Ponto prévio. Escrevo esta crónica às 18 horas de terça-feira e tenho algumas dúvidas de que quando este jornal chegar às bancas a secretária de Estado do Tesouro, Alexandra Reis, ainda esteja em funções. Se existir algum pingo de vergonha nos atores desta peça miserável, assim será.
Não se pode pedir sacrifícios a uma população e depois permitir que alguém desempenhe altos cargos públicos depois de ter ganho uma indemnização astronómica de uma empresa… do Estado. Se Alexandra Reis tivesse sido despedida da TAP e tivesse seguido o seu caminho no privado, apenas estaríamos perante as leis do mercado. Mas não foi o caso, e ainda está por se apurar se a mesma se despediu ou foi despedida. Isto numa empresa que é um autêntico sorvedouro de dinheiros públicos. Fará assim algum sentido manter uma secretária de Estado que faz parte desse sorvedouro? Não me parece.
Lamentável é que ninguém soubesse deste facto, já que o ministro das Infraestruturas, que tutela a companhia aérea, e o das Finanças, o gabinete que assina os cheques, pedem agora explicações à TAP. Como diria o outro, isto está tudo maluco. Não seria normal que a chamassem aos seus gabinetes e lhe pedissem imediatamente explicações? O mesmo com os responsáveis da TAP, mas estamos em Portugal, onde tudo é possível, no que diz respeito à falta de transparência dos dinheiros públicos.
A cereja em cima do bolo surgiu agora com o reconhecimento do primeiro-ministro de que só sabe que nada sabe. Extraordinário, mais uma vez. Então o Correio da Manhã deu a notícia no final da semana passada e só ontem é que António Costa vem dizer ao mundo que não sabia de nada? Ou a incompetência é dos seus ajudantes, leia-se ministros, ou é sua. Não há outra forma de ver o problema, pelo menos para mim.
Mas, como disse, tudo é possível em Portugal. Em novembro, eu, à semelhança de milhares de portugueses, recebi uma notificação da Via Verde para ir trocar de identificador, pois o mesmo estaria com problemas, já que tinha tido “falhado” ao passar em portagens. Estranhei, até porque nunca vi nenhuma anomalia, fosse nas portagens ou nos parques de estacionamento. Pensei que podia ser alguma manha de piratas informáticos e não liguei, até porque o identificador continuava a funcionar. Mas eis que as queixas chegam aos jornais e, afinal, tudo não passou de algum engano dos milhares de automobilistas, pois a empresa garante que ninguém é obrigado a mudar o que está bom. Extraordinário, mais uma vez. Mais de 50 mil automobilistas mudaram de identificador em novembro último, contra 12 mil no ano transato, mas está tudo certo. Estamos em Portugal e ninguém leva a mal…