Ainda que oscilando ao longo da última década, os acidentes nas estradas portuguesas mostram uma tendência ténue de crescimento ao longo dos anos, e o mesmo pode dizer-se no que diz respeito às vítimas (mortos e feridos).
Segundo os dados da Autoridade Nacional da Segurança Rodoviária (ANSR), em 2013 foram registados em Portugal Continental 30339 acidentes com vítimas – 5149 atropelamentos, 15369 colisões e 9821 despistes – dos quais resultaram 38872 feridos e 637 mortos. Em 2022, foi registado um total de 32788 acidentes com vítimas – menos atropelamentos mas mais despistes e colisões do que em 2013 –, que resultaram num total de 591 vítimas mortais. No entanto, juntando as ilhas – balanço que a ANSR começou a fazer em 2018 –, contabiliza-se um total de 34276 acidentes com vítimas e 618 mortes: 591 no Continente, 13 na Região Autónoma da Madeira e 14 na Região Autónoma dos Açores. Estes são dados de mortos a 30 dias, que diferem dos dados de vítimas mortais a 24 horas.
Os dados da ANSR referentes aos primeiros seis meses deste ano – e que são referentes a 24 horas – mostram que no Continente e nas Regiões Autónomas foram registados mais de 17 mil acidentes com vítimas, 238 vítimas mortais, 1226 feridos graves e 19886 feridos leves.
Comparando com o ano de referência, que é 2019, registaram-se no Continente e nas Regiões Autónomas menos 288 acidentes (-1,7%), menos 22 vítimas mortais (-8,5%), mais 65 feridos graves (+5,6%) e menos 1070 feridos leves (-5,1%). Olhando apenas para o Continente, o primeiro semestre conta com 16419 acidentes com vítimas, dos quais resultaram 233 vítimas mortais, 1120 feridos graves e 19092 feridos leves.
Comparando estes dados com os dados de 2013, a ANSR diz que “a tendência crescente foi visível nos diversos indicadores, com exceção do índice de gravidade (-14,8%)”. E, fazendo a comparação com 2019, “metade dos indicadores de sinistralidade apresentaram resultados decrescentes: menos 249 acidentes (-1,5%) e menos 994 feridos leves (-4,9%)”.
No entanto, em sentido contrário, o número de vítimas mortais e de feridos graves aumentou (+7 e +72, respetivamente).
E há também diferenças se olharmos para o mesmo período de 2022. “Observaram-se aumentos nos principais indicadores no Continente”. Mais 1358 acidentes (+9%), mais 24 vítimas mortais (+11,5%), mais 53 feridos graves (+5%) e mais 1533 feridos leves (+8,7%). “De salientar que, relativamente a 2022, no primeiro semestre do ano tem vindo a registar-se um aumento da circulação rodoviária com o correspondente acréscimo no risco de acidente”, recorda a ANSR.
Por género de acidente, a colisão foi o mais frequente (53,1% dos acidentes), com 36,9% das vítimas mortais e 45,7% dos feridos graves. Os despistes, que representaram 33,5% do total de acidentes, corresponderam à principal natureza de acidentes na origem das vítimas mortais (49,4%).
Já o número das vítimas mortais foi semelhante dentro (116) e fora das localidades (117).
Comparativamente com os iguais períodos de 2019 e 2022, foi registado um crescimento das vítimas mortais dentro das localidades (+7,4% e +27,5%, respetivamente). Mas o contrário aconteceu fora das localidades, em que a tendência foi decrescente nos períodos em análise (-0,8%, em cada).
O índice de gravidade dos acidentes fora das localidades chegou a 3,46 nos primeiros seis meses de 2023 (3,47 e 3,73 nos períodos homólogos de 2019 e 2022, respetivamente), enquanto dentro das localidades situou-se em 0,89 (0,81 e 0,76 em iguais meses de 2019 e 2022, respetivamente).
Olhando para o balanço do ano 2022, foram registados 34275 acidentes com vítimas no Continente e nas Regiões Autónomas, que resultaram em 473 vítimas mortais, 2436 feridos graves e 40123 feridos leves. Em relação a 2019, registaram-se menos 2976 acidentes (-8,0%), menos 47 vítimas mortais (-9,0%), menos 96 feridos graves (-3,8%) e menos 4830 feridos leves (-10,7%).
Para melhorar estes números, as campanhas são um ponto importante. A mais recente é a Zero Mortos na Estrada. Sobre este assunto, Ana Tomaz, vice-presidente da ANSR, diz que “atualmente temos em média, nos últimos 10 anos, mais de 600 mortes na estrada, mais de 2000 feridos graves”, o que é “também um custo económico e social muito grande”. “Todos os anos são mais de seis mil milhões de euros, 3% do PIB que são consumidos em acidentes rodoviários. Portanto, quando se fala em salvar vidas, a única meta só pode ser zero mortes e zero feridos graves”, diz num vídeo publicado no YouTube.
A responsável destaca que, para que os números baixem, “o sistema tem que proteger os nossos erros”. E completa: “Estradas, notas explicativas que induzam os comportamentos mais seguros, estradas tolerantes que mesmo nós ao errarmos elas evitam uma maior consequência, uma morte ou um ferido grave, esse é o caminho”. A responsável adianta ainda que há 25 anos morriam mais 2000 pessoas “e um dos grandes contributos para esta redução foi o investimento em Infraestruturas”, mas as “campanhas são todas importantes para ajudar também a mudar a mentalidade e esta consciencialização das pessoas”.
Desde 2013 até 2022, o ano que contou com mais acidentes em Portugal Continental foi 2019, com 35704 acidentes. Nos anos de pandemia – 2020 e 2021 – foi registada uma redução e os acidentes com vítimas ficaram abaixo dos 30, sem contar com as ilhas.
Os problemas dos atropelamentos Ainda no que diz respeito aos dados relativos a 2022, Portugal Continental registou um total de 32788 acidentes, dos quais resultaram 591 vítimas mortais, sendo 15,2% peões. Os números revelam um crescimento face a 2021, com mais de 37% de vítimas mortais por atropelamento. Mais de metade dos acidentes com vítimas mortais, em 2022, aconteceram dentro de localidades, com o distrito do Porto a liderar este ranking de sinistralidade.
No passado mês de setembro, Rui Gil, diretor de departamento da Zurich Portugal, revelou que a seguradora “tem também registado um aumento de sinistros com peões”, destacando: “Há vários motivos para estas altas taxas de fatalidade e, em particular, para este aumento nos números de sinistralidade de peões. Hoje em dia, assistimos ao surgimento de novas formas de mobilidade – como as bicicletas e trotinetes elétricas – que impactam fortemente a segurança rodoviária. Ao mesmo tempo, sabemos que há mais fontes de distração, como os telemóveis”.
Já José Coutinho, também da Zurich Portugal, defende: “Há ainda a necessidade de priorizar medidas de fiscalização que permitam melhorar a segurança, sobretudo à noite. O esforço entre entidades públicas e privadas, incluindo seguradoras, tem de ser conjunto, de forma a reforçar a segurança rodoviária e a garantir que as nossas localidades são seguras e protegem a vida das pessoas”. E, por isso, defendeu como foco a prevenção: “Temos de consciencializar e incentivar a mudança comportamental, alertando os condutores para que tenham uma condução segura e sem distrações e os peões para que sejam cautelosos e prudentes quando circulam nas ruas. Queremos ajudar os peões e os condutores a protegerem-se de situações inesperadas e alertar para os perigos existentes”.
Segundo os dados da ANSR, nos primeiros seis meses deste ano, existiram 2328 atropelamentos, dos quais 33 resultaram em morte.