O presidente do governo da região espanhola da Catalunha, Pere Aragonès, reafirmou hoje o "compromisso com a independência", no dia em que tomaram posse novos elementos do executivo, após a rutura da coligação independentista formada em 2021.
Aragonès, do partido Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), garantiu que mantém o seu "compromisso com a independência da Catalunha" e "com mais força do que nunca", prometendo continuar a "trabalhar passo a passo" com esse objetivo, o que passará pela realização de um referendo, para a região "decidir sobre o seu futuro", negociado com as autoridades espanholas.
O presidente do Governo regional falava em conferência de imprensa no final da primeira reunião do executivo catalão remodelado e garantiu que trabalha "para toda a Catalunha", não apenas do ponto de vista "ideológico", mas também social e económico, em resposta a uma pergunta de um jornalista que sublinhou que mais de metade dos catalães não apoia a independência da região neste momento, embora cerca de 80% defendam um referendo, segundo as sondagens mais recentes.
Aragonès afirmou que hoje se inicia uma "nova etapa" no governo catalão, mas que mantém as suas prioridades e o "guião da legislatura", iniciada em maio de 2021, e que passa, em primeiro lugar, por responder "às urgências do momento", relacionadas com as consequências sociais, económicas e ambientais da guerra na Ucrânia e da inflação.
Em segundo lugar, está a possibilidade de a Catalunha "decidir sobre o seu futuro" e tornar-se um "estado independente", reconhecido por todas as instâncias, afirmou.
A prioridade imediata é aprovar o orçamento regional de 2023 no parlamento catalão, onde a ERC só tem 33 dos 135 deputados, os mesmos que o Partido Socialista (que até teve mais votos nas eleições de 2021) e apenas mais um do que o Juntos pela Catalunha (JxCat), o partido também independentista que na semana passada decidiu abandonar a coligação no governo, por discordar do caminho a seguir rumo à independência catalã.
Aragonès decidiu fazer uma remodelação e tentar governar em minoria, procurando acordos parlamentares.
Hoje reiterou que é isso que vai fazer e que espera contar com "acordos amplos", que envolvam os partidos que apoiaram a sua tomada de posse (ERC, JxCat e Candidatura de Unidade Popular – CUP, todos independentistas).
De fora do discurso de Aragonès ficou o Partido Socialista, o mais votado nas últimas eleições e que já disse não pretender derrubar o executivo neste momento, que considera que deve ser de estabilidade, e que até mostrou disponibilidade para aprovar o próximo orçamento regional, atendendo a que estão em causa verbas importantes para responder à crise atual.
Após a rutura com o JxCat, o partido do ex-presidente do governo regional Carles Puigdement, protagonista da declaração de independência de 2017, o executivo de Aragonès passa a ter, a partir de hoje, só conselheiros (ministros regionais) da ERC e independentes que já fizeram parte do partido socialista, dos independentistas da Convergência Democrática da Catalunha (CDC, que hoje integra o JxCat) e do Podemos, a formação de esquerda que está na coligação do Governo de Espanha.
ERC e JxCat são dois partidos independentistas, mas a Esquerda Republicana da Catalunha é mais moderada e defende que o caminho para a independência deve ser o do diálogo com o Governo central de Espanha.
O Governo espanhol, liderado pelo socialista Pedro Sánchez, tem o apoio, no Congresso dos Deputados (o parlamento nacional), da ERC, e aprovou, em junho de 2021, indultos para nove líderes independentistas catalães que estavam a cumprir penas de prisão por causa da declaração unilateral de independência e a realização do referendo de 2017.
Poucos dias depois dos indultos, o Governo espanhol e o executivo regional catalão anunciaram o reatamento do diálogo "sobre o conflito político entre os dois governos", nas palavras de Aragonès.