Os serviços da Câmara de Loures fizeram as contas e chegaram a uma conclusão. Quase metade das famílias do concelho que beneficiam do direito à habitação municipal não pagam as rendas. E agora o presidente da Câmara, Ricardo Leão, numa tomada de posição corajosa, quer reaver os 15 milhões de euros que estão em dívida.
Não é preciso entrar em grandes considerações sobre a dificuldade que enfrenta quem tenta encontrar casa na Grande Lisboa. Toda a gente sabe que o mercado enlouqueceu, que se pedem preços perfeitamente ridículos (de elevados, bem entendido), que as rendas são incomportáveis mesmo para quem aufere um salário razoável. E, no entanto, temos estes bairros cujos moradores não cumprem com o mínimo que lhes é exigido: falamos de rendas que rondam entre dez e vinte euros mensais.
Fez mal o presidente da Câmara em ameaçar com o despejo aqueles que teimarem em não pagar? Há quem acredite que sim. Mas qual é a alternativa? Que outras armas tem ele à sua disposição para reaver o montante em dívida?
E, sem esse dinheiro, como pode o município fazer o investimento necessário para que essas habitações tenham condições dignas? Mais: se simplesmente perdoasse a dívida, passaria a mensagem de que não vale a pena pagar, de que aqueles que cumprem a sua obrigação estão apenas a deitar dinheiro à rua.
Neste caso, como em tantos outros, há quem queira reduzir a discussão a um confronto entre o opressor e os oprimidos, entre o mau da fita e os coitadinhos. Já se sabe que há sempre quem prefira o deixa-andar, até porque o caminho da exigência dá trabalho. Mas para que as sociedades funcionem não basta haver regras. É preciso que essas regras sejam cumpridas.
E, se acham que os dez ou vinte euros provocam um grande rombo no orçamento dessas famílias, perguntem a muitas delas se alguma vez lhes faltou dinheiro para tomar um café, beber uma cervejinha ou comprar um maço de tabaco.