Não digas às pessoas os sonhos que tens. Mostra-lhes. Foi com esta frase inspiradora que Carmen Jordá, espanhola de Alicante nascida em 1988, brindou os seus seguidores nas redes sociais a 17 de Fevereiro, nove dias antes de o seu nome ter sido confirmado pela Lotus como piloto de desenvolvimento daquela equipa da Fórmula 1. O segredo estava quebrado e já não era preciso estar a dizer o que queria. Bastava mostrá-lo. “Juntar-me à Lotus parece um sonho. Tenho andado neste mundo desde os dez anos, por isso o meu sonho foi conduzir um Fórmula 1 desde muito nova”, contou a filha de um antigo piloto.
Carmen Jordá preferiu ir mostrando o sonho que tinha durante a evolução enquanto piloto. A carreira começou era ainda muito jovem, na Fórmula Master Júnior, uma competição organizada pela família De Villota. Com o passar das épocas foi crescendo e somando novas oportunidades – foi terceira no campeonato da Comunidade Valenciana com apenas 12 anos e no ano seguinte, em 2002, concluiu o campeonato espanhol na sétima posição. Esteve quatro anos a viver noReino Unido e a competir em karts até regressar para disputar a Fórmula 3 espanhola – conseguiu três pódios e no segundo ano foi quarta classificada.
As aventuras repetiram-se e sempre com mudanças. Esteve nos Estados Unidos na American Indy Lights e em 2012 fixou raízes na Europa para correr pela Ocean Racing Technology, uma equipa da GP3 Series. Os resultados estiveram aquém do desejado. Tornou-se a primeira mulher a ocupar uma vaga na especialidade durante três anos consecutivos mas não foi além do 28.o lugar na temporada de estreia, fruto de um 13.o lugar alcançado. De resto, nunca subiu do 17.o posto de uma prova e terminou os anos no final da tabela. Também por isso o antigo colega de equipa Rob Cregan terá reagido tão mal à notícia recente. “Carmen Jordá nem sequer tem capacidade para revelar um rolo fotográfico, quanto mais para desenvolver um carro de Fórmula 1”, acusou no Twitter. A resposta veio numa entrevista ao jornal alemão “Bild”: “O mundo automóvel está cheio de invejas. Há poucos lugares na Fórmula 1 e só alguns o conseguem. O Rob está claramente com inveja de que eu esteja aqui e ele não. Desejo-lhe tudo de bom, é o que posso dizer.”
As críticas não afectam Carmen Jordá nem os responsáveis da escuderia britânica. O director geral da Lotus considera que Carmen “vai trazer uma perspectiva nova para a equipa”. Para já, o contributo da espanhola estará centrado nos testes de simulador, mais não seja porque a piloto ainda não tem a Super Licença requerida para conduzir um Fórmula 1. Mas participar em sessões de treino durante a época também está previsto. A filha do antigo piloto José Miguel Jordá, que já foi modelo e estudou marketing, não está preocupada e promete fazer tudo para justificar a aposta de uma equipa que também já apostou numa mulher no passado – María de Villota, em 2012. “É um grande passo saltar da GP3 para a Lotus. Sai-se de um sítio em que há seis ou sete pessoas para uma fábrica com 450”, assinalou, garantindo que as primeiras semanas servirão para aprender tudo o que possa. Até porque este não é o último capítulo. “É um passo muito grande rumo a meu objectivo. Vou trabalhar para melhorar como piloto e também para ajudar a equipa a desenvolver o carro. É uma oportunidade fantástica. Sei que é apenas o início e que o maior desafio está ainda por chegar, mas o facto de já fazer parte de uma equipa com uma história tão grande é uma verdadeira honra. É um grande feito mas uma oportunidade ainda maior, que vai levar a maiores e melhores coisas”, disse.
Carmen Jordá será uma das duas mulheres que fazem parte dos elencos das equipas da Fórmula 1– Susie Wolff está desde 2014 como piloto de desenvolvimento da Williams – e tentará, tal como a máxima que publicou a 17 de Fevereiro, provar que é mais importante mostrar os sonhos do que andar a contá-los. Para já, como aparece descrita na biografia da sua página na internet, é vista como um exemplo. “É inteligente, incrivelmente determinada e acredita que as mulheres têm direito a conquistar o seu lugar nos desportos motorizados como em qualquer outra modalidade mundial. É uma inspiração para as outras mulheres que lutam por um lugar numa equipa profissional e vai continuar a batalhar para alcançar os seus objectivos.” A atenção mediática é grande e terá oportunidade para responder às críticas na pista. Talvez um dia, antes de uma grande prova, a famosa frase tenha de ser alterada para se tornar um pouco maior: “Gentlemen – and lady –, start your engines.”