Apetece-lhe ir votar?


Essa é uma das perguntas principais de um tempo político em que o dia de reflexão deveria mesmo servir para decidir em quem votar.


1. Todos conhecemos de sobra o slogan de que votar é um dever cívico e que abster-se é deixar outros decidirem por nós. É tudo verdade. Mas será que a classe política merece objetivamente que os portugueses se deem ao trabalho de sair de casa e porem o papelinho nas urnas? É essa a primeira pergunta a que cada um de nós vai ter de responder no dia 10 de março, no final do inverno que aí vem. E se estiver chuva e vento (esperemos que não) ainda pior. O que nos tocou desde o princípio do século não é propriamente motivador, ainda que por razões diversas. Vejamos: em 2002, António Guterres perdeu umas autárquicas e desalvorou para se livrar do pântano em que o país se afundava. E na verdade, desde então, nunca mais tivemos um crescimento digno desse nome, como indicam todas as estatísticas, designadamente as comparativas com os nossos parceiros europeus. Seguiu-se, até 2004, Durão Barroso que, a meio da sua jornada, nos deixou plantados e abalou para Bruxelas para liderar a União Europeia. Dali só voltou para breves visitas, passando a gozar o colinho do Goldman Sachs. Para o seu lugar saltou Santana Lopes e um governo de seis meses que foi pontualmente errático, mas que, verdade se diga, foi alvo de uma inaudita hostilidade, que começou logo no próprio PPD/PSD. Embora controversos, esses três primeiros governos soçobraram à política e não propriamente a qualquer tipo de escândalos trapaceiros. Desgraçadamente, os portugueses viraram-se depois, por duas vezes, para José Sócrates, chamando novamente o PS. A criatura ganhou sempre nas urnas, primeiro com maioria absoluta e depois sem ela, uma vez que, apesar da asfixia democrática, Manuela Ferreira Leite conseguiu retirar-lhe a maioria absoluta de que chegou a dispor. Sócrates governou de 2005 a 2011. Primeiro esteve bem e teve o apoio do Presidente Cavaco. Depois, miseravelmente, criando uma oligarquia política que tudo dominou e condicionou, montando uma inacreditável teia de interesses, protagonizada por algumas criaturas políticas e empresariais pouco recomendáveis, como se tem visto nos inúmeros casos em que se foram envolvendo até hoje. Tudo acabou no dia em que o país faliu e desembarcaram os cavalheiros a que chamámos troika. Veio, então, através de eleições, uma coligação PSD/CDS liderada por Pedro Passos Coelho que conseguiu estabilizar as contas públicas, recorrendo a um tal Gaspar (hoje influente estudioso do Fundo Monetário Internacional e especialista em modelos torturadores de países falidos). Impuseram inauditos (e até inúteis) sacrifícios a todos os cidadãos, numa austeridade terrível exigida pela troika que eles próprios fizeram questão de ultrapassar. Passos teve dois governos que duraram entre 2011 e 2015. Apesar do aperto de cinto, os portugueses deram-lhe um voto de confiança chegado ao termo da legislatura. A sua coligação com o CDS foi a mais votada, sem, porém, conseguir passar no parlamento. Vai daí, constituiu um governo de personalidades que durou apenas um mês. Com rara habilidade, o socialista António Costa, que, entretanto, tinha assassinado politicamente o líder socialista António José Seguro, saltou sobre a ocasião e criou a chamada geringonça, com o apoio da CDU (PCP e Verdes). Costa e um tal Mário Centeno como ministro das finanças usaram o método subtil da cativação das verbas inscritas no Orçamento do Estado. Ou seja, fizeram outro tipo de austeridade. O efeito ilusionista foi triunfal. E Costa, finalmente, legitimou-se totalmente ao vencer com uma inesperada maioria absoluta as eleições antecipadas convocadas depois dos seus parceiros de esquerda lhe terem chumbado o Orçamento. O PS de Costa esmagou o PSD de um Rui Rio que nunca