Em Portugal, a idade média da mãe ao nascimento do primeiro filho é aos 30,8 anos. Desde 1983 que a idade média das mulheres que são mães pela primeira vez tem a vindo a aumentar todos os anos: há 40 anos era 23,5. Já a idade média das mães que têm filhos é 32,2 e a curva também tem sido sempre ascendente, segundo os dados da Pordata.
Os números revelam uma tendência que explica o aumento das complicações dos problemas clínicos e até sociais inerentes a esta nova realidade: um terço dos bebés que nasceram o ano passado tinham mães com 35 ou mais anos, o que reflete um aumento de cerca de 7 por cento em comparação com o ano anterior. Cerca de 65% dos nascimentos corresponderam a mães com idades dos 20 aos 34 anos e 1,9% a mães com menos de 20 anos. Em 2020, 5,3% do total dos primeiros filhos nasceram de mulheres com 40 ou mais anos: 2416 tinham 40 ou mais anos e vinte bebés nasceram de mães que tinham pelo menos 50 anos. “Uma tendência que não se irá inverter”, antevê o professor Jorge Lima, Coordenador do Centro de Alto Risco Obstétrico do Hospital da Luz Lisboa. “Há dez anos, apenas 4% dos nascimentos neste hospital eram de mães com mais de 40 anos. Hoje, são 14%”, relata este especialista o jornal i. E acrescenta: “É raríssimo encontrar mães com menos de 30 anos”. Toda elas mães de primeira de viagem. “Ainda o mês passado, realizei três partos em que as mães tinham 50 anos”, conta. Os especialistas apontam como idade ideal para o início da maternidade até aos 35 anos. Depois disso são exigidos maiores cuidados. É a partir desta idade que o risco de surgirem abortos espontâneos, maior dificuldade de engravidar ou doenças genéticas aumenta. A Trissomia 21, por exemplo, tem uma prevalência de 1 para 2 mil casos até aos 34 anos, aos 35 anos passa de 1 para 200, aos 40 anos é de 1 para 90 casos e de 1 para cada 35 nascimentos quando a idade das mães é mais de 45 anos.
Adiar até ao limite
As razões que se prendem com este adiamento da maternidade são várias. E a primeira é o planeamento: as mulheres são mães quando optam por ser é não porque acontece. E a programação leva a que se racionalize ao pormenor esta decisão. Que se considerem todas as condições, as vantagens e as desvantagens de ter filhos, que se encontre a estabilidade e segurança. O aumento da esperança de vida, a aposta na formação ou na carreira profissional e a construção de uma relação estável vão protelando esta decisão até ao limite. “As mulheres de hoje são independentes, grande parte delas vivem sozinhas e têm as suas carreiras”, explica este médico. Nas suas turmas do curso de Medicina onde é professor, 80 por cento dos alunos são mulheres. “Depois de se formarem, mais a especialidade, o internato e conseguirem iniciar uma carreira, já passaram os 30 anos. É assim aqui como deve ser em muitas outras áreas. Por isso, vão adiando a maternidade até ao limite”, explica. Este novo perfil social de independência das mulheres é a causa principal do adiamento da maternidade. Isto e a dificuldade em conciliar a vida profissional com a familiar. O que explica que este fenómeno do adiamento da maternidade não seja tão tardio nos países nórdicos, em que a licença de maternidade chega aos três anos. “Grande parte das mulheres que acompanho vivem sozinhas e as que não vivem, muitas chegam com homens mais novos”, revela.
Novas técnicas
Apesar dos riscos da maternidade tardia, é também o avanço da ciência que a permite. Os riscos existem, mas é possível ser mãe com mais de 40 anos ou mesmo aos cinquenta devido ao desenvolvimento que se acentuou nos últimos 20 anos. A ovodoação, um processo que consiste na doação de óvulos por mulheres até aos 35 anos a mulheres que necessitam de óvulos, uma vez que não os produzem em quantidade ou qualidade suficiente para formar embriões viáveis e consolidar a gravidez, permite a ansiada maternidade numa idade em que é quase impossível engravidar. Em Portugal, este procedimento é autorizado até aos 49 anos mais 354 dias, em Espanha, um ano mais tarde. O que permite a muitas mulheres recorrerem esta técnica em Espanha e terem os filhos em território nacional.
Com estas técnicas é também possível ter filhos depois de ultrapassadas determinadas patologias, como seja cancro. O que há relativamente poucos anos seria impensável, explica o especialista. Quanto aos riscos destas maternidades tardias, aquilo que se exige é maior vigilância, é obrigatória a consulta pré-concecional e todos os rastreios necessários de vários tipos de cancro ou de outras patologias, como as crónicas. “Com os devidos cuidados, tudo corre normalmente bem”, garante o clínico.
A ansiedade, essa, é muita. Quanto mais tarde, menos probabilidade de existir um plano B. E, nestes casos de maternidade tardia, raramente há segunda oportunidade para se partir para outra gravidez.