Londres está, hoje, vestida de gala. Nas principais zonas da cidade, a Union Jack enfeita os céus, nas montras das lojas há muito que a cara dos noivos é replicada até à exaustão e desde o início da semana passada que os curiosos acamparam, literalmente, nas ruas em torno do castelo de Windsor.
Sábado, 19 de maio, foi o dia escolhido por Harry, o ex-enfant terrible da família real britânica, e a ex-atriz norte-americana Meghan Markle para dar o nó. E se este mês é uma escolha óbvia – maio é tido como um dos meses mais simpáticos climatericamente falando em Londres; sábado não é o mais comum para celebrar um casamento real. A rainha Elizabeht ll casou-se a uma quinta-feira, Diana e Carlos a uma quarta-feira e, há sete anos, William e Kate deram o nó a uma sexta-feira. Todos os enlaces deram um dia de folga aos britânicos. A opção foi contestada por alguns setores da sociedade, mas Meghan e Harry contornaram a discussão casando ao fim de semana – ainda assim, o Governo britânico deu autorização para que os pubs fechem mais tarde hoje para que a população possa festejar condignamente. E, nos ecrãs, o mais provável é que a audiência do matrimónio dê 10-0 à Final da Taça de Inglaterra entre o Chelsea e o Manchester United , também hoje. Para o afirmar basta-nos recordar o casamento de William e Kate que, estima-se, terá sido visto por, no mínimo, 300 milhões de pessoas.
Um folclore habitual para um casamento real britânico mas que pouco dizia à noiva. «Sou dos Estados Unidos, não crescemos a conhecer a família real», confessava Meghan Markle à BBC em novembro do ano passado, dias após ter sido anunciado o noivado, a 27 de novembro. O pedido inusitado ficará sempre na memória coletiva. «Estava a tentar assar um frango», contou Harry.
Passaram então, até hoje, exatos 164 dias, um pouco menos do que seis meses. Um tempo normal de noivado no que à monarquia britânica diz respeito: por exemplo, Isabel II e Filipe de Edimburgo estiveram noivos quatro meses; já Diana e Carlos e William e Kate perto de seis.
O namoro de 16 meses de Harry e Meghan foi, contudo, bem mais curto do que o do irmão com a duquesa de Cambridge – que durou oito anos -, mas em compensação Harry dirá um sim mais tardio do que William. O duque de Cambridge e segundo na linha de sucessão do trono tinha 29 anos quando se casou com Kate Middleton, e Harry sobe ao altar com 33.
Foi assim que aconteceu
O casal conheceu-se – foram apresentados por uma amiga, numa espécie de encontro às cegas – em julho 2016. «Não sabia muito sobre ele, por isso a única coisa que perguntei [à amiga comum, que especula o E! News deverá ser Violet von Westenholz, diretora de relações públicas da Ralph Lauren] quando disse que queria que nos conhecêssemos foi: ‘Ele é simpático?’ Se não fosse gentil, não me parecia que [o encontro] fizesse sentido]». Mas fez tudo sentido – e muito rápido. Depois de dois encontros, Harry convenceu Meghan a ir de férias para o Botswana, que se tornou num dos locais de eleição do casal.
E durante seis meses conseguiram manter tudo em segredo.
«Somos duas pessoas que estão muito felizes e apaixonadas. Estávamos a namorar discretamente há seis meses quando a relação se tornou notícia. Estive a trabalhar durante todo esse tempo e a única coisa que mudou foi a perceção das pessoas. Nada em mim mudou. Sou a mesma pessoa e nunca me defini por causa de uma relação», contou Meghan à Vanity Fair na primeira vez que quebrou os silêncio sobre o namoro.
«Apaixonei-me pela Meghan muito rápido», admitiu Harry aquando do anúncio de noivado, na mesma entrevista à BBC. E, afirmou em jeito de brincadeira, que não foi o único a ceder sem reservas aos encantos da noiva, contando que os cães da rainha, os famosos welsh corgis, que acompanham Isabel II para todo o lado – e que Harry tentou cativar durante anos – gostaram imediatamente da presença de Meghan.
Menos simpáticos foram os tabloides. Após anunciarem oficialmente o namoro, as bocas jocosas e racistas não tardaram, ao ponto de o Palácio de Kesignton emitir um comunicado oficial em que condenava as «difamações na primeira página de um jornal nacional, conotações raciais em comentários, sexismo e racismo nas redes sociais». «O príncipe Harry está preocupado com a segurança de Meghan Markle e profundamente desapontado por não ter conseguido protegê-la. Não está correto que, com alguns meses de relacionamento, Meghan Markle seja alvo de uma tempestade», lia-se.
A tempestade amainou ligeiramente mas nunca parou e os destroços continuaram a vir dar à costa. Enquanto durou o namoro, surgiram até vídeos de, alegadamente, caráter pornográfico que mais não passavam do que alguns cenas protagonizadas pela atriz na série Suits, pela qual Markle se notabilizou.