acertou politicamente, embora tivesse razão em certos alertas que foi dando. Os portugueses não ligaram aos primeiros “casos e casinhos” surgidos nesse primeiro Governo Costa. O resultado mostrou que o traumatismo causado pela governação Passos/Portas se manteve. Sentado na inesperada benesse maioritária, Costa tem-se mantido no poder, liderando um executivo descontrolado no qual ocorreram um recorde de 14 demissões em 9 meses, mostrando uma degradação política e ética sem igual. Até ao dia em que se demitiu por causa do seu nome ser citado num inquérito judiciário, envolvendo governantes, figuras socialistas e negócios que, alegadamente, avançaram com recurso a tráfico de influência. Face ao caso, e por ser citado num comunicado, o chefe do Governo percebeu que ficaria sempre numa situação insustentável. Ainda tentou arranjar uma alternativa. No caso, o tal Centeno, entretanto instalado no Banco de Portugal a ganhar um balúrdio. Só que o Presidente Marcelo andava meio amuado com Costa e optou de imediato por chamar novamente os portugueses às urnas, o que, estando certo eticamente, não era obrigatório, dada a maioria absoluta de que o PS continua a dispor. É, a traços largos, neste quadro político que temos vivido este século, desde que Guterres decidiu desertar. Portugal foi sempre definhando. Perdeu lugares no ranking da União Europeia e desprestigiou-se. Empresas e bancos nacionais que achávamos fortes pura e simplesmente desapareceram ou foram vendidos em parcelas. Valeu-nos uma conjuntura externa dinâmica que animou as exportações como o turismo e disfarçou a incompetência de uma classe política desprestigiada, que muitos portugueses entendem ser toda farinha do mesmo saco. Esta conjuntura de degradação ética e económica permitiu que, à esquerda e à direita, nascessem movimentos radicais e populistas que congregam votos, mudando potencialmente o quadro eleitoral e dificultando a existência de maiorias estáveis. Isto enquanto os portugueses moderados trabalham, esforçam-se e são solidários com os seus familiares e amigos num país que se vai esvaziando dos melhores, recebe imigrantes pobres e perde valor, tornando-se também pasto de interesses obscuros. Muitos nativos sentem-se traídos e desanimados pela circunstância do Estado estar a falhar nas coisas básicas como a Saúde, a Segurança Social, a Justiça, a Defesa, a Segurança e a administração local, também ela enxameada de casos. Face ao quadro, percebe-se a tentação enorme de ficar em casa depois de 23 anos de estagnação e recuos. Mas há que reagir. Votar, mesmo que em branco (o nulo não é nada), continua a ser a melhor arma, num tempo em que há cada vez mais tentações totalitárias no mundo ocidental, enquanto ditaduras ganham espaço fora dele. O panorama não é apetecível. Mas há que fazer um esforço e ir às urnas. E sobretudo utilizar bem o dia de reflexão, que se vai tornar mais necessário do que nunca após uma campanha que se advinha suja. É preciso notar que o eleitorado moderado em Portugal atingia geralmente entre 55 e 60%, patamar que tem vindo a reduzir face aos escândalos e à desilusão subsequente. Compete aos dirigentes máximos desse espaço proceder a uma regeneração e integrar gente capaz, bem formada, competente, abandonando a rede de aparelhistas que tomou conta da política. Mais do mesmo. Nomes iguais. Passados dúbios. Jotinhas. Modos de vida estranhos é que não. Sem uma renovação baseada em vidas com provas dadas, a vontade de ir às urnas pode dar lugar à indiferença. E logo no ano em que festejamos 50 anos de uma democracia que está longe de ser o que sonhámos e que não nos retirou da cauda de uma Europa rica, à conta da qual vamos sobrevivendo. Até que ela se canse deste fardo. Já não deve faltar muito porque o espaço europeu pretende alargar-se novamente, mobilizando as ajudas para os candidatos.

