Eleito pelo voto popular, ficou conhecido por matar um homem num duelo de honra, por prosperar o suficiente para comprar escravos e erguer uma mansão, por derrotar os ingleses em Nova Orleães, o que lhe valeu o título de herói nacional; e pelo polémico episódio de 1830, data do Indian Removal Act, que resultou na expulsão da tribo Cherokee das suas terras, a leste do rio Mississippi. Uma marcha conhecida como Trilho das Lágrimas, que provocou a morte de 4 mil índios, e a mancha menos disfarçável do currículo, que agora lhe pode custar a vida na carteira dos seus compatriotas do século xxi. “Grandioso, complicado, imperfeito”, assim é descrito Andrew Jackson, sétimo presidente dos EUA, que governou o país entre 1829 e 1837, e a quem caberá ceder o lugar a uma senhora nas notas de 20 dólares se o presidente Barack Obama der seguimento à campanha Women on $20’s.
Para a organização sem fins lucrativos criada por Barbara Ortiz Howard, o objectivo é chegar ao ano de 2020 – que coincide com o centenário do sufrágio feminino, consagrado pela 19.a Emenda – com a introdução de uma heroína no papel verde, provando que elas podem valer tanto como eles – neste caso, muito mais do que o montante da face revela. E afinal, garante a equipa, proceder à mudança é bastante mais fácil que qualquer cruzada pelo direito de voto. “Com uma caneta, o presidente pode proceder a essa alteração no Secretariado do Tesouro. E Obama já expressou publicamente o seu interesse em ver mais mulheres nas notas. Com um mínimo de 100 mil votos, conseguimos chamar a atenção. São os nomes necessários para enviar uma petição à Casa Branca.”
Susan B. Anthony, numa rara moeda, e Sacagawea, na moeda de ouro, foram as únicas excepções num mundo dominado pela homenagem às façanhas dos líderes norte-americanos, casos de Thomas Jefferson, George Washington ou Abraham Lincoln, também apelidados de The Money Men. Excepções que tiveram vida breve e visibilidade limitada. A primeira partiu de uma decisão do presidente Jimmy Carter, em 1978, quando o tamanho das moedas de um dólar foi revisto – acabaram por ser confundidas com as moedas de 25 cêntimos. De resto, o protagonismo das mulheres no dinheiro resume-se a edições comemorativas.
“O processo de decisão e design de uma nova nota demora anos, portanto é uma boa altura para agir”, defende o site do projecto, apostado em lutar pela igualdade de género, que entretanto promove uma votação online. Mais de uma dúzia de historiadoras e académicas escolheram 30 nomes à altura do desafio. Neste leque, passaram à segunda ronda 15 candidatas. Agora é a vez de eleger as três mulheres que merecem disputar a finalíssima. O grupo espera ter novidades até no final de Março.
Alice Paul (1885-1977), advogada que chegou a fazer greve de fome a favor do voto feminino.
Betty Friedan (1921-2006), timoneira da segunda vaga do feminismo e autora do livro “Feminine Mystique”.
Shirley Chisholm (1924-2005), primeira afro-americana a garantir um lugar no Congresso.
Sojourner Truth (c. 1797-1883), analfabeta que conseguiu processar um branco para recuperar o seu filho.
Rachel Carson (1907-1964), perita em zoologia que expôs os perigos da utilização de pesticidas.
Rosa Parks (1913-2005), “a primeira-dama dos direitos cívicos”, que se recusou a oferecer o seu lugar no autocarro a um branco.
Barbara Jordan (1936-1996), primeira afro-americana eleita para o Senado do Texas.
Margaret Sanger (1879-1966), que popularizou a expressão “controlo da natalidade” e abriu a primeira clínica que promovia a contracepção.
Patsy Mink (1927-2002), primeira mulher de origem asiática a sentar-se no Congresso.
Clara Barton (1821-1912), pioneira dos cuidados de saúde que serviu na linha da frente da Guerra Civil.
Harriet Tubman (c. 1822-1913), que escapou à escravatura e ajudou a libertar 300 pessoas do jugo senhorial.
Frances Perkins (1880-1965), opositora do trabalho infantil que se bateu pelo salário mínimo.
Susan B. Anthony (1820-1906), uma voz empenhada no sufrágio feminino.
Eleanor Roosevelt (1884-1962), a revolucionária que transformou o papel da primeira-dama, usando os microfones da rádio e as colunas dos jornais para defender a paridade.
Elizabeth Cady Stanton (1815-1902), “génio fundador” dos movimentos femininos.