Londres. Fogo e fumo devoraram torre residencial

Londres. Fogo e fumo devoraram torre residencial


Incêndio de proporções monstruosas num prédio de 24 andares da capital britânica fez pelo menos 12 mortos e mais de 70 feridos, muitos em estado crítico. Autoridades acreditam que o número de vítimas mortais vai aumentar


Quando na tarde desta quarta-feira os relógios marcavam as 17h30, a Brigada de Bombeiros de Londres anunciava que ainda combatia pequenas “bolsas de fogo”, resultantes do incêndio que se havia apoderado, de forma impiedosa, da Grenfell Tower – um prédio residencial de 24 andares, com 120 apartamentos, situado na zona ocidental da capital britânica – e que deflagrara por volta da 1 da manhã. Por essa altura, o número de bombeiros envolvidos no combate às chamas já era bastante inferior aos cerca de 250 homens e mulheres que, juntamente com 100 médicos e outros tantos polícias, estiveram no local durante praticamente toda a madrugada em auxílio dos residentes.

O triste balanço do incêndio de North Kensington é, para já, de pelo menos 12 mortos, mais de 70 feridos – 18 em estado crítico, segundo o NHS –, danos materiais incalculáveis e muitas dúvidas sobre as origens de tamanha tragédia. E de acordo com a Polícia Metropolitana, o número de vítimas mortais vai seguramente aumentar, tendo em conta que ainda há vários moradores dados como desaparecidos. “É bastante difícil apontar o número exatos de desaparecidos. Infelizmente, não prevejo que haja mais sobreviventes”, lamentou o comandante Stuart Cundy, em conversa com os jornalistas, depois de informar que as autoridades resgataram um total de 65 pessoas.

Segundo residentes do prédio – entre os quais se contam dez portugueses –  e diversas testemunhas oculares, o cenário foi de verdadeiro terror. Às impressionantes fotografias e vídeos da uma torre negra em chamas, destacada no meio de um bairro de casas baixas tipicamente britânicas que invadiram as redes sociais durante a madrugada e o dia de hoje, somaram-se testemunhos perturbadores de sobreviventes, vizinhos e bombeiros. “Vi pessoas a saltar do prédio e um homem a atirar duas crianças”, contou à BBC Mahad Egal, residente do quatro andar, entre lágrimas. Samira Lamrani, outra moradora, também assistiu a cenas semelhantes. “[Havia] uma mulher que estava a gesticular que iria lançar o seu bebé [pela janela] se alguém o pudesse apanhar. Um homem fê-lo, correu e agarrou no bebé”, relatou. Uma outra testemunha, Jody Martin, confirmou aos repórteres a história de Lamrani e acrescentou que ouviu pessoas gritarem que “não conseguiam sair dos apartamentos”, por haver “demasiado fumo nos corredores” do prédio. Já a bombeira Dany Cotton confessou que o incêndio foi “o pior incidente a que já assistiu”, em 29 anos de carreira.

Tendo em conta que o fogo ainda estava ativo, passadas 16 horas, e que as prioridades das autoridades são extingui-lo por completo, resgatar as vítimas e identificar os corpos, as equipas de investigação anunciaram ainda ser cedo para apresentarem as suas conclusões sobre as causas do incêndio e, pelas 13h horas, definiram um prazo de pelo menos mais 24 para esse efeito. Nesse sentido, os relatos que apontam para a explosão de um frigorífico no quarto andar da Grenfell Tower não passam, por enquanto, de rumores.

Certo é que foram vários os residentes que garantiram não ter ouvido o alarme de incêndio, instalado no prédio, e que apenas se aperceberam do fogo quando ouviram as sirenes dos bombeiros, numa altura em que as chamas já consumiam os andares inferiores do edifício. Para além disso, a associação de moradores diz que, no âmbito das obras de remodelação do prédio, datado de 1974, – que duraram dois anos e terminaram no ano passado – a empresa responsável pela gestão do mesmo foi alertada para o “agravamento do risco de incêndio” resultante do novo revestimento exterior e do sistema de aquecimento comum, e para o “acesso seriamente limitado” do edifício aos veículos de emergência. Ambas as preocupações terão sido rejeitadas pela Kensington and Chelsea Tenant Management Organisation (KCTMO), sugere a associação.

Face a estes testemunhos e às proporções gigantescas da tragédia da madrugada desta quarta-feira, a empresa emitiu um comunicado no qual confirma a existência dos referidos avisos, mas lembra que “ainda é muito cedo para especular sobre o que causou o incêndio e o que o fez propagar-se”. A KCTMO garantiu ainda que está a cooperar com as investigações e que esse auxílio é, neste momento, “a principal prioridade” da empresa.

O mayor de Londres foi um dos dirigentes políticos britânicos que falaram à comunicação social sobre a catástrofe e expressaram a sua solidariedade para com as famílias e amigos da vítimas e, mostrando-se revoltado como o sucedido, pediu respostas, o mais rapidamente possível. “Não podemos ter uma situação em que a segurança das pessoas é posta em risco devido a mau aconselhamento ou, se for esse o caso, a torres de apartamentos mal servidas ou mantidas”, lamentou Sadiq Khan.

Enquanto esperam pelas indicações das autoridades os moradores da  Grenfell Tower estão a ser acolhidos em igrejas, mesquitas e centros sociais dos bairros circundantes de North Kensington, e acompanhados por psicólogos e funcionários dos serviços sociais londrinos. Despojados dos seus pertences e, naturalmente, em choque, terão de reconstruir as suas vidas praticamente do zero. Do fogo e do fumo que devoraram as suas casas pouco ou nada sobrou.