ZZ Top. Agora a música é outra

ZZ Top. Agora a música é outra


O campeão do mundo pela França e Bola de Ouro em 1998 chega ao topo da sua carreira de dois anos de treinador: vai comandar o Real Madrid. Rafa Benítez saiu ao fim de 7 meses depois do empate em Valência e foi substituído pelo franco-argelino. Zinedine Zidane é um galático entre galáticos.


Ar sisudo e introvertido. Passavam-lhe a bola, a classe, pintada com seriedade, serenava os colegas e lançava a equipa para o ataque. Nunca esqueceremos aquele penálti no Europeu de 2000 contra Portugal que apurou os franceses e lhes deu o título (Abel Xavier até fecha os olhos a ler isto). Nem o Mundial de 1998, nem a Bola de Ouro- três ao todo (98, 2000 e 2003). Nem a calvície de um homem que se transformou num galático ao lado de Figo, Ronaldo “O Fenómeno” ou Beckam. Mas agora Zinedine Zidane, o maestro “Zizou”, chega ao trono madrileno, substituindo Rafa Benítez para o resto da época 2015-16 para colocar o Real Madrid a vencer. 

E o golo memorável? Sim, aquele que parou tudo e todos no tempo – de pé esquerdo – a 1 de maio de 2002 frente ao Bayern Leverkusen e deu a única Liga dos Campeões ao eterno “número 10” francês? Puffff, recupere a respiração e pare de discutir com os amigos se Zinedine deve entrar no melhor onze de sempre, é que o homem que agora assume o comando técnico dos galácticos tem um currículo invejável e alguns portugueses no caminho, como já se viu.

O filho de imigrantes argelinos começou no Cannes em 88/89 mas é no Bordéus que começa a dar nas vistas. Que o diga Toni, que chega ao clube francês em 1994 e olha para Zidane com 23 anos, sabendo “que não podia durar só 60 minutos” como o presidente lhe tinha dito, pois estava ali um craque. Para o treinador português, graças à carreira do francês em Itália – onde ficou calvo – na Juventus a partir de 1996, Zidane “melhorou física e tecnicamente” o seu futebol. O toque simples foi-se registando como imagem de marca, e Turim vibrava com a sua habilidade. Como agradecimento ajudou a Juventus a conquistar dois scudetti (96/97 e 97/98) e uma Supertaça (1996), uma Taça Intercontinental (no mesmo ano). O seu ar “introvertido” nunca deixou dúvidas a Toni: “Se for 10% do que foi como jogador, a sala de troféus no Bernabéu vai encher”, rematou. E é nesse clube, segundo o treinador campeão pelo Benfica em 1994, que Zidane “atingiu todo o seu esplendor” e que agora o verá como o líder desta orquestra galática.

Mas o franco-argelino fez-se galático às custas do presidente que agora o escolheu, Florentino Pérez. Aliás, tudo começou com o seu primeiro mandato, durante a contratação em 2000 de Luís Figo (fisgado ao Barcelona), e logo se seguiria Zidane (vindo da Juve). Esta foi a promessa futebolística de Pérez, quando muitos não acreditavam na derrota de Lorenzo Sanz. E assim foi. Pessoalmente, Zizou conquistou tudo, a par da tão ansiada Liga dos Campeões e logo com tal monumento emGlasgow contra os alemães. Pode por para trás o vídeo as vezes que quiser, há golos irrepetíveis no campo.

Mas o primeiro treinador francês em 114 anos da história do Real Madrid pendurou as botas com um dos episódios mais parodiados (e tristes, diga-se) do futebol. A cabeçada à Materrazzi no mundial de 2006 em Berlim levou à expulsão de Zidane aos 110’.E sem serenidade, lá se foi o caneco. Isso e o fim dos tais momentos suspensos no ar patrocinados no campo por esta lenda.

Agora, depois de ser adjunto de Ancelloti, diretor desportivo e treinador no Castilla – equipa B do Real – “terá de garantir cumplicidade e compromisso com os jogadores, e aproveitar a almofada dos adeptos”, diz Toni. Em Madrid todos parecem satisfeitos, mas é preciso não esquecer: este Zizou já não joga mais à bola.

jose.capucho@ionline.pt