O verdadeiro carrossel que foi a semana do Sporting terminou com muitas dúvidas e, para já, uma certeza: Bruno de Carvalho vai resistir o mais que puder na presidência dos leões. Fez, de resto, questão de o afirmar de forma bem vincada na comunicação que fez ao fim da noite de quinta-feira, após reunião com os membros do Conselho Diretivo que ainda permaneciam (e permanecem) ao seu lado.
São, neste momento, seis os homens que resistem: Carlos Vieira (vice-presidente) e os vogais Rui Caeiro, José Quintela, Alexandre Godinho, Luís Roque e Luís Gestas. O último a abandonar o barco foi Bruno Mascarenhas, que na manhã desta sexta-feira enviou a sua carta de demissão do cargo de vogal a Jaime Marta Soares, presidente demissionário da Mesa da Assembleia-Geral (AG) do Sporting. Esteve presente na reunião de emergência do Conselho Diretivo na quinta-feira, no Estádio de Alvalade, mas saiu a meio da mesma e já não esteve presente na leitura do comunicado conjunto onde Bruno de Carvalho reiterou a vontade firme de continuar ao comando do clube.
Esta foi (até agora) a última de seis demissões no Conselho Diretivo do Sporting – quatro das quais na quinta-feira (o vice-presidente António Rebelo, o vogal Luís Loureiro e os suplentes Jorge Sanches e Rita Matos), sendo que Vicente de Moura já tinha abandonado o cargo de vice-presidente há um ano. A direção do Sporting está, assim, presa por dois elementos, como explicou Marta Soares: «A Direção é composta por 11 membros, mais dois suplentes e desses 13 já se demitiram seis, por isso, só tem sete membros. Para a direção cair têm de sair mais dois membros, pois só quanto atingir cinco é que não tem quórum».
Bruno e os processos a rodos
Este cenário começou a ganhar forma na quinta-feira, com as demissões em bloco dos integrantes da Mesa da Assembleia-Geral e da maioria dos membros do Conselho Fiscal e Disciplinar, incluindo o seu presidente, Nuno Silvério Marques. Marta Soares instou por variadíssimas vezes Bruno de Carvalho a fazer o mesmo, «para bem do Sporting». «É cada vez mais um homem só e deveria pensar bem o mal que está a fazer ao Sporting. Não há nenhum diretor que possa ostentar a propriedade do clube, e parece que é isso que Bruno de Carvalho está a fazer neste momento. Se entende continuar a não se querer demitir, teremos de avançar com aquilo que os estatutos permitem: a marcação de uma Assembleia-Geral para a destituição dos órgãos sociais que restam», assinalou, já depois da Mesa da AG ter votado e aprovado uma moção para avançar com um processo disciplinar contra Bruno de Carvalho, com o intuito de o forçar a apresentar a demissão.
O presidente leonino, todavia, nem quer ouvir falar em tal situação. «O Sporting está a ser alvo de um ataque interno e externo com o objetivo de obrigar à nossa demissão. Mas não nos vamos demitir. Não estamos agarrados ao poder: se não nos demitimos, é a pensar no bem do Sporting», disparou, prometendo agir judicialmente contra diversas entidades e personalidades que, na sua opinião, o difamaram, ofenderam e atacaram. Já o tinha feito, de resto, logo de manhã, anunciando a intenção de processar Eduardo Ferro Rodrigues, presidente da Assembleia da República, e criticando o próprio presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa (ver página 12).
No mesmo dia, José Maria Ricciardi, ex-membro do Conselho Leonino, e Daniel Sampaio, ex-vice-presidente da AG, reiteraram a promessa já feita anteriormente de retirar o apoio a Bruno de Carvalho, com Álvaro Sobrinho, maior acionista individual da SAD leonina (detém 30 por cento por intermédio da Holdimo) a juntar-se-lhes entretanto. «Quando as pessoas estão em negação, estão em negação. Que ele não se ia demitir já eu sabia. Apelei foi aos outros membros do Conselho Diretivo para se demitirem, porque quanto mais tempo passar, mais os riscos graves patrimoniais e económicos irão aumentar», salientou Ricciardi, que se demitiu do Conselho Leonino no início de abril. «Proponho a demissão coletiva dos órgãos sociais e não há mais nada a fazer. Infelizmente não aconteceu a demissão do Conselho Diretivo», afirmou Daniel Sampaio, mandatário de Bruno de Carvalho nas últimas eleições do clube.
Álvaro Sobrinho lembrou igualmente que Bruno de Carvalho «está a colocar em risco os ativos do clube», prometendo convocar uma AG para pedir a demissão da direção.
Ontem, Paulo Paiva dos Santos, Miguel Relvas e Luís Campos Ferreira apresentaram igualmente a demissão do Conselho Leonino.
Jamor é o fim da linha
Todo este processo – aliado, claro, aos impensáveis incidentes ocorridos na terça-feira na Academia de Alcochete – provocou danos profundos na organização e preparação da final da Taça de Portugal por parte da equipa leonina, que não chegou a realizar qualquer treino esta semana. Nem sequer o apronto oficial que estava marcado para sexta-feira no Estádio do Jamor.
Durante o dia, o plantel reuniu e tomou a decisão de treinar no Jamor este sábado, às 16h45, numa sessão que será aberta à comunicação social nos primeiros 15 minutos – e, obviamente, decorrerá debaixo de fortes medidas de segurança. O Aves, adversário dos verde-e-brancos na final, trabalhará no relvado do mítico Estádio Nacional logo às 11 horas. «Num período de pausa, em que não existe qualquer tipo de treino, de cinco a sete dias já se verifica uma diminuição das capacidades físicas do atleta», explicou ao SOL o fisioterapeuta Luís Ribeiro.
Neste momento, o foco dos jogadores sportinguistas está inteiramente em vencer a Taça. Depois disso, muitos são os cenários que se colocam, sendo que o mais forte é a rescisão de contrato com o clube de forma unilateral com justa causa – jogadores e equipa técnica ponderam ainda apresentar queixa-crime contra o próprio Bruno de Carvalho, por acreditarem ser ele o mandante dos ataques em Alcochete. Os atletas continuam em choque e durante esta semana muitos falaram já com os respetivos empresários e advogados no sentido de agilizar rapidamente o processo de saída de Alvalade. Para continuarem de leão ao peito, só numa condição: a de Bruno de Carvalho deixar a presidência.
A SAD do Sporting, porém, está já precavida para esta vontade dos jogadores. No comunicado conjunto de quinta-feira, quando Bruno de Carvalho garantiu que não se irá demitir, o vice-presidente e administrador com o pelouro financeiro, Carlos Vieira, prometeu «averiguar ao pormenor todas as manobras e quais os interesses em causa» nesse processo. E completou: «Se este horrível acontecimento for motivo para rescisão por justa causa, o paradigma do mercado futebolístico, tal e qual o conhecemos hoje, ficaria posto em causa. Tememos que os jogadores possam estar a ser manobrados e enredados em algo que está a tentar desvirtuar o seu profissionalismo, numa pretensa rixa com o seu presidente e comissão executiva da SAD».