A sorte no azar


Assinalámos há poucos dias a data que abalou o mundo. O 11 de setembro de 2001, data em que 4 aviões comerciais de passageiros foram sequestrados, com intenções terroristas, e colidiram dois deles contra as icónicas Torres Gémeas do World Trade Center em Nova Iorque nos Estados Unidos da América.


A questão que trago não é sobre o abanão de segurança no espaço aéreo. Não é sobre geopolítica. Não é sobre ocidente e oriente. É sobre a sorte.

Momentos trágicos têm sempre quota parte de azar. É inquestionável. Ficará sempre a associação de se estar no local errado à hora errada. É legítimo, porque efetivamente é a circunstância do momento que faz presenciar algo trágico.

E do outro lado? E aqueles que falharam estar nesses locais? Aqueles que tiveram o azar de perder o metro e a sorte de não estar numa das Torres Gémeas a trabalhar? Tiveram azar de falhar ao trabalho e fintar a circunstância de onde deveriam estar naquele momento? Ou sorte? A sorte no azar.

Tudo na vida é uma questão de perspetiva.

A sorte de uns é o azar de outros. E, por vezes, termos o azar de falhar ou ver falharem connosco pode ser a nossa própria sorte. A sorte e o azar podem estar diretamente ligados a uma só pessoa, não invalidando que apenas se beneficie ou prejudique de forma não intencional outros.

Haverá em tudo um lado positivo quando pensamos que foi azar. Não sei histórias, mas acredito que nesse fatídico 11 de setembro de 2001 houve pais que tiveram filhos doentes e não se deslocaram a mais um dia de trabalho no local onde, nesse horário, iriam morrer centenas de pessoas após a colisão de um avião.

Seguramente haverá quem tenha pensado em visitar as Torres Gémeas, de férias, tirar fotografias, conhecer e ver os edifícios e que talvez tenha adormecido, se tenha atrasado no pequeno-almoço e, à fatídica hora, estivesse a uns quilómetros do local onde o azar bateu à porta. Falharam a visita, acertaram em ter mais tempo de vida para a poder cumprir no futuro.

Não me parece pouco provável, face ao trânsito agitado e milhares de automóveis que circulam a todas as horas na ilha de Manhattan, que alguem tenha tido o azar de colidir com outro automóvel. Que aquele azar de ter um acidente o tenha feito perder o dia de trabalho. E que ter perdido o dia de trabalho lhe fez ganhar a vida. For sorte no azar também.

Haverá milhares de casos hipotéticos, como estes, e milhares de casos reais que vão ser recordados toda uma vida. Como vão ser sempre recordados os nomes de todos aqueles que sim, tiveram o verdadeiro azar, de estar à hora errada no local errado.

Registamos mais os momentos de azar na vida do que os de sorte.

Os momentos de sorte esquecemos. Recordamos de tempos a tempos mas sem dar o peso que devem ter. Em contrapartida preferimos registar quase diariamente os azares que colecionamos. Os dias maus no trabalho. As más reuniões. As pessoas que foram injustas connosco.

Raramente recordamos a sorte dos dias em que conhecemos alguém bom. Raramente, e deviamos fazê-lo, recordamos os dias de sorte de conhecer alguém que nos muda a vida. Ocasionamente sorrimos a pensar na sorte que foi ter dito X no trabalho e ter descoberto a solução para um problema que a nossa equipa tinha nesse momento.

O azar é mais presente no nosso dia-a-dia que a sorte.

Por isso, também sobre o 11 de setembro, o mais normal é recordarmos o azar de todos os milhares que infelizmente morreram fruto deste ataque terrorista eternamente inqualificavel e desumano.

Mas que saibamos, ou tentemos, dia após dia, dar mais peso às histórias de sorte. A sorte dos que, recordando ainda 2001, ficaram vivos quando poderiam não estar se tudo tivesse corrido como planeado.

A sorte de termos pessoas boas perto em deterimento de termos tido o azar de nos cruzar com gente menos boa para a nossa vida. A sorte de termos poucos amigos bons em deterimento do que pensamos ser azar de não ter muitos amigos. A sorte de estarmos em paz connosco em vez do azar de passar a vida sem estar resolvidos com outro alguém.

Os momentos de azar vão existir sempre. Faz parte da vida. Mas que nunca duvidemos que temos muito mais sorte sempre, em estar vivos, procurar felicidade diariamente junto de família e amigos, ter onde viver e o que comer.

A sorte. A sorte existe sempre. E seja no trágico 11 de setembro de 2001 ou no 14 de setembro de 2023, o azar de algo será a porta para vermos a sorte de alguma coisa maior.

