“Se nunca aconteceu, temos de fazer com que aconteça. É simples”, atirou Luisão quando foi confrontado com o saldo negativo do Benfica em solo turco. Dois empates e três derrotas era o histórico do clube encarnado na Turquia até esta quarta-feira. O clube da Luz precisava de mudar o historial, sobretudo porque a vitória garantia o mais importante: o apuramento para os oitavos-de-final da Liga dos Campeões, mas um jogo de loucos estava reservado para a Arena do Besiktas e o sonho de tornar os dois objetivos reais no mesmo jogo acabou a dois minutos do tempo regulamentar.
Apesar do susto que Eliseu pregou a Fabricio ainda no minuto dois, o jogo dividido entre as duas equipas na Arena do Besiktas estava longe de fazer prever o resultado do marcador após 45 minutos de jogo.
Corria o minuto 31 quando Nélson Semedo caiu no chão e o árbitro esloveno Damir Skomina assinalou falta. O livre, cobrado por Pizzi, levou as mãos dos adeptos benfiquistas à cabeça por três vezes antes de se levantarem para o festejo final. Mitroglou, de cabeça, por duas vezes encontrou a trave do guardião das águias negras e Salvio, na recarga, imitou o colega e enviou a bola para o poste. Faltava o regressado Fejsa… Surgiu pelo centro, diante de uma defensiva adormecida e a ver o adversário jogar, para o remate final – um regresso ao mais alto nível com o número 5 dos encarnados a estrear-se a marcar na competição.
Antes de chegar a este momento já o Benfica tinha despertado as bancadas por duas vezes. Nélson Semedo, provavelmente inspirado no golo de Gedson Fernandes – com um chapéu arrebatador do meio-campo a selar a vitória do Benfica diante do Besiktas em jogo da Youth League –, surpreendeu Fabricio e todos os jogadores em campo: um remate colocado, saído do pé esquerdo de Semedo com a direção certeira à gaveta de Fabri, a carimbar uma possível entrada nos melhores golos da jornada da Champions. Mas Semedo não acabou o jogo sem companhia, na categoria de Melhor Golo da Jornada.
O Benfica não desperdiçou a oportunidade concedida pelo Besiktas que, ao contrário do jogo da primeira mão, em Lisboa, deixou o espaço necessário para o onze de Rui Vitória avançar no terreno.
Gonçalo Guedes comprovou, mais uma vez, o período de grande forma em que se apresenta e foi o responsável pelo início da festa encarnada, aos dez minutos de jogo. A mais recente jovem promessa do Benfica – desde o adeus a Renato Sanches – aguentou a pressão do defesa do Besiktas, contornou Fabricio e ajeitou a bola para garantir que o resultado final só podia ser um: a vantagem (mínima) dos encarnados estava feita.
Um cenário negro para as águias da casa, que sonhavam com um voo mais alto, numa temporada onde nunca conheceram o sabor da derrota. E assim continuarão. A surpresa da equipa da casa estava reservada para depois da pausa.
O renascer da águia negra Perante a falta de soluções apresentada pela equipa, Gunes aproveitou o intervalo para mexer na equipa. Tosic, Inler e Tosun foram chamados a campo e o Besiktas desde logo se apresentou com uma agressividade e intensidade que ficou no banco – literalmente – na primeira parte.
Tosun tornou-se o foco do problema do Benfica e aos 58 minutos explicou o porquê ao juntar-se a Semedo na tal categoria há pouco mencionada.
Um pontapé acrobático trouxe a esperança à equipa do Besiktas, numa altura em que o Benfica apenas se destacou na quantidade de oportunidades de golo desperdiçadas. Mitroglou, minutos antes do golo de Tosun, no frente-a-frente com Fabri, não fez melhor do que um remate para fora, a passar o poste direito do guardião. Guedes, poderoso e essencial na primeira parte, repetiu o feito de Mitroglou à passagem do minuto 60, e Rafa, aos 69, chutou… por cima da baliza.
Minutos fatais Um Benfica desorientado, desorganizado e com erros fatais permitiu cada vez mais que o sonho do Besiktas continuasse vivo. Lindelof colocou a mão na área do Benfica, e o penálti bem batido por Ricardo Quaresma foi a vitamina mais do que suficiente para o Besiktas saber que era possível continuar um percurso sem derrotas desde abril, altura em que a equipa se estreou no novo estádio, Vodafone Arena.
O empate chegou a dois minutos do fim da partida, por Aboubakar – o homem mais procurado pelos colegas na primeira parte, mas (quase) sempre apanhado em fora de jogo.
O Benfica não conseguiu, mais uma vez, quebrar a maldição em solo turco e soma mais um empate na Turquia, para além de deixar tudo em aberto para a última jornada.
Os encarnados mantêm o segundo lugar do grupo B, com oito pontos, e só dependem de si para garantir o apuramento para a fase seguinte. O Benfica recebe o Nápoles – que não conseguiu mais do que um empate a zero bolas em Sao Paolo diante do Dínamo de Kiev, que se despediu da competição – a 6 de dezembro, no dia de todas as decisões, data que também pode ficar marcada por um feito único para a comitiva encarnada. Caso o Benfica avance na competição, a equipa da Luz marca presença pelo segundo ano consecutivo nos oitavos-de-final da Liga dos Campeões.
“Silent Cheer” Esta foi a razão para o primeiro minuto da partida ter sido em silêncio (quase) absoluto no Vodafone Arena. O desafio, lançado pelos jogadores do clube turco, era que os adeptos do Besiktas – que detêm o recorde de “assistência mais barulhenta do mundo” – apoiassem a a equipa em… linguagem gestual. Uma iniciativa com uma mensagem concreta, mostrada no vídeo partilhado pelas águias negras. Combater o racismo e, simultaneamente, mostrar as desigualdades que as pessoas com problemas auditivos sentem era o pretendido.
Desafio aceite, desafio cumprido.