Museu Berardo em Belém, mas com entradas pagas

Museu Berardo em Belém, mas com entradas pagas


Pelo menos até 2022, o CCB continuará a ser a casa da Coleção Berardo. Mas com bilhetes pagos. O valor é ainda desconhecido.


Foram dez anos de entradas gratuitas, desde a inauguração, em 2007._Mas, dez anos depois, ou seja, a partir de 2017, o Museu Coleção Berardo passará a cobrar entradas. Este foi, de resto, um dos pontos que terão dificultado a assinatura da adenda ao protocolo inicial, de 2006, que determina o Centro Cultural de Belém (CCB) como casa da coleção do empresário madeirense. Pelo menos até 2022, passando a ser o comodato renovado automaticamente a cada seis anos (exceto se for denunciado seis meses antes).

Para Joe Berardo, o seu museu deveria continuar gratuito, no entanto o Ministério da Cultura considerou que era necessário que o museu tivesse mais meios de financiamento, podendo a bilheteira suprir esta necessidade. «Os custos de bilheteira passam a ser suportados pela Fundação Coleção Berardo, para a qual continuam a reverter, na íntegra, as receitas, permitindo uma fonte adicional de financiamento, nomeadamente para a programação do Museu. Prevê-se a cobrança de bilhetes nas exposições, permanente ou temporárias, continuando a ser competência da Fundação Coleção Berardo a fixação dos preços», pode ler-se no comunicado oficial, emitido pelo Ministério da Cultura, acerca do acordo assinado na passada quarta-feira, numa sessão que contou com a presença do Ministro da Cultura Luís Filipe Castro Mendes, do presidente do CCB Elísio Summavielle, e de Joe e o seu filho Renato, pela Fundação Berardo.

Caberá, então, ao Conselho de Administração da Fundação de Arte Moderna e Contemporânea – Coleção Berardo definir qual será o preço dos ingressos, qual a política de isenções e descontos (que deve ser semelhante à dos museus públicos), bem como quantos dias de acesso gratuito existirão por semana – sendo que também aqui o ministério exigiu que, no mínimo, existisse um dia de entrada livre.

Segundo o comunicado do ministério, o referido Conselho de Administração da Fundação Berardo cessa funções a 31 de dezembro, devendo, a 1 de janeiro de 2017, ser nomeado um novo Conselho, para um mandato de quatro anos.

O mesmo documento foca-se nos assuntos relacionados com a avaliação e a opção de compra da Coleção Berardo, cuja avaliação, à data do acordo de 2006, dizia respeito a 862 obras e orçava em 316 milhões de euros.

Nova avaliação do acervo

A adenda agora assinada determina que «o Estado pode exercer a opção de compra sobre a Coleção Berardo até 30 dias antes do final da vigência da Adenda ou da sua última prorrogação», bem como que será feita nova avaliação do acervo, para determinar o valor atual da coleção. «O preço da Coleção Berardo resultará de avaliação independente, a concluir no máximo dois meses antes do final do comodato. Será paga em partes iguais pela Associação Coleção Berardo e pelo Estado. Se a Associação não aceitar o valor da avaliação, o Estado perde o direito de opção de compra, mas os custos da avaliação são suportados na íntegra pela Associação», lê-se no comunicado.

A indefinição no que diz respeito ao futuro do Museu Coleção_Berardo agudizou-se nos últimos tempos – com as negociações a prolongarem-se por seis meses. Uma situação, de resto, denunciada há um mês, pelo próprio diretor artístico do museu, Pedro Lapa, receoso em relação ao futuro. «Normalmente, e por não termos orçamentos plurianuais, não conseguimos programar como programam outros grandes museus internacionais – a dois ou três anos – de forma a rentabilizar o museu e as suas exposições. Este ano a situação é ainda pior porque, normalmente, em setembro já temos o ano seguinte organizado e aprovado.» Mais um dos aspetos resolvidos por este acordo, uma vez que o apoio financeiro a atribuir à fundação passa a ser definido bianualmente.

Na mesma altura, Joe Berardo desdramatizava os receios de Lapa – «Não estou preocupado. Se não houver acordo tenho para onde levar a minha coleção». Na quarta-feira, e após a assinatura, o comendador acabou por assumir que teria sido «um grande, grande desgosto», se este acordo não tivesse chegado a bom porto.