Uber. Fizemos um jejum de táxis e até andámos de Jaguar

Uber. Fizemos um jejum de táxis e até andámos de Jaguar


Esquecemos os táxis durante uns tempos e usámos a aplicação de carros privados que chegou a Lisboa no Verão passado e tem cada vez mais fãs. Nada será melhor do que experimentar mas, enquanto não o faz, contamos-lhe o que descobrimos.


Um Jaguar. Estamos no Casal Ventoso – enfim, não nos vamos alargar muito sobre o que estávamos aqui a fazer – e eis que um Jaguar reluz na Rua Maria Pia acabado de chegar. “Os vizinhos vão pensar que sou rica e assaltar-me a casa”, diz alguém ao nosso lado. “Mas não chamaste um UberX?”

Um motorista impecavelmente engomado sai do Jaguar para nos abrir a porta e entramos depressa, para não dar muito nas vistas. O destino podia ser o Gambrinus ou qualquer outro restaurante à altura de tal veículo, mas contentamo-nos com a Padaria do Povo, essa instituição onde três baldes de minis de cerveja dão direito a bilhetes para o Benfica.

“A temperatura está do vosso agrado?”, pergunta o motorista. Está tudo do nosso agrado e até cheira a novo, imagine–se. A viagem é quase mais rápida que o tempo que demoramos a responder e no fim 2,5 euros é o preço que pagamos por andar num Jaguar. Nada de dinheiro, apenas uma factura que recebemos no email com o trajecto e o valor é descontado no cartão de crédito. Antes disso há que dar estrelas à viagem, de um a cinco, como nas críticas de filmes. Cinco, melhor que “Taxi Driver” – e mais houvesse.

Não pense que quando chamar um Uber vai ter a mesma sorte. Aliás, em conversa com outro motorista com ar de ter acabado de sair da faculdade, percebemos que o Jaguar é raríssimo de apanhar – mais ainda quando se pede um UberX. “Às vezes não há carros UberX [os mais baratos, em que as viagens começam nos 2,5 euros] e os UberBlacks [os de luxo, em que se inclui o Jaguar e que começam nos 8 euros] têm de fazer o serviço dos outros.”

É quase como ver uma estrela cadente. E se quiser até pode começar a pedir desejos, nunca se sabe quando vai ter sorte.

O nosso jejum de táxis não custa nada. Aliás, as primeiras viagens de Uber não custam mesmo nada. Assim que se instala a aplicação do Uber há a possibilidade de inserir um código promocional que algum amigo lhe vai dar e a partir daí são 10 euros de viagens grátis – para si e para ele. Uma estratégia de marketing perfeita para angariar clientes, que prometem ser cada vez mais em Lisboa e no Porto. 

Outro dos incentivos da aplicação que faz concorrência aos táxis desde Agosto do ano passado foi oferecer almoços de sushi grátis durante dois dias. Espertos. Mas não tivemos a sorte de conseguir que nos entregassem uma caixinha, já que a procura de carros foi muita – para quando um gin tónico ao domicílio? Aliás, em hora de ponta é cada vez mais difícil encontrar um Uber. Nessas alturas os preços são “dinâmicos” e as tarifas aumentam e chegam a 1,3 vezes mais que o valor normal.

“Foi dos preços dinâmicos que ouvi um cliente queixar-se”, confessa-nos outro motorista, que outrora diz ter sido director de uma empresa farmacêutica. “Tenho diabetes e entrei na pré-reforma, mas estava tão cansado de não fazer nada em casa que fui às sessões de recrutamento e agora trabalho no meu carro quando quero.” Também já apanhámos um antigo jogador de básquete profissional e é comum calhar-nos o mesmo motorista várias vezes seguidas. Conseguimos reconhecê-los graças às fotografias e ao nome na aplicação e até podemos entrar em contacto antes de chegarem: “Olhe, senhor Eugénio, afinal estou mais abaixo, no número 38.”

“Estes senhores são aqueles que nos levam as compras a casa?”, pergunta alguém impressionado com o serviço. Não são, mas só falta mesmo isso. Até a música podemos escolher no carro e ligar o Spotify Premium. É fácil viciarmo-nos nos Ubers (em Nova Iorque, por exemplo, já há mais Ubers que táxis amarelos), mas também é fácil perceber que, à semelhança do que tem acontecido noutros países, não há-de faltar muito para que a guerra entre taxistas e Ubers estale.

Só quebrámos a promessa uma vez neste mês e procurámos um táxi quando estávamos mais que atrasados e – tragédia – não havia sinal de Ubers nas redondezas, pelo menos assim dizia o mapa do iPhone. “Rádio Táxis, bom dia?” Lá vem o taxista a caminho e mal sabe ele que está a ser avaliado com os olhos de quem tem andado no banco de trás de “carros privados”. “Devia-me ter dito antes que era para ir para baixo, agora vou ter de virar aqui, já viu?” Mau, começamos mal. Onde é que posso mesmo dar estrelas a este senhor?