Para o amor, estes são bichos raros


Entre os momentos em que debicam sementes e exploram a instalação que ocupam no Jardim Zoológico, o dia-a- -dia do casal de araras-jacintas é passado aos beijinhos. “São dos animais mais carinhosos que temos no zoo”, garante a curadora Telma Araújo, para quem já é normal ver os dois animais em constantes carinho e, às…


Entre os momentos em que debicam sementes e exploram a instalação que ocupam no Jardim Zoológico, o dia-a- -dia do casal de araras-jacintas é passado aos beijinhos. “São dos animais mais carinhosos que temos no zoo”, garante a curadora Telma Araújo, para quem já é normal ver os dois animais em constantes carinho e, às vezes, em algo mais atrevido. “São especialmente amorosos de manhã”, brinca.

Seja no habitat natural seja no Jardim Zoológico, esta espécie de araras é conhecida por formar casais para a vida, sendo possível encontrá-los dois a dois ou em pequenos bandos familiares. O único casal do zoo está junto desde 2004, ano em que a fêmea se veio juntar ao macho, que vive no zoo há 18 anos. “Tal como acontece em outros casais, nem sempre há compatibilidade”, explica Telma. Foi o que aconteceu com a anterior fêmea, pela qual nunca mostrou interesse, talvez por ser bem mais velha. “Com esta, o interesse foi quase momentâneo e não se largam desde o primeiro dia.” Ainda não tiveram crias mas já fizeram postura, expressão de entendidos para explicar o momento em que a fêmea põe os ovos. No caso das araras-jacintas, nunca são postos mais que dois ovos, sendo que, no limite, só uma cria é viável. Até para a procriação, o facto de se manterem em casal traz vantagens. “É tal o compromisso e a dedicação, que só conseguem manter uma cria, na qual focam toda a sua atenção como casal”, refere Telma.

Na dinâmica dos dois, a fêmea é a mais curiosa e o macho mantém-se à retaguarda. É prática comum em todo o zoo, a mudança nas instalações dos animais para que sejam activados todos os sentidos. “Neste caso, é sempre ela que sai para explorar, o macho fica sempre à espera que ela faça esse primeiro contacto.” Telma fala facilmente em macho e fêmea, apesar da diferença só poder ser detectada através de análises de ADN. “Como não têm órgão reprodutor visível, adquirimos pequenos truques para os distinguir”, deixando as dicas em segredo.

Umas instalações mais à frente, as diferenças entre macho e fêmea não deixam margem para dúvidas.

A macaca Tânia é a que anda com o bebé Camile agarrado às pernas. Mais isolado está o pai Tuppence, que partilha com a cria mais velha, Puk, as sementes dadas pela tratadora. Maria da Paz esclarece que estes não são os nomes oficiais, mas depois de tantos anos a tratar destes animais, é quase inevitável não os baptizar.

Apesar de momentaneamente separados aquando da nossa chegada, os elementos da espécie Gibão- -de-mãos-brancas estão unidos para a vida. Os animais organizam-se em casal e vivem em família até ao nascimento da terceira cria. Aí, o mais velho é expulso do grupo e, depois de um tempo isolado, procura companhia para formar a sua própria família. “Serem monogâmicos é uma forma de se protegerem das ameaças da natureza”, explica Maria da Paz. Como se alimentam de folhas e frutas, se andassem em grupos grandes ficavam rapidamente sem alimentos, mas se vivessem sozinhos, estavam inevitavelmente mais expostos aos perigos.

Ao se juntarem em casal, os dois animais conjugam as entoações até criarem uma vocalização comum que serve para marcar o território. “São um casal bastante prático, que divide muito as tarefas, tanto de alimentação como de criação dos filhos”, refere a tratadora. Quanto às demonstrações de afecto, essas são mais raras. “Quase como acontece nas relações entre humanos, o carinho é mais frequente no início da relação”, brinca a tratadora, lembrando, no entanto, que é comum ver uma aproximação do casal quando a fêmea está a dias de parir.

Quase como vizinhas, os macacos Gibão-de-mãos–brancas têm a nova atracção do zoo, também ela “uma espécie de demonstração de amor”, como explica a tratadora Diana Amaral. A cria de órix-de–cimitarra nasceu há dois meses. Com 15 quilos, está ainda longe dos 200 quilos que um animal desta espécie pode atingir. No entanto, já está integrada no grupo e até já foi vista a provar do feno que alimenta a manada. Como família tem um pai, uma mãe e várias outras “mães” que se juntam ao grupo. Em liberdade, o grupo pode atingir as nove fêmeas para um macho dominante. “Neste caso não é um amor para a vida, mas sim um harém fiel para a vida toda”, refere a tratadora. Apesar de ter sempre uma escolha diversificada, o macho tem tendência a focar a sua atenção em apenas uma fêmea de cada vez, não descansando até conseguir acasalar. A fêmea escolhida é protegida pela manada, assim como a cria, desde o momento que nasce. Sendo uma espécie extinta no seu habitat natural, o nascimento de uma cria “dá esperança de a podermos voltar a ver em locais que não zoos ou reservas naturais”, lembra Diana.

A cria de Órix-de-cimitarra, a par da família de Gibão-de-mãos-brancas e o casal de araras-jacinta fazem parte da rota dos “Amores Raros” que o Jardim Zoológico de Lisboa organiza para assinalar o Dia dos Namorados. J