Escrutínio e Democracia


Um escrutínio transparente da idoneidade ética de quem pretende exercer ou exerce funções políticas é fundamental para assegurar a confiança dos eleitores nos seus representantes.


Os recentes acontecimentos relacionados com nomeações feitas para o exercício de responsabilidades públicas que não foram atempadamente avaliadas em todas as suas implicações e dimensões e se transformaram em polémicas que conduziram a demissões e mudanças no elenco governativo, trouxeram para a boca de cena do debate em Portugal a questão do escrutínio ético das escolhas e dos desempenhos políticos.

Os fatores que vêm corroendo as democracias em todo o mundo são múltiplos e complexos. Centenas de livros têm sido publicados sobre o tema. A aceleração tecnológica e a transformação dos ecossistemas, incluindo o ecossistema mediático, as redes sociais e a proliferação de notícias falsas, colocam novos desafios a que os regimes democráticos, pela sua natureza plural e transparente, têm tido mais dificuldade em responder que os sistemas iliberais, fechados e autocráticos.

Neste contexto, um escrutínio transparente da idoneidade ética de quem pretende exercer ou exerce funções políticas é fundamental para assegurar a confiança dos eleitores nos seus representantes. Quanto mais capaz de diferenciar esferas de vida, rastrear manipulações grosseiras ou chantagens e antecipar erros de avaliação for esse escrutínio, melhor será o seu contributo para aumentar a capacidade de atrair os melhores para o serviço público, de forma continuada ou em contributos pontuais, sem gerar gargalos limitadores do bom recrutamento.

A experiência do dia a dia mostra-nos que o campo de recrutamento para o exercício de funções políticas de elevada responsabilidade é mais aberto nos jovens que tem a motivação e a ambição para fazer essa escolha e naqueles que tendo feito um percurso profissional fora dos holofotes já atingiram um estatuto que torna essa opção uma forma de serviço público complementar.

No meio termo fica uma panóplia de gente de grande qualidade que por insuficiência das condições práticas oferecidas, designadamente de condições remuneratórias competitivas e de garantias à proteção do seu bom nome e da sua esfera privada, participa civicamente na vida política, mas se escusa sistematicamente a desempenhar funções na esfera pública, em particular funções de elevada exposição mediática.          

Para contrapor a corrosão da democracia que resulta diminuição da base de escolha daqueles que se predispõem a servi-la enquanto mandatários das opções dos cidadãos,  é fundamental fixar códigos de boas práticas que tornem o escrutínio um fator de valorização pessoal e de reconhecimento social dos que o merecem, e não um fator dissuasor dos que não tendo nada a esconder, receiam ver a sua reputação destruída por  parangonas com base em noticias fabricadas pelas centrais de manipulação que vão crescendo nos terrenos democráticos como cogumelos.  

Quem defende a democracia tem a obrigação ética de protegê-la dos que a querem corroer e destruir. Sem confusão de papeis, os atores democráticos têm todos ganhar com uma cooperarão ativa para salvaguardar o regime que Churchill designou como “o pior … à exceção de todos os outros”.  Aproveitemos o momento para debater e agir. A democracia agradece.

 

 

Escrutínio e Democracia


Um escrutínio transparente da idoneidade ética de quem pretende exercer ou exerce funções políticas é fundamental para assegurar a confiança dos eleitores nos seus representantes.


Os recentes acontecimentos relacionados com nomeações feitas para o exercício de responsabilidades públicas que não foram atempadamente avaliadas em todas as suas implicações e dimensões e se transformaram em polémicas que conduziram a demissões e mudanças no elenco governativo, trouxeram para a boca de cena do debate em Portugal a questão do escrutínio ético das escolhas e dos desempenhos políticos.

Os fatores que vêm corroendo as democracias em todo o mundo são múltiplos e complexos. Centenas de livros têm sido publicados sobre o tema. A aceleração tecnológica e a transformação dos ecossistemas, incluindo o ecossistema mediático, as redes sociais e a proliferação de notícias falsas, colocam novos desafios a que os regimes democráticos, pela sua natureza plural e transparente, têm tido mais dificuldade em responder que os sistemas iliberais, fechados e autocráticos.

Neste contexto, um escrutínio transparente da idoneidade ética de quem pretende exercer ou exerce funções políticas é fundamental para assegurar a confiança dos eleitores nos seus representantes. Quanto mais capaz de diferenciar esferas de vida, rastrear manipulações grosseiras ou chantagens e antecipar erros de avaliação for esse escrutínio, melhor será o seu contributo para aumentar a capacidade de atrair os melhores para o serviço público, de forma continuada ou em contributos pontuais, sem gerar gargalos limitadores do bom recrutamento.

A experiência do dia a dia mostra-nos que o campo de recrutamento para o exercício de funções políticas de elevada responsabilidade é mais aberto nos jovens que tem a motivação e a ambição para fazer essa escolha e naqueles que tendo feito um percurso profissional fora dos holofotes já atingiram um estatuto que torna essa opção uma forma de serviço público complementar.

No meio termo fica uma panóplia de gente de grande qualidade que por insuficiência das condições práticas oferecidas, designadamente de condições remuneratórias competitivas e de garantias à proteção do seu bom nome e da sua esfera privada, participa civicamente na vida política, mas se escusa sistematicamente a desempenhar funções na esfera pública, em particular funções de elevada exposição mediática.          

Para contrapor a corrosão da democracia que resulta diminuição da base de escolha daqueles que se predispõem a servi-la enquanto mandatários das opções dos cidadãos,  é fundamental fixar códigos de boas práticas que tornem o escrutínio um fator de valorização pessoal e de reconhecimento social dos que o merecem, e não um fator dissuasor dos que não tendo nada a esconder, receiam ver a sua reputação destruída por  parangonas com base em noticias fabricadas pelas centrais de manipulação que vão crescendo nos terrenos democráticos como cogumelos.  

Quem defende a democracia tem a obrigação ética de protegê-la dos que a querem corroer e destruir. Sem confusão de papeis, os atores democráticos têm todos ganhar com uma cooperarão ativa para salvaguardar o regime que Churchill designou como “o pior … à exceção de todos os outros”.  Aproveitemos o momento para debater e agir. A democracia agradece.