A importância da China, sendo óbvia, resulta também da atenção que lhe é dedicada pelos EUA. Desde 2009 que a Administração Obama anunciou uma aposta na Ásia, uma sinédoque que pretendia identificar a China como o principal alvo de uma nova política de dissuasão, o que implicaria desinvestir na Europa e no Médio Oriente. Nos últimos anos as distracções têm sido bastantes e poderosas, retirando energia à aposta americana no Pacífico, o eufemismo para a prioridade dada à China. A invasão da Ucrânia no início de 2022 devolveu a guerra quente à Europa, tornou a NATO sexy, ressuscitou da arqueologia industrial algumas das indústrias de defesa do continente (incluindo as fábricas de munições pesadas que os franceses, derrotados em 1871, deslocaram prudentemente para o Sud-Ouest, o mais longe possível dos invasores prussianos) e devolveu Putin à condição de actor político relevante na esfera internacional. A União Europeia está muito longe de conseguir financiar a totalidade da participação da Ucrânia na guerra caso Trump seja re-eleito a 5 de Novembro e se lembre de fechar o livro de cheques. A China tem beneficiado das sanções ocidentais contra a Rússia, comprando a preço de saldo petróleo, gás natural e outras matérias-primas. Mas Pequim considera perigosa a aventura de Putin e não tem fornecido equipamento militar a Moscovo.
Depois dos ataques de 7 de Outubro de 2023, a invasão israelita de Gaza (e o endurecer da repressão dos palestinianos na Cisjordânia) pesa muito no afastar de Washington da componente “desinvestir no Médio Oriente” da aposta na Ásia. Estando eminente um acordo regional entre Israel e a Arábia Saudita, numa santa aliança contra o Irão e os seus satélites, o ataque do Hamas a Israel obrigou ao regresso de Washington à região. A prática dos EUA de desencadear ataques contra entidades não estaduais nos territórios dos Estados que não querem ou não conseguem controlar grupos armados (mais recentemente os ataques às forças Houtis no Iémen) está alegremente a ser copiada pelos Estados da região. Depois de um atentado no seu território, Teerão bombardeou esta semana grupos sunitas na Síria, no Iraque e no Paquistão, aos quais imputou a autoria do atentado bombista. Islamabad já retaliou, bombardeando alvos no Baluchistão iraniano. Contrariando o desejo de afastamento dos EUA, o conflito no Médio Oriente corre o risco de se transformar numa guerra com várias frentes. A China não tem um papel activo na região, quer manter abertas as rotas marítimas internacionais e, não obstante a simpatia pela causa palestiniana, não irá alimentar um islamismo que persegue acirradamente dentro de portas.
O crescimento económico mantém-se a primeira prioridade de Pequim. Enquanto a economia crescer e for possível partilhar riqueza, o capitalismo de partido único manter-se-á como base do contrato social e permitirá o controlo da população, IA ajudando. O crescimento económico chinês não vive apenas do mercado interno (onde os sinais de alarme se acumulam: quebra demográfica, rebentar da bolha imobiliária, bancos fantasma e gigantescas empresas públicas inviáveis), as exportações são fundamentais. Em 2001 a entrada da China para a OMC foi vista por muitos como a cedência a uma ditadura que não segue as regras ocidentais em matéria de direitos dos trabalhadores, ambiente, propriedade intelectual e concorrência. Mas também trouxe a China para a rede do comércio internacional, criando interdependências e tornando Pequim o mais vocal defensor do “comércio livre”.