Sem deduzir nada mesmo contra o tempo.


Hoje sabemos qual o caminho que o comunismo traçou nos anos seguintes e é fácil olhar para 1968 e deduzir que saberíamos ver que as democracias liberais é que iriam florescer mesmo quando Portugal, Espanha, França ou Itália demonstravam o contrário. Iriamos falhar na dedução, saibamos ter a humildade de o reconhecer.


Diz-se que uma árvore não faz a floresta.

Concordo.

Porém, atualmente a sociedade a partir de uma árvore apenas consegue concluir tudo. De uma única árvore (de assunto, aceitem a analogia), a sociedade consegue fazer quase uma estratégia florestal e acabar doutoramentos em tudo.

Vivemos nessa euforia precoce, nessa casualidade do imediato que não tem tempo para nada.

Sem tempo para olhar para as outras árvores, neste exemplo que dou.

Sem tempo para pensar, debater e refletir sobre as várias opiniões sobre uma floresta, fazendo a analogia ao que disse.

Podemos pensar que isto é apenas um chavão.

Um clichê linguístico sobre árvores e florestas, uma página ou um livro, mas na prática atuamos assim enquanto sociedade, na generalidade. Sem tempo para avaliar várias perspetivas. Sem tempo para estudar muitos documentos.

Se quisermos um exemplo sobre a necessidade de tempo, olhemos ao Egipto.

As primeiras pirâmides, dizem os estudos arqueológicos, devem ter mais de 4.000 anos de existência. Desconhecemos a totalidade de pirâmides que alberga o nosso planeta, mas sabemos que, há dez anos, tínhamos perto de 150 pirâmides egípcias identificadas.

São séculos de conhecimento que existem, séculos de estudos arqueológicos e históricos sobre a cultura egípcia. Outros tantos séculos a saber em que área geográfica estão. E o tempo demonstra que, mesmo assim, deve faltar descobrir mais de 70% da totalidade das pirâmides egípcias.

Mesmo assim, todos lemos e falamos com uma base empírica de conhecimento quase inatacável perante a sociedade civil. Mesmo, segundo décadas de escavações, sabendo que estamos com apenas 30% no nosso radar de conhecimento.

É um erro? Não.

Conhecemos uma parte. Só isso.

E em tudo é um pouco assim.

Sabemos pouco, desvalorizamos o tempo de construção de ideias e deduzimos muito.

Na democracia é igual.

A democracia, se pensarmos, é um diálogo. E um diálogo precisa de tempo. Tempo de expressarmos a nossa opinião, tempo de ouvir o outro lado com atenção e tempo de rebater ideias com quem entendermos.

A “democracia”, salvo seja, só é rápida nas ditaduras.

Rápida porque os ditadores julgam-se infalíveis.

E a infabilidade é o maior erro que vivemos hoje dia na sociedade.

Porém, todos falhamos.

Nós. Os Governos. As Instituições.

E quando achamos que não vamos falhar porque deduzimos muito bem, é certo e sabido que a história, que sabemos que não se repete em tudo, vai desmentir a nossa confiança e sabedoria.

Olhemos para o ano de 1968 como exemplo anti-deduções.

Tínhamos pouquíssimas democracias estruturadas.

Portugal vivia amarrado a Salazar. Espanha a Franco. Tínhamos violência em larga escala com as greves gerais do Maio de 68 em França, vivia-se os “anos do Chumbo” que era um período de turbulência sócio-política em Itália, … enfim, muita violência!

E, para surpresa atual, em 1968 as ditaduras comunistas apresentavam-se estáveis ao nível da sociedade civil dos seus Estados. Pareciam o regular funcionamento da democracia, a sua antítese.

Hoje sabemos qual o caminho que o comunismo traçou nos anos seguintes e é fácil olhar para 1968 e deduzir que saberíamos ver que as democracias liberais é que iriam florescer mesmo quando Portugal, Espanha, França ou Itália demonstravam o contrário. Iriamos falhar na dedução, saibamos ter a humildade de o reconhecer.

Junto então as duas premissas à data de hoje.

O tempo necessário para ter uma ampla análise e as deduções quase sempre erradas.

Escuso de demonstrar a quantidade de deduções apressadas que “assassinaram” em praça pública muita gente.

Escuso de demonstrar situações, em várias áreas, em que o tempo veio a demonstrar que o caminho não deveria ter sido A ou B.

Escuso ainda de relembrar o imediatismo que viemos em que uma frase dita agora tem de ser notícia minutos depois e, nesse curto espaço de tempo, nem sabemos o que realmente aconteceu. A notícia sai, o povo deduz, horas depois alguém explica e dias depois qualquer um se pode ter “queimado” moralmente com uma capa de jornal que dizia algo que nunca houve.

É isto, não é?

Sei que continuaremos a fazer deduções. Continuaremos a assumir erradamente coisas que não perguntámos ou que não temos respostas. Apenas iremos concluir com base no que inventámos na nossa cabeça.

Sabemos que continuaremos a lutar contra o tempo. Continuaremos a querer vender que tudo tem de ser dito de forma célere e automaticamente publicado na hora.

Não há fórmulas corretas de responder a esta fatalidade da sociedade civil.

Mas este tempo, estas últimas décadas em democracia sobretudo, têm demonstrado que demasiadas deduções arruinaram imensas pessoas e, até, partidos políticos.

E este mesmo tempo de democracia demonstra que a falta de preparação e de tempo de debate (e estudo, em silêncio) arruinou a credibilidade das Instituições e do normal funcionamento da democracia.

E estas duas conclusões, que ainda carecem de mais debate, deixo-vos o tempo necessário para posteriormente deduzirem, um dia, o que podem significar para o futuro de todos nós.

