Sem construção não se resolve o problema da habitação


O problema da habitação é, em Portugal, acima de tudo, de falta de construção. Constroem-se hoje menos 28% de casas do que antes da chegada da troika e menos 85% do que há 20 anos quando houve a última bolha imobiliária.


Sem um diagnóstico completo, é impossível chegar a soluções eficazes. Os preços da habitação têm subido, mas têm subido transversalmente. Praticamente todos os países desenvolvidos tiveram aumentos no preço da habitação. No entanto, é verdade que, sendo transversal, em Portugal os preços aumentaram mais do que a média da União Europeia (EU). Portugal foi o 11.º país da UE em que os preços mais cresceram desde 2010. Foi também um dos que menos investiu em construção de habitação. O número de novas construções continua em valores historicamente baixos.

Para percebermos melhor o problema, é importante olhar para os únicos três países da UE em que os preços não subiram: Itália, a Espanha e Chipre. São países muito semelhantes a Portugal no que toca ao mercado imobiliário pelo lado da procura: tiveram aumento de turismo, alojamento local, vistos gold, atraíram pessoas do norte da Europa que lá compraram casas. Qual é a diferença? A construção. Em termos relativos, investiu-se em construção de habitações em Portugal menos 32% do que em Itália, menos 39% do que em Espanha e menos 47% do que no Chipre.

O problema da habitação é, em Portugal, acima de tudo, de falta de construção. Constroem-se hoje menos 28% de casas do que antes da chegada da troika e menos 85% do que há 20 anos quando houve a última bolha imobiliária.

Alguns argumentam que o problema não é de construção porque existem muitos alojamentos vagos, mas nestes dez anos de forte aumento dos preços o número de casas desocupadas que não estão para venda ou arrendamento não aumentou – pelo contrário, baixou bastante. Ou seja, também não são as casas desocupadas as responsáveis pelo aumento de preços. Muitas delas, aliás, não têm condições de habitabilidade ou não estão verdadeiramente desocupadas.

Além de alimentar a subida dos preços, este decréscimo na construção terá impactos a prazo na qualidade da própria habitação. Nos últimos Censos, a percentagem de pessoas que viviam em casas novas, com menos de dez anos, caiu de 16% para 3% e o número de pessoas a viver em casas com mais de 20 anos subiu de 64% para 79%. A este ritmo, nos próximos Censos teremos mais de 95% das pessoas a viver em casas com mais de 20 anos e cerca de 77% a em casas com mais de 30.

Se não resolvermos a questão da falta de construção, não resolvemos o problema da habitação, continuaremos a ter preços elevados e condições de habitação cada vez piores. Teremos casas mais caras, mais velhas e com maiores necessidades de manutenção. As sucessivas alterações legislativas só vêm gerar entropia e desconfiança naqueles que desejam construir, adquirir, arrendar ou pôr a arrendar casas em Portugal.

Se a isto adicionarmos regras de construção desnecessárias, algumas absolutamente ridículas (cf. obrigatoriedade de bidé), demoras nos licenciamentos, PDM desactualizados, falta de mão-de-obra especializada, excesso de carga fiscal e o desaparecimento de várias construtoras após a crise de 2008, o que não falta são motivos para justificar esta escassez de casas novas em Portugal. Podemos dar as voltas que quisermos, mas se não criarmos condições para haver escala não haverá oferta. Se não resolvermos isto, não resolveremos o problema da habitação.

 

Membro do Conselho Nacional da IL

Sem construção não se resolve o problema da habitação


O problema da habitação é, em Portugal, acima de tudo, de falta de construção. Constroem-se hoje menos 28% de casas do que antes da chegada da troika e menos 85% do que há 20 anos quando houve a última bolha imobiliária.


Sem um diagnóstico completo, é impossível chegar a soluções eficazes. Os preços da habitação têm subido, mas têm subido transversalmente. Praticamente todos os países desenvolvidos tiveram aumentos no preço da habitação. No entanto, é verdade que, sendo transversal, em Portugal os preços aumentaram mais do que a média da União Europeia (EU). Portugal foi o 11.º país da UE em que os preços mais cresceram desde 2010. Foi também um dos que menos investiu em construção de habitação. O número de novas construções continua em valores historicamente baixos.

Para percebermos melhor o problema, é importante olhar para os únicos três países da UE em que os preços não subiram: Itália, a Espanha e Chipre. São países muito semelhantes a Portugal no que toca ao mercado imobiliário pelo lado da procura: tiveram aumento de turismo, alojamento local, vistos gold, atraíram pessoas do norte da Europa que lá compraram casas. Qual é a diferença? A construção. Em termos relativos, investiu-se em construção de habitações em Portugal menos 32% do que em Itália, menos 39% do que em Espanha e menos 47% do que no Chipre.

O problema da habitação é, em Portugal, acima de tudo, de falta de construção. Constroem-se hoje menos 28% de casas do que antes da chegada da troika e menos 85% do que há 20 anos quando houve a última bolha imobiliária.

Alguns argumentam que o problema não é de construção porque existem muitos alojamentos vagos, mas nestes dez anos de forte aumento dos preços o número de casas desocupadas que não estão para venda ou arrendamento não aumentou – pelo contrário, baixou bastante. Ou seja, também não são as casas desocupadas as responsáveis pelo aumento de preços. Muitas delas, aliás, não têm condições de habitabilidade ou não estão verdadeiramente desocupadas.

Além de alimentar a subida dos preços, este decréscimo na construção terá impactos a prazo na qualidade da própria habitação. Nos últimos Censos, a percentagem de pessoas que viviam em casas novas, com menos de dez anos, caiu de 16% para 3% e o número de pessoas a viver em casas com mais de 20 anos subiu de 64% para 79%. A este ritmo, nos próximos Censos teremos mais de 95% das pessoas a viver em casas com mais de 20 anos e cerca de 77% a em casas com mais de 30.

Se não resolvermos a questão da falta de construção, não resolvemos o problema da habitação, continuaremos a ter preços elevados e condições de habitação cada vez piores. Teremos casas mais caras, mais velhas e com maiores necessidades de manutenção. As sucessivas alterações legislativas só vêm gerar entropia e desconfiança naqueles que desejam construir, adquirir, arrendar ou pôr a arrendar casas em Portugal.

Se a isto adicionarmos regras de construção desnecessárias, algumas absolutamente ridículas (cf. obrigatoriedade de bidé), demoras nos licenciamentos, PDM desactualizados, falta de mão-de-obra especializada, excesso de carga fiscal e o desaparecimento de várias construtoras após a crise de 2008, o que não falta são motivos para justificar esta escassez de casas novas em Portugal. Podemos dar as voltas que quisermos, mas se não criarmos condições para haver escala não haverá oferta. Se não resolvermos isto, não resolveremos o problema da habitação.

 

Membro do Conselho Nacional da IL