A morte do último líder da União Soviética, Mikhail Gorbachov, despertou reações por parte de todo o mundo, até daquele que tem sido apontado como um dos maiores vilões da geopolítica atual.
“Mikhail Gorbachov foi um político e estadista que teve um enorme impacto no curso da história global”, escreveu o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, no Telegram, uma mensagem “cuidadosamente redigida”, descreve o Guardian, nomeadamente na forma como é abordado o legado de Gorbachev, deixando de fora críticas mais diretas que o líder russo fez no passado sobre as decisões que levaram à queda da União Soviética.
“Gorbachov liderou o nosso país durante um período de transformações complexas e dramáticas e extensos desafios políticos, económicos e sociais estrangeiros. Ele tinha uma compreensão profunda da necessidade de reformas e procurou propor as suas soluções para os problemas prementes”, pode ler-se na mensagem que foi, entretanto, publicada também no site do Kremlin.
Putin e Gorbachov partilhavam um relacionamento tenso, com o Presidente russo a chamar a queda da União Soviética como “a maior catástrofe geopolítica do século” e Gorbachov a acusar Putin de reverter reformas democráticas e reintroduzir elementos de repressão que às vezes lembram a era soviética.
O falecido ex-líder da União Soviética é uma figura divisiva no país. Ainda assim, não deverá ter direito a um funeral de Estado, segundo fontes ouvidas pela agência de notícias russa independente Interfax.
Mas não foi apenas Putin e os seus aliados que lamentaram a morte do político e estadista. Uma das principais figuras da oposição russa, Alexei Navalny, que se encontra atualmente preso, destacou que Gorbachov “deixou o poder pacificamente e voluntariamente, respeitando a vontade dos eleitores”.
“Só isso é uma grande conquista pelos padrões da ex-URSS”, pode ler-se numa mensagem divulgada pelos seus colaboradores, acrescentando que Gorbachov também “libertou os últimos prisioneiros políticos” na era soviética.
“Um mundo mais seguro” Outros líderes mundiais expressaram o seu pesar, como o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que lamentou a morte de um “homem de visão extraordinária”.
“O resultado foi um mundo mais seguro e mais liberdade para milhões de pessoas”, escreveu o Presidente americano, que recordou a conversa com o ex-líder soviético durante a sua visita à Casa Branca em 2009, quando era vice-Presidente, na qual discutiram os esforços dos EUA e da Rússia para reduzir os arsenais nucleares.
Já o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, que ainda está no poder depois de ter sido demitido, confessou estar “entristecido” por saber da morte do político russo.
“Sempre admirei a coragem e integridade que Gorbachov mostrou ao conduzir a Guerra Fria a uma conclusão pacífica. Nestes tempos, da agressão de Putin na Ucrânia, é importante recordar o seu inesgotável compromisso para abrir a sociedade Soviética como um exemplo para todos”, cita a Reuters.
Também recordando a “tragédia da invasão da Ucrânia por Moscovo”, o primeiro-ministro italiano Mario Draghi saudou a oposição de Gorbachov a “uma visão imperialista da Rússia” e o seu desejo de paz, que lhe valeu o Prémio Nobel.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, lamentou a morte do ex-governante e, numa frase com algumas referências aos tempos atuais, elogiou-o por ser “um homem de paz cujas escolhas abriram um caminho de liberdade aos russos”.
O chefe do Governo espanhol, Pedro Sánchez, disse que Gorbachov “contribuiu de forma decisiva para o fim da Guerra Fria e para fazer da Europa, e do mundo, um lugar com mais paz e liberdade”.
A ex-chanceler alemã Angela Merkel (2005-2021), que cresceu na antiga República Democrática Alemã, no outro lado do Muro de Berlim que Gorbachev ajudou a derrubar, disse que o antigo líder soviético mudou a sua vida.
“Nunca o esquecerei”, afirmou sobre o homem que, na sua opinião, mostrou “como um estadista pode mudar o mundo para melhor”.
A antiga líder dos conservadores alemães considerou que sem a coragem de Gorbachov, a “revolução pacífica na RDA não teria sido possível”.
“Que a memória do seu desempenho histórico permita fazer uma pausa, especialmente nestas terríveis semanas e meses de guerra da Rússia contra a Ucrânia”, acrescentou.
O sucessor de Merkel, o social-democrata Olaf Scholz, recordou Gorbachov como um “reformador corajoso” que tornou possível a tentativa de estabelecer uma democracia na Rússia.
Gorbachov morreu numa altura “em que não só a democracia falhou na Rússia” como também Moscovo e Putin “estão a cavar novas trincheiras na Europa e iniciaram uma terrível guerra contra um país vizinho, a Ucrânia”, referiu o chanceler alemão.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da China elogiou esta quarta-feira Mikhail Gorbachov pela sua participação na melhoria dos laços entre Pequim e Moscovo nas décadas de 1980 e 1990.
“Mikhail Gorbachov teve contributos positivos na normalização das relações sino-soviéticas”, realçou o porta-voz do ministério, Zhao Lijian. “Lamentamos a sua morte e expressamos as nossas condolências à família”, acrescentou.
Além destes líderes mundiais, muitos outros políticos, do passado e do presente, expressaram as suas condolências, como o primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, o Presidente irlandês, Micheal Martin, a Presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola e o ex-primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi.
Os chefes de organizações internacionais também deixaram as suas devidas homenagens. António Guterres referiu-se a Gorbachov como um “imponente líder global”.
“Ele fez mais do que qualquer outro indivíduo para trazer o fim pacífico da Guerra Fria”, disse Guterres.
O ex-líder da União Soviética Mikhail Gorbachov morreu esta terça-feira em Moscovo aos 91 anos.