Perdidos


Não acredito que haja muito português que não veja o quão perdidos estamos na Educação, na Habitação, na Saúde, na tributação fiscal de cada um, na amarra financeira familiar face aos curtos vencimentos, na credibilidade das Instituições, enfim…  


Diz-se que só se encontra quem se perde.

É um bom princípio, meio e às vezes fim de alguns. No entanto, a sensação de estar perdido nunca inspira segurança, confiança e motivação.

Quem é que perdido está eufórico, feliz e motivado para os próximos passos? Ninguém. Absolutamente ninguém.

Quero com isto dizer que estarmos perdidos não é o fim do mundo. Pode ser até o início de um novo caminho melhor. Podemos encontrar novos rumos saindo de áreas de conforto outrora gastas.

Porém, o foco da análise é o momento em que estamos perdidos. Aqueles momentos em que não há certezas de nada. Quando com a fragilidade envolvente descredibilizamos o que noutro momento foi uma garantia de verdade inquestionável. Quando a fraqueza da incerteza derruba a convicção.

Todos nos perdemos. Na vida profissional, em momentos governativos de decisão política, na gestão associativa ou até geograficamente (este menos grave e mais fácil de resolver com os Waze’s da vida).

Em grupo, se perdidos, o desnorte é quase sempre certo. Nestes momentos é preciso líderes que saibam indicar o caminho. Na verdade, os líderes até num caminho de linha reta fazem falta. Fazem sempre. Porém, perdidos, é preciso mesmo líderes que saibam colocar os seus num sítio melhor, não onde estavam antes apenas, mas onde nunca estiveram.

Também há uma perda maior. A perda da noção do tempo. Aqueles que ficam presos ao passado e perdidos da realidade. Aqueles que vivem em função do que já passou. Como os que ainda hoje em 2023 justificam tudo o que não fazem pela COVID que surgiu em 2019. Aqueles que foram reconhecidos e homenageados por algo bom num passado seu e passam depois um ou dois anos a recordar as pessoas que o foram para encher egos, não sendo seguramente bons para eles próprios porque é apenas o ego preso a algo que já passou e na busca incessante de palco momentâneo e aplausos efémeros. Todos os que não resolvem problemas do Estado Social hoje porque enjeitam culpas para governos de 1980 ou 1990 consoante a sua cor partidária.

E é nesse estado que parecemos todos, os portugueses. Perdidos. No espaço e, muitos, no tempo. Mas, sobretudo, perdidos sem líderes. Perdidos sozinhos. Carentes de exemplos, de mapas, de lideranças que apontem um futuro melhor que o presente sem estarem amarrados ao passado das culpas dos outros que é imutável.

Pelo menos na maioria das áreas.

E essa bola de neve começa a afetar tudo e todos. Começamos a resignar e aceitar o caminho sem norte como a estrada correta de seguir. Sem questionar. Sem reagir.

Não acredito que haja muito português que não veja o quão perdidos estamos na Educação, na Habitação, na Saúde, na tributação fiscal de cada um, na amarra financeira familiar face aos curtos vencimentos, na credibilidade das Instituições, enfim…  

Com o ano letivo a terminar, entre greves e manifestações, reuniões e confusões, acredito que nem quem é pai tenha perceção do “tempo útil” de aulas dos seus filhos. Não vou falar da aprendizagem, já bastante afetada pelas vicissitudes pandémicas destes anos anteriores. Falo mesmo do foco mental de quem leciona, do (des)respeito de quem coordena politicamente o setor e, claro, da quebra de normalidade com a aprendizagem dos alunos. Um ano passou e os professores seguiram perdidos nas suas carreiras, com o inerente desgaste pessoal que tiveram.

Não há muito caminho certo também se falarmos de saúde.

Greves de Farmacêuticos Hospitalares com carreiras estanques por magia política. Greve de Enfermeiros todas as semanas, em todos os distritos, por falta de entendimento político da sua relevância profissional, dos seus salários e da sua dignidade.

Greves de Médicos, de norte a sul, fartos de serem arma de arremesso político sem amparo de um SNS que defendem todos os dias. Passaram de bestiais de outrora e de décadas aos maiores culpados dos fechos de maternidades. Passaram de quem tinha liberdade para exercer medicina e cuidar doentes aos que só têm boa vida “porque são médicos e recebem muito” (será?) sem poderem manifestar o seu cansaço de horas excessivas de trabalho devido a um SNS completamente esgotado. Vivemos no ridículo imagine-se, de saber que os Médicos até ao tirarem férias (todos temos direito) dá azo a comunicados políticos e críticas – e pressões internas para trabalharem, saibamos – por fechos de serviços. A culpa de muitos dos fechos de serviços não é dos profissionais que fazem horas excessivas todos os dias para impedir as portas de fechar, é de quem coordena localmente e centralmente não conseguir que quando esses se ausentam haja já outros colegas destacados e que os possam suprimir. E sim, isto resolve-se.

Os médicos ficaram perdidos nas guerras políticas e hoje são tratados como bestas porque quem sempre defenderam deixou de os defender: O SNS.

São muitos anos perdidos sem rumo no SNS.

