Sim… Mas não


Impedir a transmissão (das reuniões de órgãos municipais), não sabendo sopesar os interesses em conflito, é um mau serviço à transparência e à participação cívica.


Em Coimbra existe uma rua projectada há mais de 70 anos que só agora se irá (ainda não está concluída!) concluir e que esteve na origem da denominação de uma zona – o Bota-Abaixo.

As dezenas de anos que levamos para a escolha da localização do aeroporto ou as também já dezenas de anos para um novo olhar para projectos centrais de desenvolvimento (como é o caso de Sines), matérias que hoje readquiriram nova dimensão por motivos conhecidos, faz-nos reflectir se estamos a ficar achinesados nesta serenidade com que se olha o passar do tempo…

Mas não nos iludamos!

Nesta parte do mundo, com excepção, diz-se, de algumas alas do Vaticano, não existe ‘paciência de chinês’.

Quando demoramos muito tempo a decidir e a executar, ou é manifesta incompetência, ou é pactuar com interesses obscuros ou, pior ainda, ambos.

Vejamos a questão do Building Information Modelling (BIM).

Em termos simples é um sistema de projectar construção.

Novo? Não, já tem também alguns largos anos. Tantos que há quem diga que começa a ficar anquilosado. E é, pasme-se, obrigatório há muito tempo em alguns países nossos vizinhos, nomeadamente no sector público, havendo a firme convicção de que contribui para a transparência.

Tudo isto está dito e está escrito mas só agora, com o Plano Mais Habitação, pela primeira vez apareceu a referência ao BIM num texto legal…”determinar  obrigatoriedade … de se apresentar o projecto de arquitectura e os projectos de especialidade modulados digital e parametricamente e coordenados de acordo com a metodologia BIM”.

Mas só para 2025.

E é isto que não se percebe.

Porquê tanto tempo? Porquê tanta demora? Porquê tanto imobilismo?

Outro motivo de incompreensão é a posição da Comissão Nacional de Protecção de Dados relativamente, por exemplo, à transmissão de reuniões de órgãos municipais.

Impedir a transmissão, não sabendo sopesar os interesses em conflito, é um mau serviço à transparência e à participação cívica.

Apelar à transparência, à administração aberta, aos dados abertos, à participação política, por um lado e escamotear informação, apagar, utilizar corrector, provocar situações como as que ocorreram com o Portal Base aumenta um fosso de desconfiança popular inimaginável e obriga-nos a regressar à blague do Professor Marcelo no Gato Fedorento agora readaptado:

É para se ser mais transparente? É!

Mas podemos revelar quem decidiu e quem assinou? Não!

Devemos saber quem elegemos e o que faz e diz? Sim

Mas podemos permitir o acesso com as novas tecnologias? Não!

Perceber o que são dados funcionais e dados pessoais pode ser importante.

Não ser fundamentalista, ter capacidade de ponderação, defender equilíbrios, decidir corajosamente e apontar caminhos e assumir que entre a Assembleia da República e as Assembleias Municipais não há, no que tange a esta matéria especificamente, transmissão das assembleias on line, qualquer diferença substancial é uma exigência.

Reler Byung-Chui Han e, através dele, Bentham também é, crê-se, uma boa sugestão para esse tal equilíbrio e para ter sempre presente as duas faces da moeda ou as múltiplas do poliedro.

 

Coordenador do Centro de Valorização dos Eleitos Municipais da Associação Nacional das Assembleias Municipais

Sim… Mas não


Impedir a transmissão (das reuniões de órgãos municipais), não sabendo sopesar os interesses em conflito, é um mau serviço à transparência e à participação cívica.


Em Coimbra existe uma rua projectada há mais de 70 anos que só agora se irá (ainda não está concluída!) concluir e que esteve na origem da denominação de uma zona – o Bota-Abaixo.

As dezenas de anos que levamos para a escolha da localização do aeroporto ou as também já dezenas de anos para um novo olhar para projectos centrais de desenvolvimento (como é o caso de Sines), matérias que hoje readquiriram nova dimensão por motivos conhecidos, faz-nos reflectir se estamos a ficar achinesados nesta serenidade com que se olha o passar do tempo…

Mas não nos iludamos!

Nesta parte do mundo, com excepção, diz-se, de algumas alas do Vaticano, não existe ‘paciência de chinês’.

Quando demoramos muito tempo a decidir e a executar, ou é manifesta incompetência, ou é pactuar com interesses obscuros ou, pior ainda, ambos.

Vejamos a questão do Building Information Modelling (BIM).

Em termos simples é um sistema de projectar construção.

Novo? Não, já tem também alguns largos anos. Tantos que há quem diga que começa a ficar anquilosado. E é, pasme-se, obrigatório há muito tempo em alguns países nossos vizinhos, nomeadamente no sector público, havendo a firme convicção de que contribui para a transparência.

Tudo isto está dito e está escrito mas só agora, com o Plano Mais Habitação, pela primeira vez apareceu a referência ao BIM num texto legal…”determinar  obrigatoriedade … de se apresentar o projecto de arquitectura e os projectos de especialidade modulados digital e parametricamente e coordenados de acordo com a metodologia BIM”.

Mas só para 2025.

E é isto que não se percebe.

Porquê tanto tempo? Porquê tanta demora? Porquê tanto imobilismo?

Outro motivo de incompreensão é a posição da Comissão Nacional de Protecção de Dados relativamente, por exemplo, à transmissão de reuniões de órgãos municipais.

Impedir a transmissão, não sabendo sopesar os interesses em conflito, é um mau serviço à transparência e à participação cívica.

Apelar à transparência, à administração aberta, aos dados abertos, à participação política, por um lado e escamotear informação, apagar, utilizar corrector, provocar situações como as que ocorreram com o Portal Base aumenta um fosso de desconfiança popular inimaginável e obriga-nos a regressar à blague do Professor Marcelo no Gato Fedorento agora readaptado:

É para se ser mais transparente? É!

Mas podemos revelar quem decidiu e quem assinou? Não!

Devemos saber quem elegemos e o que faz e diz? Sim

Mas podemos permitir o acesso com as novas tecnologias? Não!

Perceber o que são dados funcionais e dados pessoais pode ser importante.

Não ser fundamentalista, ter capacidade de ponderação, defender equilíbrios, decidir corajosamente e apontar caminhos e assumir que entre a Assembleia da República e as Assembleias Municipais não há, no que tange a esta matéria especificamente, transmissão das assembleias on line, qualquer diferença substancial é uma exigência.

Reler Byung-Chui Han e, através dele, Bentham também é, crê-se, uma boa sugestão para esse tal equilíbrio e para ter sempre presente as duas faces da moeda ou as múltiplas do poliedro.

 

Coordenador do Centro de Valorização dos Eleitos Municipais da Associação Nacional das Assembleias Municipais