, diz Sócrates

“O PS não se comportou como devia”, diz Sócrates


O ex-primeiro-ministro afirma que o Partido Socialista foi “cúmplice dos abusos” cometidos contra si no processo Operação Marquês e justifica, novamente, a sua desfiliação do PS. Além disso, fala ainda da sua não relação com o atual primeiro-ministro português. 


"Lamento que o PS se junte às vozes da direita numa condenação sem julgamento; isso é um ato ignóbil. Mesmo na questão do Manuel Pinho, o PS não se comportou como devia", disse José Sócrates, em entrevista à Visão que vai para as bancas amanhã, quinta-feira.

O antigo governante fala também sobre a sua desfiliação do Partido Socialista, justificando que pretendia evitar um “embaraço mútuo”, mas não fica por aqui. Sócrates afirma ainda que não admite determinados tipos de declarações que foram feitas aos seus ‘camaradas’.

"Não admito esse tipo de declarações a camaradas meus e tínhamos de acabar com esse embaraço mútuo", sublinha o ex-primeiro-ministro na mesma entrevista.

No entanto, José Sócrates garante que o desentendimento com o PS já vinha de trás: "É sabido que eu tinha um incómodo com o PS, que este se devia ao facto de o PS, com o seu silêncio, ser, de certa forma, cúmplice de todos os abusos cometidos contra mim: a detenção para interrogatório, a prisão para investigação, a campanha de difamação baseada na violação do segredo de justiça. E o silêncio embaraçante que permitiu que um juiz assumisse, numa entrevista, uma posição de completa parcialidade", diz.

"E, sim, o mal-estar já vinha de antes. O PS foi cúmplice desses abusos. Tive essa consciência, mas nada disse. Eu próprio recomendei a distância. Só que este processo é excecional, teve uma motivação exclusivamente política. Teve e tem", reitera.

À Visão, quando questionado sobre a sua relação com o atual primeiro-ministro, Sócrates afirma que esta está “como há quatro anos: não existe!”.

E sobre se a visita que António Costa lhe fez à prisão de Évora foi uma mera “encenação”? Sócrates reage com alguma exaltação: "Desculpe lá! Presume mal! A minha relação com António Costa não existe, mas não pode dizer que a visita foi um gesto de hipocrisia! Permitir-se insinuar isso é obsceno! Eu tinha uma relação política e pessoal que estes anos extinguiram! É só isto!", conclui o antigo chefe de Estado.  

Recorde-se que, o antigo primeiro-ministro anunciou a sua desfiliação do Partido Socialista no passado dia 4 maio, através de um artigo de opinião publicado no Jornal de Notícias.