A sorte no azar


Assinalámos há poucos dias a data que abalou o mundo. O 11 de setembro de 2001, data em que 4 aviões comerciais de passageiros foram sequestrados, com intenções terroristas, e colidiram dois deles contra as icónicas Torres Gémeas do World Trade Center em Nova Iorque nos Estados Unidos da América.


A questão que trago não é sobre o abanão de segurança no espaço aéreo. Não é sobre geopolítica. Não é sobre ocidente e oriente. É sobre a sorte.

Momentos trágicos têm sempre quota parte de azar. É inquestionável. Ficará sempre a associação de se estar no local errado à hora errada. É legítimo, porque efetivamente é a circunstância do momento que faz presenciar algo trágico.

E do outro lado? E aqueles que falharam estar nesses locais? Aqueles que tiveram o azar de perder o metro e a sorte de não estar numa das Torres Gémeas a trabalhar? Tiveram azar de falhar ao trabalho e fintar a circunstância de onde deveriam estar naquele momento? Ou sorte? A sorte no azar.

Tudo na vida é uma questão de perspetiva.

A sorte de uns é o azar de outros. E, por vezes, termos o azar de falhar ou ver falharem connosco pode ser a nossa própria sorte. A sorte e o azar podem estar diretamente ligados a uma só pessoa, não invalidando que apenas se beneficie ou prejudique de forma não intencional outros.

Haverá em tudo um lado positivo quando pensamos que foi azar. Não sei histórias, mas acredito que nesse fatídico 11 de setembro de 2001 houve pais que tiveram filhos doentes e não se deslocaram a mais um dia de trabalho no local onde, nesse horário, iriam morrer centenas de pessoas após a colisão de um avião.

Seguramente haverá quem tenha pensado em visitar as Torres Gémeas, de férias, tirar fotografias, conhecer e ver os edifícios e que talvez tenha adormecido, se tenha atrasado no pequeno-almoço e, à fatídica hora, estivesse a uns quilómetros do local onde o azar bateu à porta. Falharam a visita, acertaram em ter mais tempo de vida para a poder cumprir no futuro.

Não me parece pouco provável, face ao trânsito agitado e milhares de automóveis que circulam a todas as horas na ilha de Manhattan, que alguem tenha tido o azar de colidir com outro automóvel. Que aquele azar de ter um acidente o tenha feito perder o dia de trabalho. E que ter perdido o dia de trabalho lhe fez ganhar a vida. For sorte no azar também.

Haverá milhares de casos hipotéticos, como estes, e milhares de casos reais que vão ser recordados toda uma vida. Como vão ser sempre recordados os nomes de todos aqueles que sim, tiveram o verdadeiro azar, de estar à hora errada no local errado.

Registamos mais os momentos de azar na vida do que os de sorte.

Os momentos de sorte esquecemos. Recordamos de tempos a tempos mas sem dar o peso que devem ter. Em contrapartida preferimos registar quase diariamente os azares que colecionamos. Os dias maus no trabalho. As más reuniões. As pessoas que foram injustas connosco.

Raramente recordamos a sorte dos dias em que conhecemos alguém bom. Raramente, e deviamos fazê-lo, recordamos os dias de sorte de conhecer alguém que nos muda a vida. Ocasionamente sorrimos a pensar na sorte que foi ter dito X no trabalho e ter descoberto a solução para um problema que a nossa equipa tinha nesse momento.

O azar é mais presente no nosso dia-a-dia que a sorte.

Por isso, também sobre o 11 de setembro, o mais normal é recordarmos o azar de todos os milhares que infelizmente morreram fruto deste ataque terrorista eternamente inqualificavel e desumano.

Mas que saibamos, ou tentemos, dia após dia, dar mais peso às histórias de sorte. A sorte dos que, recordando ainda 2001, ficaram vivos quando poderiam não estar se tudo tivesse corrido como planeado.

A sorte de termos pessoas boas perto em deterimento de termos tido o azar de nos cruzar com gente menos boa para a nossa vida. A sorte de termos poucos amigos bons em deterimento do que pensamos ser azar de não ter muitos amigos. A sorte de estarmos em paz connosco em vez do azar de passar a vida sem estar resolvidos com outro alguém.

Os momentos de azar vão existir sempre. Faz parte da vida. Mas que nunca duvidemos que temos muito mais sorte sempre, em estar vivos, procurar felicidade diariamente junto de família e amigos, ter onde viver e o que comer.

A sorte. A sorte existe sempre. E seja no trágico 11 de setembro de 2001 ou no 14 de setembro de 2023, o azar de algo será a porta para vermos a sorte de alguma coisa maior.