Para os contorcionistas da verdade, esta ginástica envolve um exercício contínuo de negação e reinterpretação. Devendo constantemente ajustar a sua postura para se alinhar com a versão dos fatos mais conveniente, ignorando deliberadamente qualquer indicador negativo da governação socialista. Enquanto simultaneamente, dobra e estica qualquer indicador positivo, por mais isolado ou insignificante que seja, para conseguir sustentar a ilusão de que, apesar de todas as falhas passadas, o PS é a única esperança para um futuro melhor.
Por outro lado, os equilibristas, com a sua habilidade de caminhar sobre a fina linha da lógica, devem manter um equilíbrio precário entre o reconhecimento tácito das falhas do passado e a promessa otimista de um futuro diferente sob o governo do mesmo partido. Giram e balançam sobre o fio da coerência, desviando a atenção do público das contradições, ousando mesmo proclamar que somente aqueles que estiveram no poder nos últimos 8 anos podem efetivamente corrigir os erros que ocorreram sob o seu mandato.
Os mestres da ilusão, por sua vez, quando surge um problema no país, tentam esconder que o PS governou nos últimos anos. Se o seu truque de ilusionismo político for desmascarado, recorrem a um truque diferente: admitem a existência do problema, mas classificam-no como 'estrutural', profundamente enraizado e cuja origem se perde na névoa do passado. Assim, a responsabilidade é habilmente deslocada para figuras do passado, sendo a favorita Pedro Passos Coelho, evitando assumir a culpa por qualquer problema do presente e do passado.
Incrivelmente, no meio deste espetáculo político que desafia a lógica, destacou-se recentemente a figura do ex-deputado Ricardo Gonçalves, que emergiu como única voz da razão nas últimas cortes do PS. É irónico notar que o mesmo Ricardo Gonçalves foi rotulado, num famoso debate na Comissão de Saúde, como um 'palhaço’. No entanto, parece ter sido o único que não recorreu a truques ou malabarismos retóricos, confrontando de frente o partido com os problemas que a maioria dos portugueses não pode simplesmente ignorar.
Apesar de bem montada, a estratégia de comunicação do PS, quando confrontada com a uma pergunta incisiva de qualquer jornalista, revela-se frágil. Depois de 8 anos de governação, esta narrativa, mesmo que carregada de artifícios, dificilmente se manterá de pé em qualquer debate. Será difícil imaginar Pedro Nuno Santos, ganhar um debate contra qualquer adversário minimamente bem preparado. Não que isso interesse muito, para uma parte do eleitorado, o seu voto já está cativo pelo medo.
Todo este circo político montado é um ato de prestidigitação intelectual, onde atores com habilidades excecionais não aplicam seus talentos para resolver problemas ou implementar reformas, mas sim para sustentar um ciclo de poder estagnado, com a expectativa de que, desta vez, os resultados serão diferentes. Sob a direção discreta de um mestre de cerimónias, estes atores continuam a executar os seus truques sabendo que têm por baixo uma rede de segurança robusta – não de cordas, mas de fazedores de opinião influentes, que tecem uma malha de narrativas favoráveis, mantendo um centro político enviesado. Esta rede de apoio mediático e de apparatchiks nas redes sociais garante que, mesmo que o sistema político oscile para os Sociais Democratas da direita, isso será apenas um pequeno intervalo até ao próximo ciclo de governação socialista. Um circo que continuará enquanto a ilusão durar.