Todos nós vivemos na necessidade mental de acreditar em salvadores.
Não é preciso ser-se pessoa de fé. Todos temos momentos na vida de maior angústia, de preocupação e de desfoco do lado bom que é estarmos vivos e termos capacidade de enfrentar os nossos e os males dos outros.
Nesses momentos de angústia, de descrença, o nosso inconsciente sufoca a consciência ao ponto de delirarmos por salvação. Divina ou não. Queremos é que algo ou alguém nos proteja e salve de tudo o que, em ânsia, entendemos não ser capazes de resolver.
Que levante a mão o primeiro que nunca colocou a sua esperança interior toda num ser, ou em algo, que o salvasse na dificuldade que estava a viver.
Duvido que haja.
Na sociedade civil, como um todo, é igual. Não é só nas nossas vidas pessoais.
Espreitamos cada brecha de angústia, de tristeza, de dificuldade ou em maus resultados profissionais, por uma procura incessante de vislumbrarmos uma salvação ou algum salvador.
(Spoiler alert: A salvação, em 99% dos casos, está em nós mesmos).
E, claro está, na política partidária isto constitui hoje uma estratégia e um forte estratagema para “sacar votos” aos mais debilitados de esperança e aos portugueses atulhados em dificuldades financeiras.
Todo o Homem é um ser Político e, creio, a política e causa pública conseguiram extrair nos últimos largos anos o pior do humanismo e o melhor da teatralidade oportuna, o altruísmo de conveniência.
O altruísmo de conveniência, esta boa-vontade com segundas intenções, próprias do ego político, é uma ofensa intelectual que o nosso cérebro tem de saber desmembrar para combater. É difícil enfrentar este embuste. Como demonstram os resultados eleitorais locais e nacionais em vários sítios.
Porém, esta manipulação oportunista de fazer crer que um Partido A ou um Político B são os “salvadores” é tal e qual como um bom isco para pesca. Por mais avisado que o cardume esteja, acaba sempre o pescador por ‘sacar’ o peixe graúdo todo (leia-se “o eleitorado”).
É demagogo entregarmos aos outros a visão utópica de que somos a salvação e a cura dos seus problemas enquanto sociedade, que seremos nós – tal divindade egocêntrica – que iremos recuperar sozinhos a esperança e fé, na qualidade de vida, perdida em sucessivas décadas. Mas é a estratégia política mais utilizada e, inclusive, mais lida e vista que os Programas Políticos (aquilo que antigamente servia para distinguir projetos e escolher em quem votar).
Sete, quase oito, anos depois, foi isto que o Partido Socialista e o Primeiro-ministro António Costa fizeram. Usaram a fraqueza de um povo, a sua necessidade de “um salvador” para formar governo e inclusive ter maiorias absolutas.
O PS usou a Troika e o acordo por si assinado, e quem faliu o país foi o mesmo PS, para diabolizar as políticas públicas e a austeridade.
Formou governo dizendo que vinha salvar tudo e todos. Que vinha salvar todas as políticas, repito, que assinou no memorando com a Troika, e que iria salvar os Portugueses.
Vejamos o que sabemos hoje face à “Salvação Nacional” de António Costa e do PS:
– “Vamos salvar a Educação!”
E o que sabemos hoje é que batemos no fundo. Desde dezembro de 2022 que há crianças sem aulas. Há professores desesperados a lecionar sem condições a turmas sobrelotadas, com crianças com necessidades de acompanhamento (estrangeiros) e sem pedagogia apropriada. Há escolas e agrupamentos escolares sem melhorias infraestruturais nestes quase 8 anos de Governo socialista de “salvação nacional” e que do Algarve ao norte do país, o Ministro da Educação é recebido em clima de ofensa e crispação, sempre com fortes manifestações;
– “Vamos salvar o SNS e a Saúde!”
E o que sabemos hoje é que, precisamente hoje, há nova Greve Nacional dos Médicos. A que se juntam centenas de manifestações dos enfermeiros. A que se juntam demissões em bloco de direções clínicas de hospitais de todo o lado.
