Gracinda Gaspar escreveu há dias uma carta ao diretor de um jornal diário (Público de 23 de janeiro) em que começa por dizer que, não obstante estar aposentada, ainda continua a ser sindicalizada. Professora de Matemática, deu aulas ao António e ao Pedro, entre tantos outros alunos, e numa carta com menos de 1000 carateres dá mais uma lição, esta de cidadania, aos professores que andam de norte a sul do país em reivindicações “aos berros na rua”.
“Até eu, que fui professora, já não percebo o que se pretende: vejo pais, alunos, auxiliares de educação todos ao molho sem especificarem o que se pretende”, escreve Gracinda Gaspar, antes de deixar o apelo: “Meus colegas dos sindicatos, se não pretendem o descrédito total, façam uma listinha daquilo que é essencial ao ensino e aos professores. Não arrastem os pais e os alunos e muito menos a população para uma ‘chafurdice’ que só causa descrédito à classe”.
E continua: “Exijam ao senhor ministro que nos ouça (ele não deve ser surdo) e conversem. Conversem o mais logicamente e racionalmente possível. Se ele não nos quiser ouvir, venham contar à comunicação social como ele se comportou. Mas sem berros. Ordeiramente. Darão assim uma boa lição”.
A professora Gracinda insiste que as reivindicações “não se fazem ‘aos berros na rua’”.
Sabe muito. Se sabe. Basta ver como e quando escreve na primeira pessoa do plural e quando o faz na segunda e na terceira pessoas do plural. Não é, obviamente, por acaso.
A professora Gracinda está, aliás, farta de saber que um dos principais problemas do ensino em Portugal é a indisciplina e a falta de respeito pelos professores. Como, aliás, os manifestantes repetem em palavras de ordem, cartazes e tarjas país fora.
Andar “aos berros na rua” ou a correr entre pares com saudações infantis – como o responsável sindical do S.T.O.P. em frente ao Palácio de Belém na manifestação deste fim de semana – não é o comportamento mais adequado a quem quer dar-se ao respeito.
E, depois, queixam-se.
Gracinda Gaspar sabe-o bem.
E por isso lembra a importância que um professor deve dar à ordem, à disciplina,
à exigência e à correção.
António e Pedro, dois dos seus muitos alunos, podem atestá-lo. Eles, os dois irmãos do Presidente da República a quem a professora Gracinda bem se recorda ter dado aulas de Matemática. E, pelos vistos, não só.