 

 

Sem deduzir nada mesmo contra o tempo.


Hoje sabemos qual o caminho que o comunismo traçou nos anos seguintes e é fácil olhar para 1968 e deduzir que saberíamos ver que as democracias liberais é que iriam florescer mesmo quando Portugal, Espanha, França ou Itália demonstravam o contrário. Iriamos falhar na dedução, saibamos ter a humildade de o reconhecer.


Diz-se que uma árvore não faz a floresta.

Concordo.

Porém, atualmente a sociedade a partir de uma árvore apenas consegue concluir tudo. De uma única árvore (de assunto, aceitem a analogia), a sociedade consegue fazer quase uma estratégia florestal e acabar doutoramentos em tudo.

Vivemos nessa euforia precoce, nessa casualidade do imediato que não tem tempo para nada.

Sem tempo para olhar para as outras árvores, neste exemplo que dou.

Sem tempo para pensar, debater e refletir sobre as várias opiniões sobre uma floresta, fazendo a analogia ao que disse.

Podemos pensar que isto é apenas um chavão.

Um clichê linguístico sobre árvores e florestas, uma página ou um livro, mas na prática atuamos assim enquanto sociedade, na generalidade. Sem tempo para avaliar várias perspetivas. Sem tempo para estudar muitos documentos.

Se quisermos um exemplo sobre a necessidade de tempo, olhemos ao Egipto.

As primeiras pirâmides, dizem os estudos arqueológicos, devem ter mais de 4.000 anos de existência. Desconhecemos a totalidade de pirâmides que alberga o nosso planeta, mas sabemos que, há dez anos, tínhamos perto de 150 pirâmides egípcias identificadas.

São séculos de conhecimento que existem, séculos de estudos arqueológicos e históricos sobre a cultura egípcia. Outros tantos séculos a saber em que área geográfica estão. E o tempo demonstra que, mesmo assim, deve faltar descobrir mais de 70% da totalidade das pirâmides egípcias.

Mesmo assim, todos lemos e falamos com uma base empírica de conhecimento quase inatacável perante a sociedade civil. Mesmo, segundo décadas de escavações, sabendo que estamos com apenas 30% no nosso radar de conhecimento.

É um erro? Não.

Conhecemos uma parte. Só isso.

E em tudo é um pouco assim.

Sabemos pouco, desvalorizamos o tempo de construção de ideias e deduzimos muito.

Na democracia é igual.

A democracia, se pensarmos, é um diálogo. E um diálogo precisa de tempo. Tempo de expressarmos a nossa opinião, tempo de ouvir o outro lado com atenção e tempo de rebater ideias com quem entendermos.

A “democracia”, salvo seja, só é rápida nas ditaduras.

Rápida porque os ditadores julgam-se infalíveis.

E a infabilidade é o maior erro que vivemos hoje dia na sociedade.

Porém, todos falhamos.

Nós. Os Governos. As Instituições.

E quando achamos que não vamos falhar porque deduzimos muito bem, é certo e sabido que a história, que sabemos que não se repete em tudo, vai desmentir a nossa confiança e sabedoria.

Olhemos para o ano de 1968 como exemplo anti-deduções.

Tínhamos pouquíssimas democracias estruturadas.

Portugal vivia amarrado a Salazar. Espanha a Franco. Tínhamos violência em larga escala com as greves gerais do Maio de 68 em França, vivia-se os “anos do Chumbo” que era um período de turbulência sócio-política em Itália, … enfim, muita violência!

E, para surpresa atual, em 1968 as ditaduras comunistas apresentavam-se estáveis ao nível da sociedade civil dos seus Estados. Pareciam o regular funcionamento da democracia, a sua antítese.

Hoje sabemos qual o caminho que o comunismo traçou nos anos seguintes e é fácil olhar para 1968 e deduzir que saberíamos ver que as democracias liberais é que iriam florescer mesmo quando Portugal, Espanha, França ou Itália demonstravam o contrário. Iriamos falhar na dedução, saibamos ter a humildade de o reconhecer.

Junto então as duas premissas à data de hoje.

O tempo necessário para ter uma ampla análise e as deduções quase sempre erradas.

Escuso de demonstrar a quantidade de deduções apressadas que “assassinaram” em praça pública muita gente.

Escuso de demonstrar situações, em várias áreas, em que o tempo veio a demonstrar que o caminho não deveria ter sido A ou B.

Escuso ainda de relembrar o imediatismo que viemos em que uma frase dita agora tem de ser notícia minutos depois e, nesse curto espaço de tempo, nem sabemos o que realmente aconteceu. A notícia sai, o povo deduz, horas depois alguém explica e dias depois qualquer um se pode ter “queimado” moralmente com uma capa de jornal que dizia algo que nunca houve.

É isto, não é?

Sei que continuaremos a fazer deduções. Continuaremos a assumir erradamente coisas que não perguntámos ou que não temos respostas. Apenas iremos concluir com base no que inventámos na nossa cabeça.

Sabemos que continuaremos a lutar contra o tempo. Continuaremos a querer vender que tudo tem de ser dito de forma célere e automaticamente publicado na hora.

Não há fórmulas corretas de responder a esta fatalidade da sociedade civil.

Mas este tempo, estas últimas décadas em democracia sobretudo, têm demonstrado que demasiadas deduções arruinaram imensas pessoas e, até, partidos políticos.

E este mesmo tempo de democracia demonstra que a falta de preparação e de tempo de debate (e estudo, em silêncio) arruinou a credibilidade das Instituições e do normal funcionamento da democracia.

E estas duas conclusões, que ainda carecem de mais debate, deixo-vos o tempo necessário para posteriormente deduzirem, um dia, o que podem significar para o futuro de todos nós.