Mais breve que nestes dois temas, pensemos ainda na Habitação e na credibilidade das instituições. A Habitação que arrendar casa é impossível face aos vencimentos, em que os municípios perderam décadas a não ter estratégias locais de habitação e agora tentam, em cima do joelho, dar números aos jornais e não casas às famílias carenciadas habitacionalmente. Uma política governamental que chegou a roçar a coercividade frente ao direito privado, imagine-se.

A credibilidade das instituições em que vemos declarações com gelados da Santini na mão, um Primeiro-Ministro a viajar as escondidas, um Ministro que mente uma e outra vez em Comissão Parlamentar de Inquérito e outro que desmente um e dois colegas de Governo, um Assessor e uma Chefe de Gabinete em clima de pancadaria num edifício do Ministério das Infraestruturas.

Isto dá credibilidade?

Que caminho é este?

Sobretudo: Onde está um líder que dê “o murro na mesa” e diga “os portugueses não merecem este exemplo vindo de cima, chega de circo”?

Perdidos.

Assumo que nós, portugueses, resignámos. São muitos anos a aguentar crescimentos pífios da economia, ridículos nas carteiras e nos vencimentos das famílias, mas que são atenuados pelo Agosto de praia, pelo sol e pelo futebol.

Poucochinho. Muito. Mas parece que nos perdemos também na ambição, sobretudo de quem lidera o país. É poucochinho. Muito. Viemos de um plano de ajuste económico financeiro, de uma Bancarrota. Perdemos uma década a dizer que estávamos a recuperar. Agora estamos a perder outra década, depois da saída limpa da Troika, parados e perdidos no tempo.

Perdidos.

Respeito muito aqueles que tiveram a coragem de percorrer novos caminhos. De se reencontrarem profissionalmente e criarem postos de trabalho dignos neste país, ao inverso daquilo que o país lhes oferece.

Respeito muito os que decidiram ganhar experiência noutros lados para regressar com mais ambição, que tão precisamos, e com um plano de rumo para liderarem pessoas.

Respeito muito mas muito os que cá estão. Perdidos ou a ver pouco dos que os deviam liderar. Aqueles que trabalham diariamente para que encontremos um rumo novo para Portugal.

Mas respeito igualmente a verdade dos factos: Temos um país completamente perdido sem liderança alguma.

Força Portugal.

Que te encontres e recuperes rapidamente os Heróis do mar, o nobre povo e a
Nação valente e imortal.

Que todos nos encontremos e levantemos hoje ou brevemente, de novo, o esplendor de Portugal.

 

Perdidos


Não acredito que haja muito português que não veja o quão perdidos estamos na Educação, na Habitação, na Saúde, na tributação fiscal de cada um, na amarra financeira familiar face aos curtos vencimentos, na credibilidade das Instituições, enfim...  


Diz-se que só se encontra quem se perde.

É um bom princípio, meio e às vezes fim de alguns. No entanto, a sensação de estar perdido nunca inspira segurança, confiança e motivação.

Quem é que perdido está eufórico, feliz e motivado para os próximos passos? Ninguém. Absolutamente ninguém.

Quero com isto dizer que estarmos perdidos não é o fim do mundo. Pode ser até o início de um novo caminho melhor. Podemos encontrar novos rumos saindo de áreas de conforto outrora gastas.

Porém, o foco da análise é o momento em que estamos perdidos. Aqueles momentos em que não há certezas de nada. Quando com a fragilidade envolvente descredibilizamos o que noutro momento foi uma garantia de verdade inquestionável. Quando a fraqueza da incerteza derruba a convicção.

Todos nos perdemos. Na vida profissional, em momentos governativos de decisão política, na gestão associativa ou até geograficamente (este menos grave e mais fácil de resolver com os Waze’s da vida).

Em grupo, se perdidos, o desnorte é quase sempre certo. Nestes momentos é preciso líderes que saibam indicar o caminho. Na verdade, os líderes até num caminho de linha reta fazem falta. Fazem sempre. Porém, perdidos, é preciso mesmo líderes que saibam colocar os seus num sítio melhor, não onde estavam antes apenas, mas onde nunca estiveram.

Também há uma perda maior. A perda da noção do tempo. Aqueles que ficam presos ao passado e perdidos da realidade. Aqueles que vivem em função do que já passou. Como os que ainda hoje em 2023 justificam tudo o que não fazem pela COVID que surgiu em 2019. Aqueles que foram reconhecidos e homenageados por algo bom num passado seu e passam depois um ou dois anos a recordar as pessoas que o foram para encher egos, não sendo seguramente bons para eles próprios porque é apenas o ego preso a algo que já passou e na busca incessante de palco momentâneo e aplausos efémeros. Todos os que não resolvem problemas do Estado Social hoje porque enjeitam culpas para governos de 1980 ou 1990 consoante a sua cor partidária.

E é nesse estado que parecemos todos, os portugueses. Perdidos. No espaço e, muitos, no tempo. Mas, sobretudo, perdidos sem líderes. Perdidos sozinhos. Carentes de exemplos, de mapas, de lideranças que apontem um futuro melhor que o presente sem estarem amarrados ao passado das culpas dos outros que é imutável.