 

2. Na semana passada referiu-se aqui que um programa Sexta às 9 de 2019 não foi transmitido antes das eleições, sendo transferido para depois. O programa tinha a ver com o tema do lítio. Por não ser correta, a informação tem de ser clarificada, até porque em abril o tema foi tratado nesse mesmo programa como se pode ir ver no RTP-Play. O que sucedeu é que foi decidido alterar a programação, em setembro, um mês antes da ida às urnas, fazendo uma cobertura intensiva da campanha. A grelha habitual foi retomada após as eleições. E assim a coordenadora do programa, Sandra Felgueiras, retomou o Sexta às 9, entrevistando na altura de forma polémica João Galamba (então secretário de Estado da Energia), o qual exigiu que tal acontecesse em direto, como foi o caso. A forma como há oito dias se abordou o assunto indiciava uma ação dirigida em concreto contra o programa de Felgueiras, o que não aconteceu. Por ter induzido em erro os leitores e por ter afetado (não citando) quem tomou as decisões legítimas (e talvez controversas), o signatário entende fazer este esclarecimento, assumindo que contou mal a realidade dos factos.

Apetece-lhe ir votar?


Essa é uma das perguntas principais de um tempo político em que o dia de reflexão deveria mesmo servir para decidir em quem votar.


1. Todos conhecemos de sobra o slogan de que votar é um dever cívico e que abster-se é deixar outros decidirem por nós. É tudo verdade. Mas será que a classe política merece objetivamente que os portugueses se deem ao trabalho de sair de casa e porem o papelinho nas urnas? É essa a primeira pergunta a que cada um de nós vai ter de responder no dia 10 de março, no final do inverno que aí vem. E se estiver chuva e vento (esperemos que não) ainda pior. O que nos tocou desde o princípio do século não é propriamente motivador, ainda que por razões diversas. Vejamos: em 2002, António Guterres perdeu umas autárquicas e desalvorou para se livrar do pântano em que o país se afundava. E na verdade, desde então, nunca mais tivemos um crescimento digno desse nome, como indicam todas as estatísticas, designadamente as comparativas com os nossos parceiros europeus. Seguiu-se, até 2004, Durão Barroso que, a meio da sua jornada, nos deixou plantados e abalou para Bruxelas para liderar a União Europeia. Dali só voltou para breves visitas, passando a gozar o colinho do Goldman Sachs. Para o seu lugar saltou Santana Lopes e um governo de seis meses que foi pontualmente errático, mas que, verdade se diga, foi alvo de uma inaudita hostilidade, que começou logo no próprio PPD/PSD. Embora controversos, esses três primeiros governos soçobraram à política e não propriamente a qualquer tipo de escândalos trapaceiros. Desgraçadamente, os portugueses viraram-se depois, por duas vezes, para José Sócrates, chamando novamente o PS. A criatura ganhou sempre nas urnas, primeiro com maioria absoluta e depois sem ela, uma vez que, apesar da asfixia democrática, Manuela Ferreira Leite conseguiu retirar-lhe a maioria absoluta de que chegou a dispor. Sócrates governou de 2005 a 2011. Primeiro esteve bem e teve o apoio do Presidente Cavaco. Depois, miseravelmente, criando uma oligarquia política que tudo dominou e condicionou, montando uma inacreditável teia de interesses, protagonizada por algumas criaturas políticas e empresariais pouco recomendáveis, como se tem visto nos inúmeros casos em que se foram envolvendo até hoje. Tudo acabou no dia em que o país faliu e desembarcaram os cavalheiros a que chamámos troika. Veio, então, através de eleições, uma coligação PSD/CDS liderada por Pedro Passos Coelho que conseguiu estabilizar as contas públicas, recorrendo a um tal Gaspar (hoje influente estudioso do Fundo Monetário Internacional e especialista em modelos torturadores de países falidos). Impuseram inauditos (e até inúteis) sacrifícios a todos os cidadãos, numa austeridade terrível exigida pela troika que eles próprios fizeram questão de ultrapassar. Passos teve dois governos que duraram entre 2011 e 2015. Apesar do aperto de cinto, os portugueses deram-lhe um voto de confiança chegado ao termo da legislatura. A sua coligação com o CDS foi a mais votada, sem, porém, conseguir passar no parlamento. Vai daí, constituiu um governo de personalidades que durou apenas um mês. Com rara habilidade, o socialista António Costa, que, entretanto, tinha assassinado politicamente o líder socialista António José Seguro, saltou sobre a ocasião e criou a chamada geringonça, com o apoio da CDU (PCP e Verdes). Costa e um tal Mário Centeno como ministro das finanças usaram o método subtil da cativação das verbas inscritas no Orçamento do Estado. Ou seja, fizeram outro tipo de austeridade. O efeito ilusionista foi triunfal. E Costa, finalmente, legitimou-se totalmente ao vencer com uma inesperada maioria absoluta as eleições antecipadas convocadas depois dos seus parceiros de esquerda lhe terem chumbado o Orçamento. O PS de Costa esmagou o PSD de um Rui Rio que nunca