TAP. Governo avança com modelo de privatização

TAP. Governo avança com modelo de privatização


Há pelo menos três interessados na alienação da empresa. Ao Nascer do SOL, Sérgio Palma Brito lembra que ‘este Governo opta por uma venda direta como o de Passos Coelho em 2015’.


O Governo deu ontem o tiro de partida para a privatização da TAP, com a aprovação, em Conselho de Ministros, do diploma que enquadra a privatização de pelo menos 51% do capital da empresa, com uma tranche de até 5% reservada aos trabalhadores.

O ministro das Finanças, Fernando Medina, já veio garantir que o processo visa o «crescimento da companhia», com a conservação do hub em Portugal, e o «crescimento do emprego», na perspetiva de que o futuro investidor demonstre essa intenção. E deixou a porta aberta para várias soluções: «Se será 51%, se será 60%, 70%, 80%, ou, até como o senhor primeiro-ministro admitiu – 100% –, isso não está definido, será definido em fase posterior do processo, em função do que o Governo considerar que é essencial em termos de segurança no cumprimento dos objetivos estratégicos definidos», explicou o ministro.

Já João Galamba, ministro das Infraestruturas, defendeu que «não é uma privatização como no passado, em que o Governo dizia que queria vender uma percentagem fixa», mas sim uma operação que visa «cumprir os objetivos estratégicos», o que poderá corresponder a percentagens diferentes.

Apesar das incertezas em relação ao futuro modelo que será seguido, é certo que o CEO da companhia de aviação tem vindo a assumir-se como um «grande defensor da privatização».

O vice-presidente do PSD Miguel Pinto Luz – um dos responsáveis pela privatização no Governo de Passos Coelho –, já deu um cartão vermelho ao Governo, acusando o primeiro-ministro e o PS de gerirem o processo como «cata-ventos eleitorais», com «contorcionismo político e populismo» e lamentando que o Executivo aceite agora privatizar a TAP porque «se tornou um ativo tóxico comunicacional». E acrescentou: «Hoje cai totalmente a máscara ao primeiro-ministro António Costa, as caravelas já não são necessárias e a prioridade é o Governo livrar-se da TAP porque hoje a TAP já é um ativo tóxico comunicacional».

Ao Nascer do SOL, Sérgio Palma Brito, autor do livro TAP que futuro? Como chégamos aqui?, critica o processo em quatro pontos. «O Governo opta por venda direta como o de Passos Coelho em 2015 – excelente, mas recordo as críticas ferozes do PS de então; o Governo vende a TAP SA, a carne do lombo, e ficamos com grupo TAP, os ossos com responsabilidade de 1.200 milhões de euros – em 2015, Passos Coelho vendeu tudo; a comissão de acompanhamento já tem atraso e deve reunir pessoas credíveis e independentes; manter o hub em Lisboa enfrenta problemas com o Tribunal de Justiça da União Europeia».

 

Candidatos perfilam-se

Tal como o Nascer do SOL já tinha avançado, há três empresas que têm vindo a mostrar o seu interesse nesta corrida. Horas depois de o Governo ter aprovado o diploma, a  empresa alemã de aviação Lufthansa sublinhou que as duas empresas «se complementariam muito bem, nomeadamente graças à rede de rotas da TAP para e da América do Sul». Também o  grupo Air France-KLM já se posicionou, referindo: «Temos agora um conhecimento mais aprofundado das expectativas e condições colocadas pelo Executivo português e reiteremos o nosso forte interesse na privatização da TAP». Uma tendência seguida pelo concorrente grupo IAG, dono da British Airways e da Iberia, que ainda antes do Executivo ter revelado o processo referiu que quer continuar a ser um ator da consolidação no setor. «Estamos sempre abertos a ter grandes companhias e grandes marcas debaixo do portfólio», disse o CEO do grupo, Luis Gallego, que também é dono da Aer Lingus e Vueling.

 

Soar alarmes

O Presidente da República afirmou que irá analisar o diploma do Governo que enquadra a reprivatização da TAP «como um todo», sobretudo se a «salvaguarda do interesse nacional constam da lei ou do caderno de encargos». Marcelo Rebelo de Sousa chamou ainda a atenção para o facto de um diploma e um caderno de encargos não serem «a mesma coisa», porque que «uma coisa tem valor de lei» e a «outra coisa é um conjunto de regras administrativas», referindo que, «em consciência», tomará a decisão sobre a TAP.

Mais preocupado com o futuro da TAP está o Sindicato do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), que acusa o Governo de não defender o valor estratégico da empresa para o país. «Estamos muito preocupados», disse Ricardo Penarroia, considerando o diploma «uma mão cheia de nada». O responsável lamentou o facto de «o Governo não quer ouvir os trabalhadores nem os sindicatos» e mostra-se ainda apreensivo com a manutenção do hub em Portugal. «Se for a Iberia a comprar a TAP, o hub de Lisboa está em perigo».

Uma preocupação partilhada pelo Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil, Tiago Faria Lopes, que, apesar de não se opor a uma gestão privada da TAP, defendeu que o Estado tem de manter uma posição para defender os direitos da companhia.

Também o  Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos (Sitava) pediu esclarecimentos sobre a «pressa em privatizar» a TAP, reiterando que não consegue encontrar «qualquer racional» para esta decisão. l

 

sonia.pinto@nascerdosol.pt