Chá verde: emagrece mesmo?


  Iniciado o novo ano, muitas são as resoluções pensadas e prometidas para os meses que se avizinham! O controlo/perda de peso é, frequentemente, uma delas podendo haver intenção, ou não, de recorrer a substâncias que alegam agilizar este processo.    Num artigo anterior escrevi sobre os potenciais efeitos do ácido linoleico conjugado, mais conhecido…


 
Iniciado o novo ano, muitas são as resoluções pensadas e prometidas para os meses que se avizinham! O controlo/perda de peso é, frequentemente, uma delas podendo haver intenção, ou não, de recorrer a substâncias que alegam agilizar este processo. 
 
Num artigo anterior escrevi sobre os potenciais efeitos do ácido linoleico conjugado, mais conhecido por CLA, na alteração da composição corporal. Concluiu-se que, apesar da suplementação em CLA parecer ter um pequeno efeito ao nível da redução de peso e de massa gorda, a magnitude do efeito é clinicamente pouco relevante. 
 
Neste artigo falarei de outra substância também bastante usada com o objectivo de perda de peso: o chá verde. O chá provém das folhas da Camellia sinensis e tem diferentes denominações conforme o grau de fermentação. O chá verde diz respeito às folhas não fermentadas, o preto às totalmente fermentadas e o oolong às parcialmente fermentadas (10?70%). 
 
O chá verde é especialmente rico em polifenóis, dos quais se destacam as catequinas, e em particular a epigalocatequina-3-galato (EGCG). Devido ao processo de fermentação, o chá preto contém menores concentrações destas substâncias. O chá oolong, por sua vez, tem uma composição intermédia entre o chá verde e o preto. Para além das catequinas, o chá tem uma quantidade interessante de cafeína, que não é afetada pelo processo de fermentação. 
 
A combinação destas duas substâncias parece ter um efeito sinérgico que poderá ser interessante quando o objetivo é perder peso. A cafeína, por um lado, consegue modelar as concentrações de adrenalina, noradrenalina e AMP cíclico, havendo uma estimulação da oxidação lipídica e um aumento do gasto energético. As catequinas, por outro, para além de também modelarem as concentrações de noradrenalina (por um mecanismo diferente da cafeína), parecem interferir positivamente no metabolismo lipídico, diminuindo a absorção e aumentando a oxidação da gordura. 
 
Recentemente, uma meta-análise concluiu que a combinação destas 2 substâncias (cafeína e catequinas) levou a um aumento de 5% da energia despendida e de 16% da oxidação lipídica ao final de 24h. Apesar destes resultados parecem, à primeira vista, animadores, é importante referir que a grande maioria dos estudos utilizou dosagens de catequinas e de cafeína bastante elevadas. Em geral, uma chávena de chá verde (240mL) tem entre 88?113mg de catequinas e 10?80mg de cafeína. Os trabalhos que parecem ter mais efeito são aqueles que utilizaram 600mg de cafeína e 270?1200mg de catequinas.  
 
Devido ao conteúdo em cafeína, altas ingestões de chá verde poderão causar alguns efeitos secundários, nomeadamente irritabilidade, problemas de sono, tremores, palpitações, dores de estômago e náuseas. A ingestão de chá verde poderá, por outro lado, interagir com fármacos, nomeadamente a varfarina (anticoagulante) e poderá influenciar o estado nutricional, nomeadamente a absorção de ferro. 
 
Porém, outra meta-análise, que apenas incluiu estudos com uma duração de, pelo menos, 12 semanas de tratamento, concluiu que as preparações de chá verde não parecem induzir perdas de peso com expressão clinicamente relevante.  
 
Assim sendo, a ingestão de chá verde parece ter um efeito ligeiro sobre o dispêndio energético e oxidação lipídica e um efeito negligenciável sobre a perda de peso. Posto isto, é importante relembrar que estratégias como uma alimentação adequada e com uma restrição energética apropriada e controlada, e exercício físico ajustado ao objetivo são, definitivamente, melhores opções para quem pretende perder peso. Portanto, se pretende perder peso, invista o seu tempo e recursos em estratégias que realmente resultam, e adicione estas duas últimas (alimentação e exercício) às suas resoluções de ano novo!
 
*Mónica Sousa, nutricionista na componente desportiva, colaborou Federação Portuguesa de Atletismo. Foi nutricionista da equipa de futebol sénior do Vitória de Setúbal e colaborou com a Federação Portuguesa de Natação, entre outras modalidades. Doutoranda em Ciências do Desporto, especificamente na área de nutrição no desporto de alto rendimento 
 
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