acertou politicamente, embora tivesse razão em certos alertas que foi dando. Os portugueses não ligaram aos primeiros “casos e casinhos” surgidos nesse primeiro Governo Costa. O resultado mostrou que o traumatismo causado pela governação Passos/Portas se manteve. Sentado na inesperada benesse maioritária, Costa tem-se mantido no poder, liderando um executivo descontrolado no qual ocorreram um recorde de 14 demissões em 9 meses, mostrando uma degradação política e ética sem igual. Até ao dia em que se demitiu por causa do seu nome ser citado num inquérito judiciário, envolvendo governantes, figuras socialistas e negócios que, alegadamente, avançaram com recurso a tráfico de influência. Face ao caso, e por ser citado num comunicado, o chefe do Governo percebeu que ficaria sempre numa situação insustentável. Ainda tentou arranjar uma alternativa. No caso, o tal Centeno, entretanto instalado no Banco de Portugal a ganhar um balúrdio. Só que o Presidente Marcelo andava meio amuado com Costa e optou de imediato por chamar novamente os portugueses às urnas, o que, estando certo eticamente, não era obrigatório, dada a maioria absoluta de que o PS continua a dispor. É, a traços largos, neste quadro político que temos vivido este século, desde que Guterres decidiu desertar. Portugal foi sempre definhando. Perdeu lugares no ranking da União Europeia e desprestigiou-se. Empresas e bancos nacionais que achávamos fortes pura e simplesmente desapareceram ou foram vendidos em parcelas. Valeu-nos uma conjuntura externa dinâmica que animou as exportações como o turismo e disfarçou a incompetência de uma classe política desprestigiada, que muitos portugueses entendem ser toda farinha do mesmo saco. Esta conjuntura de degradação ética e económica permitiu que, à esquerda e à direita, nascessem movimentos radicais e populistas que congregam votos, mudando potencialmente o quadro eleitoral e dificultando a existência de maiorias estáveis. Isto enquanto os portugueses moderados trabalham, esforçam-se e são solidários com os seus familiares e amigos num país que se vai esvaziando dos melhores, recebe imigrantes pobres e perde valor, tornando-se também pasto de interesses obscuros. Muitos nativos sentem-se traídos e desanimados pela circunstância do Estado estar a falhar nas coisas básicas como a Saúde, a Segurança Social, a Justiça, a Defesa, a Segurança e a administração local, também ela enxameada de casos. Face ao quadro, percebe-se a tentação enorme de ficar em casa depois de 23 anos de estagnação e recuos. Mas há que reagir. Votar, mesmo que em branco (o nulo não é nada), continua a ser a melhor arma, num tempo em que há cada vez mais tentações totalitárias no mundo ocidental, enquanto ditaduras ganham espaço fora dele. O panorama não é apetecível. Mas há que fazer um esforço e ir às urnas. E sobretudo utilizar bem o dia de reflexão, que se vai tornar mais necessário do que nunca após uma campanha que se advinha suja. É preciso notar que o eleitorado moderado em Portugal atingia geralmente entre 55 e 60%, patamar que tem vindo a reduzir face aos escândalos e à desilusão subsequente. Compete aos dirigentes máximos desse espaço proceder a uma regeneração e integrar gente capaz, bem formada, competente, abandonando a rede de aparelhistas que tomou conta da política. Mais do mesmo. Nomes iguais. Passados dúbios. Jotinhas. Modos de vida estranhos é que não. Sem uma renovação baseada em vidas com provas dadas, a vontade de ir às urnas pode dar lugar à indiferença. E logo no ano em que festejamos 50 anos de uma democracia que está longe de ser o que sonhámos e que não nos retirou da cauda de uma Europa rica, à conta da qual vamos sobrevivendo. Até que ela se canse deste fardo. Já não deve faltar muito porque o espaço europeu pretende alargar-se novamente, mobilizando as ajudas para os candidatos.

 

2. Na semana passada referiu-se aqui que um programa Sexta às 9 de 2019 não foi transmitido antes das eleições, sendo transferido para depois. O programa tinha a ver com o tema do lítio. Por não ser correta, a informação tem de ser clarificada, até porque em abril o tema foi tratado nesse mesmo programa como se pode ir ver no RTP-Play. O que sucedeu é que foi decidido alterar a programação, em setembro, um mês antes da ida às urnas, fazendo uma cobertura intensiva da campanha. A grelha habitual foi retomada após as eleições. E assim a coordenadora do programa, Sandra Felgueiras, retomou o Sexta às 9, entrevistando na altura de forma polémica João Galamba (então secretário de Estado da Energia), o qual exigiu que tal acontecesse em direto, como foi o caso. A forma como há oito dias se abordou o assunto indiciava uma ação dirigida em concreto contra o programa de Felgueiras, o que não aconteceu. Por ter induzido em erro os leitores e por ter afetado (não citando) quem tomou as decisões legítimas (e talvez controversas), o signatário entende fazer este esclarecimento, assumindo que contou mal a realidade dos factos.