Sabemos que a ideologia cega e errada de Marta Temido e do PS destruíram a qualidade de PPP’s como Braga e Loures.
Sabemos que temos Maternidades quase tanto tempo fechadas como abertas.
Sabemos que no PS vinham salvar o SNS e conseguiram piorar tudo a toda a linha, desde a redução para as 35 horas semanais à incapacidade negocial da progressão de carreira dos profissionais de saúde ou, ainda, à ‘infertilidade’ que têm em fazer nascer estratégias para cooperação entre o SNS e os prestadores de cuidados de saúde privados.
O PS para a saúde é um nado-morto.
– “Vamos salvar o investimento público! Vamos salvar a ferrovia!”
E o que sabemos hoje é que vinham salvar a Ferrovia e não há comboios a circular. Nem circulam melhor, embora tenham “vendido a imagem de recuperação de carruagens” com Pedro Nuno Santos porque nem serviços de venda têm hoje, as carruagens dos alfas-pendulares são as mesmíssimas e temos, por exemplo no Algarve, “coisas que andam na ferrovia com 50 anos que são usadas em museus no Douro”. Sabemos que, inclusive, e bem recente, há relatos e vídeos de casos terceiro-mundistas de, de tão cheios, os passageiros forçarem paragens para sair para a linha.
As greves na ferrovia e na CP começam a ser um “terminal” mais conhecido que o Cais de Sodré.
Em números, o investimento público ficou em 2022 mais de 1000 milhões abaixo do previsto.
Este Governo de “salvação nacional” veio piorar o investimento público. Seja na ferrovia, nas infraestruturas (como já falei na educação), seja na saúde, tudo. Não salvou nada. Colapsou. E, curiosamente, porque quiseram “ser o bom aluno de Bruxelas” com espalhafato a anunciar bons números de défice tal e qual como outrora criticaram Aníbal Cavaco Silva. Salve-se a vergonha alheia.
– “Vamos salvar a TAP!”
E o que sabemos é que agora foram mais duas demissões, com estrondo, vão ser mais indeminizações, depois do estrondo da Governante Alexandra meio-milhão Reis (mas que só devolverá 450 mil euros).
Sabemos que não há estratégia nenhuma para reequilibrar o que tem sido excessivamente “caro” ao bolso de todos nós, os contribuintes portugueses, e nem a “história do novo aeroporto” se sabe onde aterra em quase uma década de Governo do Salvador António Costa.
Falharam e continuam a falhar, todos os dias.
– “Vamos salvar a Habitação!”
E o que sabemos é que a Ministra apresentou a coercibilidade de arrendamento, recordando tempos idos de ditadura, que desagradou ao país todo. Sabemos que os preços para arrendamento ou compra de imóvel são incomportáveis para o português comum. Sabemos que temos o metro quadrado mais caro em mais de 100% ao que era noutros anos e, por exemplo, que os jovens nem conseguem arrendar casa para estudar.
Não salvaram nada. Deixaram andar “sem abrigo” a estratégia de habitação.
Em suma,
António Costa e o PS formaram governo com a promessa que seriam eles os salvadores. E se um salvador for quem “salva a dor”, acredito que o PS esqueceu a parte do “salva” porque só deixou a “Dor” aos portugueses em várias matérias que interferem na sua qualidade de vida. Educação, Saúde, investimento público, habitação, tudo.
O PS usou a demagogia da salvação, da fé e da crença mais comum nos Homens.
Usou e abusou. Falhou.
Tenhamos a serenidade de ter a consciência de que todos somos precisos, que não há salvadores como não há um D. Sebastião que volta numa manhã de nevoeiro e que a neblina das nossas vidas só passa quando nós próprios começamos a abrir os olhos, a enfrentar os nossos medos e a não calar a revolta.
Todos seremos poucos para, juntos, salvar o que os anti-salvadores socialistas fizeram nestes 7 anos.