Capítulo em falta no relatório de Pedrógão já foi entregue ao MAI

Capítulo em falta no relatório de Pedrógão já foi entregue ao MAI


Cabe ao novo ministro Eduardo Cabrita decidir publicá-lo.


A equipa de Domingos Xavier Viegas entregou ontem ao Ministério da Administração Interna o sexto capítulo do relatório de Pedrógão Grande, o único que ainda não é do conhecimento público. Recorde-se que, na entrega do documento na passada segunda-feira, a ministra Constança Urbano de Sousa solicitou aos peritos que refizessem esta parte do relatório, que circunstancia a morte de cada uma das vítimas, por forma a eliminar a sua identidade, ao abrigo da proteção de dados pessoais.

Numa nota inserida no relatório publicado desde segunda-feira no site do governo, lê-se que este sexto capítulo será “disponibilizado oportunamente, logo que seja tornado anónimo”.
A entrega da versão anonimizada aconteceu ontem, revelou ao i Domingos Xavier Viegas, ficando assim concluído o trabalho da equipa.

O i solicitou ao MAI acesso ao documento, mas a demissão da ministra Constança Urbano de Sousa e o facto de o gabinete ministerial estar em gestão fizeram com que não fosse facultada resposta ou previsão de divulgação. Até ao fecho desta edição, o capítulo não tinha sido disponibilizado no site do governo.

A manter-se a atual situação de gestão, terá de ser o novo ministro da Administração Interna a libertar a análise. Eduardo Cabrita toma posse no sábado, pelas 9 horas, antes do Conselho de Ministros extraordinário dedicado ao fogo.

Neste capítulo, além das vítimas mortais, são analisados casos de sobreviventes e feridos. O relatório, que apontou falhas na Proteção Civil e revelou que houve não um mas dois incêndios a começar em Pedrógão naquela tarde de sábado, relata um fogo com uma violência pouco usual, para a qual contribuíram ciclones que se manifestaram na zona afetada. Um homem ouvido pela equipa de Xavier Viegas em Carmeleiro, Figueiró dos Vinhos, disse ter visto ovelhas “levantadas pelo vento e projetadas para o muro”. O vento arrancou também um telhado que pesaria mais de 600 quilos.

 A equipa apurou que a falta de meios, de energia elétrica e de comunicações contribuiu para a tragédia, assim como a falta de limpeza das estradas, que “permitiu que muitas pessoas fossem colhidas em plena fuga, pelo fumo e pela radiação do incêndio”. Apenas quatro das 65 vítimas do fogo perderam a vida dentro de casa. “Verificou–se que para a larga maioria das vítimas, e mesmo para outras pessoas que sobreviveram à exposição ao fogo enquanto fugiam, a permanência em casa teria sido a opção mais segura.”

Entre as recomendações, os peritos defenderam apoio a medidas de autodefesa da população e um “grande cuidado na seleção dos quadros de comando da estrutura da Autoridade Nacional da Proteção Civil e bombeiros”, concordando com a comissão independente nomeada pelo parlamento que os bombeiros têm de ser profissionalizados.