Não é todos os dias que temos oportunidade de ver lendas ao vivo, mas o Kalorama, que aconteceu no Parque da Bela Vista, em Lisboa, decidiu que no primeiro dia de existência deste festival ia oferecer isso aos seus espectadores
Com os óculos na cara para presenciar o espetáculo 3D (mesmo que nem todos tivessem, na entrada explicaram que a “reserva” já tinha acabado, e tivessem que ser os seguranças do palco a oferecer a meio do espetáculo), a audiência que se encontrava no palco Colina, o segundo maioríssimo palco do festival, teve direito a uma aula de história da música em direto com o concerto do influente grupo alemão Kraftwerk.
Um dos primeiros grupos de música eletrónica do mundo e também um dos principais impulsionadores deste estilo, os alemães, aliados por um pulsante sistema que fazia tremer o corpo e por uma projeção de imagens que, apesar da sensação de que os seus efeitos 3D podiam estar mais adequados aos tempos atuais, ofereceram um dos mais memoráveis concertos que Portugal recebeu em 2022.
Apesar das músicas já existirem à largas décadas, é impressionante perceber como as suas melodias continuam intemporais e capazes de captar uma audiência enquanto esta continua cativada pelo jogo de luzes e as imagens projetadas pelos alemães.
Mesmo que o som nem sempre tenha estado perfeito durante a sua atuação, a pujança de clássicos como Tour de France, Radioactivity ou The Robots continua a cativar audiências como se tivessem sido criadas há cinquenta dias e não há quase cinquenta anos.
No final do concerto, cada membro do grupo abandonou o palco à vez, deixando, no fim, apenas Ralf Hütter, o único membro fundador do grupo ainda vivo, para receber uma enorme e merecida ovação do palco.
Enquanto os Kraftwerk estavam a atuar, o grupo de DJ’s belgas, 2manydjs, que deveriam atuar com o canadiano Tiga, abandonaram o palco minutos depois de terem começado a sua atuação, que começou por volta das 22h10, 10 minutos depois dos alemães terem começado o seu concerto, assim como o frontman dos Scissors Sisters, Jake Shears, que esteve no palco Futura.
A organização do festival, que pertence à responsabilidade da promotora portuguesa, House of Fun, e da espanhola, Last Tour, disse que “devido a conflitos de som entre os palcos MEO e Colina, fomos obrigados a interromper a atuação dos 2manydjs b2b Tiga. Pedimos desculpa pelo inconveniente e prometemos tê-los na próxima edição", numa nota enviada à imprensa.
Mas os Kraftwerk não foram as únicas lendas a atuar no Kalorama, a com o mais recente festival de verão português a acolher um dos mais importantes grupos de música eletrónica dos anos 1990, os Chemical Brothers no seu maior palco.
Apesar do som baixo (as colunas mais afastadas do palco não estavam com o volume adequado para oferecer a mesma pujança com que ouvimos clássicos como Hey Boy Hey Girl ou Got To Keep On em casa) e do declive do recinto nem sempre nos permitir observar o espetáculo que estava a ocorrer em cima de palco (onde estiveram dois robots gigantes que nem sempre eram visíveis), os ingleses conseguiram contagiar grande parte da sua audiência que respondiam com danças eufóricas, independentemente da distância a que estivessem do palco.
Quem também marcou presença no festival, mas que não foram tão eficazes no seu set foi James Blake, com a sua eletrónica que ora roçava o contemplativo como às vezes incorporava elementos de hip-hop mais efusivo, ou a cumbia eletrónica e moderna dos Bomba Estéreo, que deixaram no ar que poderiam ter tido concertos onde o público iria aderir mais à sua música caso tivessem atuado mais tarde e não quando o sol ainda estava a irradiar no céu.
Para além destes grupos, atuaram ainda artistas como Rodrigo Leão, Years & Years, Xinobi ou Moderat.
O festival continua amanhã, sexta-feira, dia 2 de setembro, e conta como a maior atração do dia os britânicos, Arctic Monkeys.
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