Pelo menos na maioria das áreas.

E essa bola de neve começa a afetar tudo e todos. Começamos a resignar e aceitar o caminho sem norte como a estrada correta de seguir. Sem questionar. Sem reagir.

Não acredito que haja muito português que não veja o quão perdidos estamos na Educação, na Habitação, na Saúde, na tributação fiscal de cada um, na amarra financeira familiar face aos curtos vencimentos, na credibilidade das Instituições, enfim…  

Com o ano letivo a terminar, entre greves e manifestações, reuniões e confusões, acredito que nem quem é pai tenha perceção do “tempo útil” de aulas dos seus filhos. Não vou falar da aprendizagem, já bastante afetada pelas vicissitudes pandémicas destes anos anteriores. Falo mesmo do foco mental de quem leciona, do (des)respeito de quem coordena politicamente o setor e, claro, da quebra de normalidade com a aprendizagem dos alunos. Um ano passou e os professores seguiram perdidos nas suas carreiras, com o inerente desgaste pessoal que tiveram.

Não há muito caminho certo também se falarmos de saúde.

Greves de Farmacêuticos Hospitalares com carreiras estanques por magia política. Greve de Enfermeiros todas as semanas, em todos os distritos, por falta de entendimento político da sua relevância profissional, dos seus salários e da sua dignidade.

Greves de Médicos, de norte a sul, fartos de serem arma de arremesso político sem amparo de um SNS que defendem todos os dias. Passaram de bestiais de outrora e de décadas aos maiores culpados dos fechos de maternidades. Passaram de quem tinha liberdade para exercer medicina e cuidar doentes aos que só têm boa vida “porque são médicos e recebem muito” (será?) sem poderem manifestar o seu cansaço de horas excessivas de trabalho devido a um SNS completamente esgotado. Vivemos no ridículo imagine-se, de saber que os Médicos até ao tirarem férias (todos temos direito) dá azo a comunicados políticos e críticas – e pressões internas para trabalharem, saibamos – por fechos de serviços. A culpa de muitos dos fechos de serviços não é dos profissionais que fazem horas excessivas todos os dias para impedir as portas de fechar, é de quem coordena localmente e centralmente não conseguir que quando esses se ausentam haja já outros colegas destacados e que os possam suprimir. E sim, isto resolve-se.

Os médicos ficaram perdidos nas guerras políticas e hoje são tratados como bestas porque quem sempre defenderam deixou de os defender: O SNS.

São muitos anos perdidos sem rumo no SNS.

Mais breve que nestes dois temas, pensemos ainda na Habitação e na credibilidade das instituições. A Habitação que arrendar casa é impossível face aos vencimentos, em que os municípios perderam décadas a não ter estratégias locais de habitação e agora tentam, em cima do joelho, dar números aos jornais e não casas às famílias carenciadas habitacionalmente. Uma política governamental que chegou a roçar a coercividade frente ao direito privado, imagine-se.

A credibilidade das instituições em que vemos declarações com gelados da Santini na mão, um Primeiro-Ministro a viajar as escondidas, um Ministro que mente uma e outra vez em Comissão Parlamentar de Inquérito e outro que desmente um e dois colegas de Governo, um Assessor e uma Chefe de Gabinete em clima de pancadaria num edifício do Ministério das Infraestruturas.

Isto dá credibilidade?

Que caminho é este?

Sobretudo: Onde está um líder que dê “o murro na mesa” e diga “os portugueses não merecem este exemplo vindo de cima, chega de circo”?

Perdidos.

Assumo que nós, portugueses, resignámos. São muitos anos a aguentar crescimentos pífios da economia, ridículos nas carteiras e nos vencimentos das famílias, mas que são atenuados pelo Agosto de praia, pelo sol e pelo futebol.

Poucochinho. Muito. Mas parece que nos perdemos também na ambição, sobretudo de quem lidera o país. É poucochinho. Muito. Viemos de um plano de ajuste económico financeiro, de uma Bancarrota. Perdemos uma década a dizer que estávamos a recuperar. Agora estamos a perder outra década, depois da saída limpa da Troika, parados e perdidos no tempo.

Perdidos.

Respeito muito aqueles que tiveram a coragem de percorrer novos caminhos. De se reencontrarem profissionalmente e criarem postos de trabalho dignos neste país, ao inverso daquilo que o país lhes oferece.

Respeito muito os que decidiram ganhar experiência noutros lados para regressar com mais ambição, que tão precisamos, e com um plano de rumo para liderarem pessoas.

Respeito muito mas muito os que cá estão. Perdidos ou a ver pouco dos que os deviam liderar. Aqueles que trabalham diariamente para que encontremos um rumo novo para Portugal.

Mas respeito igualmente a verdade dos factos: Temos um país completamente perdido sem liderança alguma.

Força Portugal.

Que te encontres e recuperes rapidamente os Heróis do mar, o nobre povo e a
Nação valente e imortal.

Que todos nos encontremos e levantemos hoje ou brevemente, de novo, o esplendor de Portugal.