E, mesmo após o anúncio de noivado as polémicas não pararam – e vindas dos interlocutores mais inesperados.
Um noivado difícil
O primeiro foi o próprio irmão da noiva, Thomas Markle Jr, que escreveu à mão uma carta a Harry pedindo que não se casasse com a irmã, que descreveu como «aborrecida» e «vaidosa». «Quanto mais tempo passa, mais claro se torna que este é o maior erro na história dos casamentos reais», disse, acrescentando: «Ainda por cima, ela não convida a própria família para o casamento, preferindo convidar pessoas completamente desconhecidas. Quem é que faz isso?».
Depois, veio a meia irmã, Samantha Grant Markle. Segundo noticiava a ABC News, Samantha, que começou por definir Meghan como a «melhor pessoa do mundo», mudou o discurso depois de perceber que não seria convidada para o casamento, criticando a irmã por incluir «600 desconhecidos sem reservar um lugar para a família» e acusando-a de ser uma «narcisista, egoísta e alpinista social».
Mas no início desta semana, chegou, porventura, o escândalo mais difícil de digerir. O pai, Thomas Markle, estaria a combinar com os paparazzi o momento em que seria ‘apanhado’ a experimentar o fato que usaria hoje para o casamento. Mas a história veio a lume e Thomas Markle anunciou que não estaria presente na cerimónia para «não envergonhar a filha nem a família real». Primeiro, tinha ensaiado como desculpa que estaria com problemas cardíacos. Acabou por admitir o arranjinho com os paparazzi, pedindo novamente desculpa e garantindo que nunca quis magoar Meghan ou a família real.
Os tabloides britânicos especularam toda a semana sobre quem iria então levar a noiva ao altar – e William e Charles, irmão e pai do noivo, são algumas das apostas.
E a restante família Markle, está a torcer pela felicidade de Meghan do outro lado do Atlântico? Pois, está em Londres desde o início da semana, apesar de não ter sido convidada. A confirmação foi dada por uma cunhada da noiva ao Good Morning Britain que, diz-se, comentará o evento em direto para um canal de televisão norte-americano.
Já a relação com a sua nova família parece ir de vento em popa. «[A família real] é a família que ela [Meghan] nunca teve», disse Harry ao programa Today da BBC Radio 4.
E até William, mais discreto, já brinca publicamente com a chegada do novo membro. Questionado sobre como via o enlace, o duque de Cambrigde respondeu qualquer coisa que podemos traduzir como ‘já não era sem tempo’. «Para mim, pessoalmente, espero que signifique que Harry se afasta do meu frigorífico a remexer na minha comida, como tem feito nos últimos anos».
De resto, a sociedade britânica parece gostar de Meghan que, à semelhança de Kate, tem o toque de Midas, com o seu estilo a ser amplamente elogiado e com as peças que escolhe a esgotarem num ápice. E nem a sua espécie de família Adams – ou um percurso de vida com um divórcio pelo meio – parece suficiente para mudar esta tendência.
E uma noiva inédita
Meghan é divorciada, plebeia – uma porta aberta por Kate Middleton -, é a primeira norte-americana a entrar para a família real britânica desde Wallis Simpson, que levou Eduardo VIII a abdicar do trono já lá vão 80 anos e é filha de um casal birracial. A mãe, afro-americana, é professora de yoga e o pai com ascendência irlandesa e holandesa, é realizador. Não cresceu com os pais juntos: separaram-se quando a filha tinha seis anos.
Cresceu na Califórnia – mas o frio de Londres não lhe fará confusão, já que morou nos últimos anos no Canadá – e teve uma educação católica, estudando inclusivamente num colégio católico: o Immaculate Heart High School. Licenciou-se em comunicação e, ainda enquanto estudava, foi descoberta por um agente numa festa e tornou-se atriz.
Casou em 2011 com o produtor de cinema Trevor Engelson, na Jamaica, após sete anos de namoro. Divorciaram-se em maio de 2013.
Agora, resolveu converter-se ao anglicanismo. Foi batizada e crismada no início de março, numa cerimónia privada conduzida por Justin Webly, o chefe espiritual da Igreja de Inglaterra e amigo pessoal do casal. Um passo voluntário: Meghan, que já tinha sido batizada na Igreja Protestante, escolheu batizar-se para honrar a posição de Rainha Isabel II na Igreja Anglicana.
Meghan é orgulhosamente feminista, como tem referido por diversas vezes. Faz parte do programa de Igualdade de Género e Emancipação das Mulheres das Nações Unidas e em 2015 discursou neste organismo no Dia da Mulher. No discurso, contou que quando tinha 11 anos enviou uma carta à então primeira-dama norte americana, Hillary Clinton, mostrando a sua preocupação relativamente a um anúncio de detergentes que dizia, basicamente, que as mulheres só podem ser donas de casa. Foi aplaudida de pé pela plateia.
A partir de hoje, passará a receber vénias.